Três meses depois…
Qual a probabilidade de eu me atirar pela janela e chegar ao estacionamento antes de a porta do elevador abrir sem morrer?
São dezoito andares. Pouco mais de 52 metros da calçada. Há potencial para uma bela queda livre.
Será que eu quebraria alguns ossos? Seria o de menos se cumprisse com meu horário.
— Seu café — diz Kall.
Sua voz me faz tencionar. Termino de ajeitar a camisa dentro da saia antes de tomar coragem para me virar para ele.
— Tudo bem se atrasar um dia — murmura ele, se aproximando, com a voz suave.
Mas seu tom, por mais cauteloso e carinhoso, ainda me fere como se fosse os cacos de vidro da jarra ridícula que comprei há algumas semanas para agradar sua mãe, que acabei de quebrar na sala de estar.
— Sabe que se eu me atrasar corro o risco de perder o cliente — resmungo, como se fosse uma adolescente mimada, e não a adulta de 30 anos que sou.
Ele se aproxima ainda mais e coloca a garrafa térmica em minha mão. Quando penso que vai se afastar e me deixar respirar, ele segura em minha cintura e me puxa para perto de seu corpo. Acho que esqueço de obrigar meu coração voltar a bater, porque sinto que posso desmaiar a qualquer momento. Olho para ele e me pergunto se o brilho de admiração em seu olhar é consequência de estar tendo um bom dia ou se está expectante com a droga da minha ovulação de novo. Faz dez minutos que acordamos e ele já transformou meu dia — minha semana — numa droga.
Roçando o nariz no meu, ele sussurra com os lábios colados nos meus:
— Que tal jantarmos naquele restaurante que você ama?
Não. Negativo. Incorreto. Nunca. Jamais. De jeito nenhum. De forma alguma. Tô fora.
Em vez disso:
— Ah, claro.
Kall sorri pressionando os lábios nos meus, os dedos apertando meu corpo contra o seu. Suspeito que, caso não fosse reservado, ele me encostaria na parede e enfiaria sua semente em mim aqui mesmo. Então esperaria para ver se a terra foi fértil dessa vez ou teria de esconder sua decepção com turnos longos e intermitentes para não descontar sua frustração em mim.
Quando se deu por satisfeito, ele, por fim, encerrou o beijo superficial e prendeu uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Vou fazer a reserva para às 19h.
A porta do elevador abre atrás de mim.
— Eu… — digo, franzindo o cenho. — Preciso passar no apartamento da Khai. Depois do trabalho.
Seus olhos me observam atentamente enquanto ele faz que sim com a cabeça. Lembro que sua quietude me fascinava no começo, que foi por isso que aceitei seu convite para sair depois da quinta tentativa. Ele não era como os outros homens com quem já me relacionei, não. Khalil é quieto, profundo, observador e atencioso. Depois de todas as agitações em minha vida — desde relacionamentos a fodas casuais —, pensei que havia encontrado o cara que me entendia e traria paz. O homem com quem eu teria meus filhos e sossegaria. É irônico olhar para trás e sentir falta de como sua quietude de três anos atrás me fascinava. Sinto que estamos afundando no nosso dilema a cada dia mais e mais.
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The Running Backs _ Livro 2 [DEGUSTAÇÃO]
RomancePadrões existem para serem quebrados. Os tablóides estão, mais uma vez, enlouquecidos. Mas, desta vez, o foco das repercussões mudou: Aidren e Simon estão estampados em todas as bancas de jornais e revistas com fotos que insinuam um clima romântico...