Capítulo I

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— Acham que devemos acordá-lo?

— Não podemos deixá-lo dormir para sempre.

— Não é como se ele fosse dormir para sempre de fato, Rabicho.

— Não sei... Ele está respirando?


E mesmo que quisesse dormir para sempre, como poderia quando três matracas se reuniam ao redor do seu leito para decidirem, naquele inquérito importantíssimo, se Remus Lupin tinha direito ao sono? Precisava relevar daquela vez. Respirar fundo, engolir os palavrões na ponta da língua e imaginar que o mau humor era apenas uma premissa daquela primeira lua cheia do mês. Podia (tentar) controlar...

Era também o seu aniversário e talvez fosse rude destratar os amigos se eles quisessem lhe fazer um agrado, mesmo tendo deixado claro que não havia nada de especial naquela data. Pelo contrário. Era fúnebre para ele comemorar os dezesseis anos com a lua cheia à espreita.

Abriu os olhos para deparar-se com Peter, James e Sirius praticamente debruçados em sua cama, três pares de olhos despertos sobre si. Estava pronto para se encolher, esquivar-se dos abraços, mas coisa grandiosa nenhuma aconteceu.

— Acordado, ótimo! — Sirius apanhou a capa da Grifinória estendida no pé da cama, jogando-a sobre ele — Vista-se. Café da manhã.

Como se pudesse perambular pelo castelo vestindo somente uma capa.

Sentou-se na cama devagar, observando os outros três agora dispersos, terminando de se vestir. Sem risos, sem abraços, sem felicitações. E, em silêncio, Remus precisou fazer o mesmo - calça, camisa, gravata, tênis e capa - enquanto os olhos, vezes por outra, se voltavam aos amigos. Continuou a observá-los no caminho para o Salão Principal. Falavam sobre coisas supérfluas, assuntos que não cabiam em uma manhã de aniversário, respeitando mais do que o normal o seu silêncio.

Quando Remus lhes havia dito que o dia não era deveras especial, não era para dar a eles carta branca para ignorá-lo. Mas com os marotos era assim. Oito ou oitenta. Ou teria uma grande festa ou não teria nada, sem meios termos. Não sabia o que odiava mais.

Com as mãos metidas dentro do bolso da calça, sentiu um pequeno embrulho tiquetaquear em sua palma. O coração tão logo se aqueceu, inevitavelmente. Discreto, tirou do bolso o presente e leu no papel os dizeres de caligrafia delicada:

"Feliz aniversário.

Faça bom uso.

Lily Evans".

Dentro, um relógio. Ao invés de dois, ele tinha quatro ponteiros que, em dupla, giravam no sentido horário. Em volta dele, dois anéis dourados. Peculiar. Simples. Nenhum grande escarcéu, mas algo!

— Ih, Aluado tem um admirador secreto! — Sentia James lhe cutucar, ao que revirava os olhos.

— Não enche o saco!


Na mesa da Grifinória, serviu-se de torradas e suco de maracujá. Geralmente tomava café, mas a cafeína só fazia aumentar a ansiedade. Encheu o copo com cubos de açúcar e ainda assim parecia ácido demais. Não deixou de tomar e enquanto tentava se concentrar nas atividades do dia, observou as primeiras corujas sobrevoarem a mesa do café, automaticamente cobrindo a comida enquanto os pássaros entregavam suas encomendas aos donos.

Estelar, a coruja Lupin, deixou cair sobre o seu colo a edição de 10 de março de 1967 de O Profeta Diário, junto a dois envelopes, cartas de aniversário dos pais. Ignorou-as, abrindo o jornal e deparando-se com a manchete indigesta: novos ataques a vilarejos trouxas, oblivações, ascensão das trevas. Mudou para a sessão de entretenimento. A seu lado, Sirius se inclinava para verificar o quadro esportivo, mas tão logo se afastava, visto a aproximação de um terceiro, parado inconvenientemente diante da mesa vermelha e dourada.

Happy death day, moonyOnde histórias criam vida. Descubra agora