O relógio marcava 13:43 quando uma brasileira resolveu entrar numa sorveteria em Milão, Itália. Era primavera na "capital da moda" e o sol revelava parte da sua luz, impedido de se mostrar por completo pelas nuvens que insistiam em tomar conta do céu. Os cabelos da moça voavam com o vento, sua pele brilhava como um diamante exposto à luz de uma lâmpada fluorescente. Sua boca e seu nariz estavam tampados pela máscara que era obrigatória devido à pandemia e a qual esquentava ainda mais o seu rosto. Por isso, decidiu que merecia um sorvete para amenizar o calor que sentia por debaixo do pano.
Ela se aproximou com calma da fachada do estabelecimento. Ao entrar na gelateria, se deparou com um ambiente agradável e bem decorado. As paredes feitas de pequenos tijolos davam um ar mais caseiro ao local, os quadros pendurados mostravam paisagens italianas e imagens convidativas de gelatos de sabores variados. Mais à frente, a moça avistou um quadro negro localizado atrás dos atendentes com a lista de sabores e preços escritos com giz de cera. Ela aproveitou que a fila estava extensa para escolher o seu sabor com mais calma. Seus olhos viajavam pela lista e sua expressão revelava a vontade de pedir um pouco de todos para provar, porém, depois de alguns minutos, decidiu que escolheria um copo médio com um pouco de gelato de chocolate belga e uma outra colherada sabor pistache.
Seus pensamentos sobre o seu pedido foram interrompidos pelo cliente que estava à sua frente na fila. Um homem alto com cabelo castanho escuro levemente bagunçado tentava se comunicar com o atendente em inglês, porém o rapaz de avental atrás do balcão tinha dificuldade para entender:
— Non parlo inglese, signore! — disse o rapaz, constrangido.
— Mi scusi, esqueci minha carteira. — disse o cliente um pouco agitado e ainda de costas para a brasileira.
Naquele momento, a moça se sentiu mal pelo cara e resolveu ajudar:
— Com licença, senhor. Posso pagar para você? — disse encostando sua mão levemente no ombro do homem. Quando ele sentiu o toque, se virou e olhou nos olhos da moça atrás de si. De repente, o rapaz suavizou o seu olhar e abriu um leve sorriso debaixo da máscara.
— O-oi! Não precisa, eu volto para o hotel e busco minha carteira. — as linhas de expressão nos cantos dos olhos do homem se estreitaram revelando um sorriso mais aberto.
— Não se preocupe, eu pago para você, não é nada. — a brasileira respondeu com uma expressão de surpresa ao vê-lo com mais clareza. Ela sabia que o conhecia de algum lugar, mas não podia arriscar dizer naquele momento. Se aproximou do balcão e o chamou consigo — Qual sabor você vai querer?
— Hmm, uma casca pequena com gelato de baunilha. — disse com o tom simpático e a feição suave, sem tirar os olhos da moça.
— Sério? Você vem para a Itália, o país com os melhores sorvetes do mundo, para pedir baunilha? — a moça perguntou com um tom divertido na voz.
— O que você sugere? — rebateu. A mulher, por sua vez, não o respondeu, apenas abriu um sorriso, se virou para o balcão e fez o pedido em italiano:
— Boa tarde! Vou querer um copo médio com cioccolato belga e pistacchio e uma casca pequena de bacio di latte e cremino. — ela se virou novamente para o homem e piscou um dos olhos, enquanto ele estava com as sobrancelhas arqueadas, provavelmente surpreso com a habilidade da moça com a língua.
Ao pegarem o pedido, os dois foram até a saída do local encarando um ao outro, sem jeito, esperando por uma oportunidade de quebrar o silêncio:
— Qual o seu nome? — ele perguntou
— Laura. — respondeu entre um sorriso leve e tímido.
— Muito obrigado por isso, Laura! — disse o homem levantando a sua casquinha. Em seguida, abaixou a máscara e revelou por completo sua identidade.
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Quien sabe un día
FanfictionAbril de 2021. Uma brasileira residente na Itália entrou em uma gelateria e encontrou um homem com dificuldades para falar italiano. Ela se ofereceu para ajudar e ele aceitou. Porém, quando o rapaz tirou a máscara para tomar o sorvete, ela se deparo...