Capítulo 2

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Não bastaram nem cinco horas para que eu me arrependesse totalmente de ter me mudado para essa cidade, é como se todas as palavras sobre os perigos de viver em Broken Hills estivessem se concretizando mais rápido do que eu pudesse esperar. A mão do garoto de olhos castanhos estava coberta pelo seu sangue, o suor escorria pelo seu rosto misturando-se com a respiração ofegante. Ele estava concentrado na minha porta que continuava aberta, olhando para todos os lados em desespero, eu não conseguia me mexer e tinha medo de fazer algum movimento brusco que fizesse-o enfiar aquela faca na minha barriga ou cortar o meu pescoço.

Ele me puxou com dificuldade para os fundos da cozinha e por fim tirou a faca para longe do meu pescoço, jogando a mesma sobre a bancada, sua mão livre cobriu a minha boca e logo eu senti o gosto de sangue nos meus lábios, fazendo com que eu entrasse é desespero. O de olhos castanhos começou a ficar mais calmo e curvou-se para frente com dor, ainda tapando a minha boca. Ele respirou fundo com dificuldade e pressionou o lugar onde o sangue escorria.

Seus olhos chocaram-se com os meus assustados, o rapaz se esforçou para ficar com as costas eretas e foi tirando a mão a minha boca aos poucos e com hesitação, talvez aflito caso eu gritasse. Eu me encostei na parede enquanto ele se afastava ainda com as mãos no seu ferimento, o sangue escorria e pingava pelo chão, sua respiração pesava a cada segundo e suas expressões de dor passaram a ficar mais intensas.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa ou eu esboçasse qualquer reação, o barulho do relógio na parede despertou a atenção de nós dois. Era meia noite, e o estranho pareceu ainda mais perturbado de ouvir o alto e claro som do toque do relógio.

“Quem é você e o que faz na casa da minha mãe? ” O garoto finalmente falou, deixando-me totalmente sem respostas em mente.

“Eu sou nova por aqui, cheguei há poucas horas. Essa casa é minha, não mora ninguém aqui além de mim. ” Tentei responder sem que gaguejasse, porém era quase impossível realizar tal ato.

"Minha mãe vive aqui. Ela comprou e reformou essa casa antes que eu fosse parar lá. Minha irmã mais velha vive com ela também." O de olhos castanhos continuou a insistir em seu pensamento, que não fazia sentido algum.

"E lá seria onde? No hospital? Você é louco?" Perguntei de forma agressiva, e por um instante ele tentou levar a faca na minha direção novamente, mas começou a se remoer em dor antes que pudesse fazer qualquer coisa.

"Preciso de um curativo. Ele falou em tom de ordem, tentando mandar a fala firme. "Um kit de primeiros, qualquer coisa." Ele continuou a pedir, mas eu ainda não era capaz de dar um passo sem sentir-me insegura com a presença do estranho de olhos castanhos. Ele olhou na minha direção sem entender o porquê de eu ainda estar parada encostada a parede. "Se ainda não percebeu, eu estou perdendo sangue e posso morrer caso você continue aí parada, só preciso resolver esse ferimento e depois prometo que te deixo em paz.

"Me diga quem é você e talvez eu pegue um curativo." Revoguei sem ter resposta certa vindo dele, apenas deixou um sorriso sacana rasgar pelos seus lábios no lugar de uma resposta descente.

"Acha mesmo que eu vou me sentir ameaçado com você não querendo me dar um curativo? Eu vivi naquele inferno por mais de dois anos e aprendi muitas técnicas de curativos, já que ajudava os enfermeiros com isso quando podia." Me irritei com o seu comentário e de certa forma, me senti um pouco mais ameaçada com a sua presença por aqui. "E, aliás, você é a tal novata? Por que está na casa da minha mãe com tantas à venda por aí?"

"Como sabia que haveria alguém novo por aqui?" Perguntei a gaguejar um pouco enquanto pensava em uma forma de chamar a polícia sem o garoto tentar qualquer coisa sobre mim.

𝘽𝙧𝙤𝙠𝙚𝙣 𝙃𝙞𝙡𝙡𝙨 - 𝙑𝙞𝙣𝙣𝙞𝙚 𝙃𝙖𝙘𝙠𝙚𝙧 [𝙨𝙝𝙤𝙧𝙩]Onde histórias criam vida. Descubra agora