O Gnomo

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Querido diário, não consigo dormir faz 2 dias, me sinto observada e isso me incomoda profundamente.

Tudo começou quando estávamos voltando de mais uma de nossas viagens em família. Passamos uma ótima semana naquele rancho, e você sabe como mamãe é, em toda viagem que fazemos ela precisa trazer alguma lembrancinha. Sendo assim, papai dirigiu pela estrada beeem devagarinho para procurarmos uma destas lojas de souvenir. Demorou bastante, estávamos quase desistindo quando, bem na fronteira da cidade, ao lado da grande placa de madeira com o nome da mesma, encontramos a tal lojinha, feita de madeira bem rústica com um gnomo de jardim na frente. Mamãe estava encantada com a beleza daquele pequenino, era riquíssimo em detalhes, claramente feito com muito capricho.

Descemos do carro para vê-lo de perto e quanto mais eu me aproximava daquele treco, mais realista ele parecia! Possuía um chapéu pontudo vermelho, e com este, alcançava meu tamanho ; mesmo assim, era pequeno. Vestia um macacão azul, como o de um fazendeiro clichê de filme, e botas bem grandes; já seu rosto, era um rosto infantil, um rosto de criança, com enormes olhos castanhos, pele rosada, grandes bochechas avermelhadas e um sorriso beeeeem largo, de orelha a orelha, com um dos dentes da frente faltando. Para ser sincera, se prestasse bastante atenção era possível ver pequenas rugas em baixo dos olhos, linhas de expressão, pelos e até poros. Mamãe achou encantador, mas para mim, aquilo por algum motivo me perturbava.

Enquanto estávamos parados apreciando aquele gnomo, a dona da loja finalmente se revelou, de dentro das sombras daquela cabana, iluminada apenas pela luz do sol que entrava pela porta aberta e algumas frestas entre os troncos de madeira, surgiu uma belíssima mulher. A moça era um perfeito estereótipo daquelas atrizes de Hollywood! Possuia cabelos loiros e cacheados, olhos azuis bem vibrantes, um batom de um vermelho intenso, um corpo com curvas perfeitamente notáveis e um longo vestido marrom e branco igual ao das madames de filmes de época vitoriana, arrisco dizer que até usava espartilho. Era como se estivesse parada no tempo por séculos e sido descongelada só agora, como aquele filme!

A bela moça se apresentou, seu nome era... Elizabete, ou algo assim, e ofereceu ajuda. Mamãe sequer a olhou pois não tirava os olhos daquele gnomo, e Papai sequer respondeu pois não tirava os olhos daquela moça. Ela voltou a perguntar se queriam ajuda e mamãe finalmente saiu daquela espécie de transe e perguntou se o gnomo de jardim estava à venda; a moça respondeu que sim e que, inclusive, como os gnomos e as bonecas estavam em falta, aquela era a única coisa que de fato possuía preço naquela loja, desculpou-se por aquele ser o último gnomo à venda e nos convidou para ver as outras mercadorias da loja.

Nota: O que ela quis dizer com "Os gnomos e bonecas são as únicas coisas que possuem preço nesta loja"? As outras mercadorias que ela citou eram de graça?

Mamãe agradeceu o convite mas negou, indo direto ao ponto que lhe interessava e perguntando o preço do pequenino. A moça o observou e nos disse seu preço, imediatamente mamãe apanhou uma grande quantia em dinheiro, colocou no bolso do vestido da dona da loja, pegou o gnomo e o segurou no colo. (aquilo certamente era mais que o preço oferecido pela moça, três vezes mais, creio eu). A moça abriu lhe um sorriso meigo, agradeceu, olhou para mim uma ultima vez antes de voltar para dentro da loja e sumiu em meio à escuridão. Para ser sincera, ela olhava para mim com frequência... Bizarro.

Após a moça do passado entrar na loja, papai parecia ter recobrado a consciência e mamãe parou de fitar com tamanho desejo aquele gnomo, todos voltamos para dentro do carro. Mamãe pediu para que eu levasse o gnomo comigo no banco de trás, passando-o pelo banco e o colocando em meu colo, eu o apanhei e olhei para aquela coisa bem nos olhos, ele era tão estranho, era muito realista, como se estivesse vivo! E aquele sorriso forçado... aquilo me dava calafrios, não consegui segurá-lo por mais tempo e logo o deixei do outro lado do banco, virado para a janela. Não pude deixar de notar que aquele gnomo possuía um perfume muito forte, rosas talvez?

Conto: O GnomoOnde histórias criam vida. Descubra agora