Capítulo I

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PREFÁCIO

. Ao desenrolar o enredo, surgem dúvidas se o gaollense existe ou é paranoia da protagonista. Isso dificulta a classificação do gênero literário da obra até a última página. Caso fosse real, teríamos um romance fantástico; porém, se fosse delírio, teríamos um realismo psicológico. Tudo se passa em Karniji, país localizado em Telúria, planeta cujos seres e eventos podem ser iguais, parecidos ou diferentes aos de Gaia (Terra). Por anos, 'O Gênio e o Gaollense no País de Genocida', será material de pesquisa, dado que o autor ao substantivar coisas e seres emprega palavras de outras línguas, trocas de nomes próprios e inversões na ordem de palavras que ocultam críticas à realidade de nossa gente. Para não me prolongar, agradeço duplamente ao amigo Niechkron. Primeiramente, por citar-me na obra e, em segundo lugar, pelo convite para este prefácio! Então, entrego depressa ao leitor o enredo. Com vocês, um incrível universo!

Yan Shmn

I O Gênio de Palus Su

'Tempus edax sérum'

Em 19 de julho de 2018, Palus Su, megalópole de heterogêneas peles, pulsava 24 horas alegria e tristeza, coragem e pânico, ri­queza e mazela, poder e fragilidade. Lá, não havia antíteses entre predicativos diurnos e noturnos: trabalho e diversão harmoniza­vam-se em perfeitíssima cumplicidade entre sono e vigília, lucro e fome, sofrimento e prazer, sorriso e lágrima. As ebulições sociais, culturais e econômicas abdicavam de trégua ou repouso. Nos do­mingos, reverberava magia nos estádios de futebol: bandeiras, sor­risos, buzinas, cânticos e brados dominavam cada centímetro ur­bano nos disputados clássicos. Determinados torcedores, no en­tanto, permutavam golaços por batalhas contra torcedores adver­sários. Se para alguns, jogos convertiam-se em genuína alegria, para outros tratava-se de 'breaking bad'. Com efeito, muitas vezes, tal estupidez tingia logradouros de escarlate sina.

Na lista das maiores cidades do mundo, Palus Su desenvolveu-se com suor de imigrantes nordestinos. Embora possuísse caracte­rística acolhedora, imbuía-se de sombrias cortinas de sentimentos hegemônicos. Infelizmente, tornaram-se corriqueiros casos de in­tolerância oriunda de diferenças de cor, sexualidade, etnia, reli­gião, gênero e classe social. Tratava-se de gente que nutria covarde hábito de encolher os outros para se sentirem superiores! Ao into­lerante, excelência e índole prescindiam-se de valor. Eles classifi­cavam indivíduos como bons ou maus e competentes ou incompe­tentes não pela maestria e generosidade procedimentais, mas por critérios meramente ideológicos. O lamentável fenômeno que, desde o início da fundação da cidade, alçava os índices de violência se originou do mecanismo psíquico de defesa por inaptidão ou te­mor ao livre pensamento, à diversidade cultural e à proficiência. Por contrariedade, a Avenida Palus transformou-se no principal espaço de reivindicações contra injustiças e violências motivadas pela intransigência. Com ou sem mobilizações, seu cenário expri­mia toda vitalidade de heterogeneidades individuais e culturais.

Em certa noite, um astucioso vento soprava seu extenso assovio pela charmosa avenida e, sardônico, distribuía-se em zigue-zague a ironizar o fado dos transeuntes. Eufórico, subvertia penteados e brincava de roda com embalagens rejeitadas por distraídos cida­dãos e, como sábio, professava por pantomina a relevância da pre­servação. Quando entediava da folia, empurrava-as pelos bueiros, onde estas, futuramente, bloqueariam a passagem das águas plu­viais, causando transtornos aos cidadãos. Ele cobiçava cingir o rumo e, entre esquivar-se e colidir-se, margeava misteriosos desíg­nios. Ao entrelaçar-se com roncos, batidas e vozes, construía seu itinerário e, após milhões de toques, roçou o rosto de um bêbado. O jovem ébrio, naquele instante, pensou que o amigo vento pudesse lhe propiciar imperiosas respostas. Quiçá, soprar-lhe-ia segredos de como se precaver do sentimento de culpa pela omissão perante a iminente tragédia de seu povo.

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⏰ Última atualização: May 02, 2021 ⏰

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