O despertador tocou e com ele Izuna arregalou os olhos, as memórias varrendo seu cérebro como veneno. Seu corpo se aqueceu de pronto, a vergonha o molhando como um banho de chuva.
O misto de sentimentos foi o suficiente para obrigá-lo a ficar na cama por mais dez minutos. Os raios de sol entravam pela janela, passando pela cortina. O ventilador de teto girava devagar, e ainda assim ele estava quente como carvão em brasa.
Suspirou, criando coragem para se levantar e ao fazê-lo, foi direto para debaixo do chuveiro frio. De novo. A água o ajudou a acordar de vez, os arrepios nas costas funcionando com perfeição para tirá-lo do entorpecimento.
Que sonho havia sido aquele? Nossa! Tão real, tão... errado. Não devia pensar em Tobirama dessa forma, ele era seu mentor, um maldito padre. Mas por que tinha que ser tão bonito? Torceu o nariz, rezando para que nenhuma ereção aparecesse. Ele tinha que ir para a missa em poucos minutos...
Ainda se lembrava com perfeição da primeira vez que ele apareceu. Os cabelos cinza, os olhos escuros que pareciam enxergar todos os seus segredos... A pele branca como a sua. Um homem alto por baixo daquela batina preta.
Conversaram ocasionalmente algumas vezes, sendo em sua maioria quando ele o ouvia se confessar. Havia dito coisas sérias sobre sua vida, coisas que nem seu amigo mais próximo sabia. Ele era assim, com essa aura hipnotizante, tragando-o com força. Se abrir parecia... Certo.
Hoje era domingo, a missa mais cheia que tinha. Os alunos eram dispensados após a mesma, e a maioria ia para suas casas aproveitar o dia em família. O monastério não era tão rígido quantos os outros que seus pais o levaram para visitar. No fim, escolheu este por isso, mas não para sair aos domingos e ir para sua família e sim para poder dizer que saiu e ir encontrar seus amigos, nadar no rio, observá-los encher a cara.
Izuna nunca fazia nada contra as regras, exceto isso. Amava sua família, no entanto nem sempre queria ir para lá todos os finais de semana. Alguns ficavam no quarto sozinho lendo, desenhando, outros ia para casa ou então com os amigos. No geral era um medroso.
Deus o puniria se passasse dos limites. O que aconteceu na noite anterior. Uma coisa era saber que era um jovem adulto reprimindo todos os instintos sexuais, outra era masturbar-se pensando no padre. E não só um, mas três. Jesus, Maria e José, o que ele havia feito?
Enfiou a cara no jato d'água. Ele estava sujo e sabia que aquilo não bastaria. Quando a igreja se acalmasse, iria se confessar. Sim, era necessário. Ajoelharia no milho, usaria o cilício, não importava a punição. Ele a receberia com glória.
Lavou o corpo com sabão, saindo em seguida e trocando de roupa tão rápido quanto todo o resto. Dirigiu-se ao refeitório, tomando um copo de café com leite e comendo um pão com manteiga.
Quando alcançou a capela, estava lotada. Domingo era sempre assim. Uma saraivada de cores, nas roupas, nas jóias. A salada mista de perfumes sempre o irritava... Devia ser proibido passar tanta água de cheiro aquele horário do dia. Suspirou, buscando seu acento em um dos bancos da frente, onde os alunos sempre ficavam — pelo menos os que não participavam do coral.
Não precisava olhar na multidão para saber que sua família não estava ali. Seu pai era pastor na cidade que eles moravam há alguns quilômetros dali, nunca vinham. E estava tudo bem, sua educação era paga com sufoco e ele o daria orgulho ao formar-se com honras.
Olhou para o teto, a pintura tão bela, sempre eficiente em acalmar o turbilhão de coisas que sentia ao se sentar ali todo maldito dia. Seus olhos caíram para os amigos de congregação, todos conversando animadamente... Encarou o púlpito. Era dourado, grande, exuberante.
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Forgive Me Father, for I Have Sinned
FanficIzuna tinha uma vida pacata no monastério... Até o novo padre chegar.