O garoto do acampamento

pedido de ano novo

- Já lembrou que hoje é o último dia do ano? - Eric falou de súbito. Os chuveiros liberavam um fluxo intenso de água, que respingava na superfície de madeira por onde o sol entrava. Ali era uma espécie de cabana de banho, sem teto e com o chão de cascalhos e seixos maiores, por onde a água escoava; havia uma porta principal, mas os chuveiros internos eram separados apenas por pranchas maiores de forma que o banho não fosse algo tão privativo assim. Ou seja, quando Sangyeon olhava para o lado ele podia ter a visão de Eric tomando banho, da cabeça até o ombro desnudo, e enquanto isso ele tentava não pôr em pensamentos a dúvida de se o ruivinho tinha mantido seu calção, assim como ele mesmo, ou não. Dava para tomar banho de calção, ele pensava, bastava passar o sabonete entre os...

- Na verdade, me lembrei hoje de manhã ao acordar e depois eu esqueci de novo - Sangyeon respondeu, tão rápido que quase denunciou a vontade de se livrar daquele par de pensamentos - não é como se eu tivesse esquecido, na verdade... Você entendeu.

- Sim eu entendi... Acho - Eric fechou os olhos ao ter o fluxo de água levar a espuma em seus fios ruivos. A rapidez com que ele pulou de uma frase para a outra também soou um pouco incomum - já fez promessas pro ano novo?

- Não... Não acredito nessas promessas.

- Nem um pedidinho?

- Tá, talvez eu faça um pedido.

- O que você vai pedir?

- Tá me interrogando por que? - Sangyeon brincou, fingindo irritação ao sorrir e Eric riu, finalmente desligando o chuveiro e pegando a toalha para se enxugar. Seungyoun entrou de fininho para dar início ao próprio banho no chuveiro vago ao lado e observou brevemente aquela interação, decidindo não avisar ao próprio amigo de quando o mais novo saiu dali, levando a toalha do Lee sem que ele visse.

Foi preciso que Sangyeon saísse da cabine, só de calção, lutando contra o frio que sentia por ainda estar todo molhado enquanto procurava o ruivinho ao redor do chalé. Achou-o nos fundos e correu atrás dele; ele gargalhava, travesso por ter dado o troco na brincadeira boba que o Lee tinha feito mais cedo, e triunfante, pois sabia que o outro se divertia com aquilo do mesmo modo. Sangyeon tomou a cabeça dele, a cobrindo de petelecos.

- Minha promessa pro próximo ano é dar um jeito em você! - ele conteve a provocação ao tomar a toalha de volta e se enrolar. Eric manteve um sorriso doce, mas não tão inocente ao se afastar.

- Pois eu duvido disso... - provocou o de cabelos rubros, numa voz mais grave que a que já lhe era usual, antes de escapulir, andando de costas para que o olhar não escapasse do outro, até estar dentro do chalé novamente. E o almoço já estava sendo servido, um cheirinho de cozido pairava no ar ao redor. O castanho ficou parado por um instante, olhando para um ponto fixo ao secar os próprios fios, sorria com os lábios, meio desconcertado, pois ficou pensando no rosto de Eric e na sua voz travessa, e assim teve a plena certeza que tinha recebido um flerte naquele momento. Uma sensação boa percorreu sua nuca num formigamento e de repente ele não parava de sorrir.

Após a refeição, dessa vez mais completa, boa parte dos jovens se entregou ao cochilo da tarde, sentindo a fatiga atingir bastante depois do banho de riacho e das arrumações na cozinha. O vento soprou dentro do chalé, dessa vez silencioso, exceto pelo ranger da madeira velha e pelo mensageiro de metal que tilintava na varanda. Ali dormiram Eric e Sunwoo, dividindo o mesmo travesseiro, após uma boa dose de conversa e selfies tiradas. Sangyeon ficou no sofá, fingindo cochilar enquanto só conseguia reviver as memórias do último dia de seu ano e imaginar as que ainda viriam até que o relógio marcasse meia noite.

Quando a tarde caiu, o grupo se preparou para a ida até o lago; já que não era tão perto como o riacho, eles fizeram um esforço para carregar mais banquinhos e a lenha que havia sobrado do dia anterior, sem contar nos fogos que pretendiam queimar e a comida para aquela noite. Foi um pouco cansativo cruzar a trilha com esse peso, mesmo quando ela era menos tortuosa que a trilha do riacho, contudo tudo valeu a pena quando os jovens chegaram na beira do lago, que viram a sua grande extensão; certamente era de tirar o fôlego. E felizmente, naquela noite o céu estava bem claro e se podia ver a lua e as estrelas, com bem mais nitidez que na cidade e aquela luz toda refletia na água e nas suas ondas.