CAPÍTULO 1

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Clarissa

Era meados de agosto e as aulas haviam começado havia algumas semanas. O segundo semestre do último ano seria marcado por meses de estudo e dedicação. Clarissa de Marquês sabia o que os últimos meses do ano letivo lhe guardavam. Fora preparada para isso desde a infância, com cinco anos começara a fazer aulas particulares de matemática e linguagens, aos oito viajou até a Inglaterra com a sua tia durante seis meses para aperfeiçoar o seu inglês britânico que lhe fora ensinado desde os primeiros meses de idade. A família de sua mãe era inglesa e por isso a insistência em que a garota fosse fluente no idioma.

-Será essencial para o seu currículo – dizia sua mãe jogando apostilas e livros sobre a mesa.

Também se lembrava de participar de aulas de ballet e esgrima, aulas de etiqueta e outros cursos sobre como uma esposa deve se portar.

-A inteligência é uma dádiva para qualquer dama. Um dia você irá se casar e para encontrar um homem de verdade a sabedoria é um recurso essencial. Mulheres burras se casam com garotos pobres, e mulheres sábias se casam com homens de classe.

Esse era apenas mais um das centenas de ensinamentos que recebera de sua mãe. A garota não entendia a linha de raciocínio de sua família. As mulheres precisavam estudar e ser as melhores em suas áreas, mas não seguiam carreira, se tornavam donas de casa. Ou seja, Clarissa deveria estudar, mas não para se tornar uma boa profissional, mas para se tornar uma boa esposa? Certa vez perguntara isso à sua mãe.

-Não seja tola minha Clarissa. Você não deve estudar para se tornar uma boa esposa, mas sim para encontrar um bom marido.

Salões de beleza eram essenciais, todas as quartas-feiras Clarissa ia até o Lady Susan no centro da cidade, fazia as unhas, hidratava os cabelos e fazia suas sessões de depilação a laser.

-Uma dama deve se portar como uma dama, do vestir-se ao despir-se.

A garota estava um trapo.

Olhando-se no espelho, gritou. Passos ecoaram pela escada no exterior de seu quarto, a porta se abriu.

-Bom dia senhora de Marquês – a voz de Alana era exasperada.

-Respire Alana, acabo de me levantar.

Os cabelos vermelhos e embaralhados da garota eram raivosos durante a manhã. Clarissa passava horas lavando-os. Como de costume, Alana puxou a cadeira da escrivaninha indicando com as mãos para que a garota se sentasse. Clarissa apenas a encarou.

-Sente-se, Clarisse.

Clarisse desbloqueou o celular, olhando as horas. Não passavam das cinco.

-Ainda é muito cedo Alana, vou tomar o meu café antes.

A garota escancarou a porta do quarto e deu de cara com o hall superior. Desceu as escadas de mármore quase deslizando na ponta dos pés quando a governanta a seguiu desesperadamente.

-Senhorita, acredito que não seja cortês que a senhora se alimente desta forma!

Clarissa não parou de andar.

-E por que não Alana? Estou na minha própria casa, e hoje – ela se virou para Alana – é um dia especial. Não irei me vestir enquanto não me alimentar.

-Mas sua mãe... – começou a mulher, as veias saltando na testa.

-Minha mãe é um problema meu.

A garota escancarou um sorriso no rosto quando adentrou a sala de jantar, encontrando-se com uma mulher de meia idade de cabelos muito ruivos. Ali sentada com uma xícara de café e um livro sobre etiqueta postado na grande mesa, a mulher levantou os olhos, se espantando com a aparência da filha.

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