O suicídio coletivo – e massacre – em Jonestown, conduzido por um líder religioso tido como progressista, que matou mais de 930 pessoas.
Nos dias que se seguiram à noite de 18 de novembro de 1978, fotógrafos e repórteres tiveram de se mover por um tapete de 909 corpos, 304 dos quais menores de idade, rapidamente inflados e irreconhecíveis pelo calor do verão amazônico. Imagens abjetas que correriam o mundo, estampadas a cores em jornais e na TV.
O reverendo Jim Jones havia ordenado a toda sua comunidade, não muito modestamente batizada de Jonestown, que fizesse fila para beber um refresco em pó tratado com uma mistura de cianeto de potássio e calmantes, disposto em baldes industriais.
E eles assim o fizeram, muitos por vontade própria, mas outros sob ameaça dos seguranças armados. Vários corpos apresentaram indícios de tiros e facadas.
"Digo a vocês, não me importo de quantos gritos vocês tenham que ouvir, não importa quanto choro agonizante", ouvia-se o líder dizer pelo alto-falante. "A morte é um milhão de vezes melhor que mais 10 dias desta vida. Se vocês soubessem o que está adiante de vocês... se soubessem do que está adiante de vocês, ficariam felizes de estarem partindo esta noite."
Pastor progressista
James Warren Jones, mais conhecido por Jim Jones, nasceu em maio de 1931, e desde cedo demonstrou grande interesse pelas obras de Joseph Stalin, Karl Marx, Mao Zedong, Mahatma Gandhi e Adolf Hitler.
Na idade adulta, declarava-se comunista e lutava ao lado dos afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial nos Estados Unidos. Jones e sua esposa Marceline adotaram várias crianças não brancas, algo inédito a uma família branca. Chamavam a si próprios de família arco-íris.
Em 1956, Jones inaugurou o Templo do Povo, seita supostamente cristã, em Indiana. Em 1962, citando o medo do apocalipse nuclear, tentou mudar a sede para o Brasil, em Belo Horizonte.
A aventura não durou muito. Jones não falava português e, não conseguindo arrebanhar discípulos. Voltou para os Estados Unidos em 1963. Desta vez, se instalou na Califórnia, centro da indústria cultural e perfeito lugar para se tornar uma celebridade. Foram abertas filiais do Templo em São Fernando, Los Angeles e São Francisco.
Jones foi capaz de ganhar o apoio do público e aproximar-se de figuras políticas progressistas, entre elas a primeira-dama Rosalynn Carter. Em 1977, chegou a ser comparado com Martin Luther King Jr., Angela Davis e Albert Einstein pelo deputado democrata Willie Brown.
A comunidade
Não era essa, porém, a opinião de ex-integrantes da seita. Na metade de 1977, Jones e os membros do Templo do Povo se transferiram para a Guiana, em tese para fundar em Jonestown uma utopia comunista.
Na prática, fugindo de acusações de morte, perseguição, sequestro e abusos psicológicos e sexuais que aos poucos chegavam aos ouvidos da mídia americana. Não muito depois, em agosto de 1977, um artigo dos jornalistas Marshall Kilduff e Phil Tracy que denunciava o Templo seria publicado na revista New West.
A esta altura, era difícil ver qualquer coisa de cristianismo na seita. A megalomania de Jones havia chegado ao ponto em que ele se afirmava a reencarnação de Jesus, Buda e Lenin.
A nova comunidade de Jones foi construída dentro da Floresta Amazônica, com a aprovação do então presidente da Guiana, Forbes Burham. O nome oficial era Projeto Agrícola do Templo do Povo, mas todos conheciam o lugar como Jonestown, um paraíso socialista e santuário para os seus moradores. Foi lar de mais de 900 americanos, 68% deles negros.O lugar era autossuficiente. Havia uma escola, bangalôs e um pavilhão central, além de espaço para que os habitantes cultivassem verduras e legumes. A única forma de contato com o mundo era um rádio de ondas curtas.
Relatos de sobreviventes apontam que Jones promovia um regime ditatorial, com punições severas e presença de guardas armados para evitar fugas. Ali, o pastor começou a propagar a sua ideia de que ele e seus seguidores deveriam morrer juntos para ir a outro plano mais feliz.
Mais de uma vez, foram feitas simulações de suicídio. Os baldes foram trazidos, as pessoas foram informadas que era veneno e tomaram. Quando o grande dia chegou, muitos dos primeiros na fila imaginaram se tratar de mais uma simulação. Até que os corpos começaram a cair e os gritos de crianças ficaram cada vez mais altos.
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