Prólogo

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A pessoa percebe que chegou ao fundo do poço, quando passa uma noite de sexta-feira tomando todas com seus dois amigos idiotas, porque já saiu com todas as moças bonitas, as quais têm o número do celular salvo nos contatos de seu chip.

Pelo menos era assim que Adam pensava.

Figurinha repetida, nem pensar. Ele já estava farto de ter aquelas malucas querendo ser algo mais do que apenas um caso passageiro, quando ele deixava bem claro que não queria nada além de apenas uma noite. Ou duas, no máximo. Era desgastante ter que ficar explicando aquilo, mas seria ainda mais exaustivo ser o namorado de alguém, e logo depois, precisar enfrentar toda aquela baboseira de D.R., brigas e término.

Uma das desvantagens de ser tão bonito quanto ele, pensou Adam, e além de tudo herdeiro da Construtora Diegues, o império que seu pai, um renomado arquiteto, construiu. E ele, bem, estava seguindo os passos do pai, por mais que detestasse a convivência com Antero Diegues, decidiu cursar faculdade de arquitetura, já que não encontrou nenhum curso que o agradasse. Pelo menos na faculdade ele conhecia as estudantes mais gatas de todos os cursos. Só era uma pena que algumas delas não estavam mais disponíveis, após caírem na armadilha do namoro sério.

Após zerar todo o conteúdo que tinha dentro da latinha de cerveja, Adam fez sinal para que o garçom levasse mais uma. Se não iria passar a noite na companhia de uma mulher bonita, sim, tendo que aturar seus dois amigos, pelo menos seria mais proveitoso ficar embriagado.

— O que você acha daquela ali? — Erick fez sinal com a cabeça em direção a uma jovem que estava acomodada na mesa ao lado deles.

Adam observou o rosto da garota em questão, o cabelo castanho preso em um rabo-de-cavalo fazia leves ondas por seu comprimento, os olhos de um lindo tom âmbar fixados no livro em suas mãos, pelo que ele conseguiu ler era algum título da literatura clássica nacional, Iracema, descobriu, após forçar mais um pouco suas vistas.

Provavelmente era alguma daquelas nerds que nem deve ter saído do ensino médio ainda, a julgar pela sua aparência juvenil e seu corpo franzino, usando aquele vestido que mais parecia ter sido comprado em um brechó onde vendem roupas da década de 1920.

Com seus 21 anos, Adam não se relacionava com nenhuma garota com menos de 18 anos, aquilo era completamente fora dos seus princípios, ter algo com uma menor de idade. E, até mesmo na época em que ele ainda era um adolescente, jamais olharia para ela com atração. Aquela garota não fazia o seu tipo, que são mulheres altas, curvilíneas e que se vestem bem, o que não era o caso dela.

— Bonitinha — confessou, pois, apesar de o seu estilo brega assemelhar mais com uma nerd retrô, ele não podia negar a aparente beleza daquela garota. — Mas não é o meu tipo. Você sabe, gosto de mulheres de verdade, não de garotas que mais parecem ter saído de uma exposição de peças femininas de 1920.

Os seus amigos explodiram em gargalhadas, e Adam até estranhou o fato de a garota não ter notado nada, já que ela continuava com a atenção presa no livro, que deveria ser bastante interessante para que ela malmente piscasse durante a leitura.

Mesmo que sempre tenha sido influenciado pela sua mãe para criar o hábito da leitura, Adam nunca encontrou algum título que atraísse sua atenção, apesar de sempre gostar quando a mãe lia alguma história para ele. Mas após a morte da mesma, ele nem mesmo faz questão de destrancar a biblioteca que a mulher mantinha em casa, assim como o seu pai também não se importava com o cômodo. E, ele não podia negar que ter visto aquela garota lendo com tanta atenção, fez com que relembrasse os bons momentos que teve ao lado de sua mãe, de quando ela o presenteou com uma história em quadrinhos de He-Man, e disse que o filho se chamava Adam em homenagem ao personagem, que era o herói preferido durante a adolescência da mulher. É claro que Adam achou que não perdoaria a mãe por ela ter escolhido para o filho um nome não tão comum no país. Mas nem se quisesse, conseguiria ficar muito tempo bravo com a única pessoa que parecia amá-lo, e, com certeza, a que ele mais amava no mundo.

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