Prólogo

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Kojiro cresceu ouvindo sobre as qualidades para ser um bom e próspero Rei.

Um homem leal, benevolente. Que deve sempre colocar o bem estar do povo acima do seu. Um rei tem que saber ouvir, e possuir grande sabedoria para lidar com as provações que surgirem do meio do caminho, podendo assim ser um governante amado e respeitado por seus súditos.

Ainosuke não possuía nada naquilo.

Ele era um rei que fazia seu povo pagar pelo preço de suas guerras, alegando que tudo que fazia era por amor. Não se importava se os camponeses estavam sofrendo com a seca, se as crianças estavam perdendo ainda mais oportunidades ao crescer. Dizia que uma próxima guerra era a única maneira que elas tinham de se reerguer. Ele não conhecia as palavras compaixão ou empatia. Não deixava espaço nenhum para ser respeitado.

Até mesmo a maneira como subiu ao trono era desonesta. Para aqueles que viviam fora dos muros do palácio, Ainosuke assumiu o trono depois da morte de seu pai, o antigo rei, que já vinha enfrentando uma doença terminal nos últimos três anos. No entanto, para quem estava dentro da família real, como Kojiro, conhecia a verdade.

A morte de seu pai não foi natural, a doença sem cura foi plantada no seu organismo. Tudo fazia parte do plano de Ainosuke.

Ele sabia que não era o próximo na linha de sucessão, mesmo sendo o mais velho. O pai preferia Kojiro, ele via no filho mais novo tudo o que era preciso para se tornar um rei. Era o destino de Kojiro. E Ainosuke arrancou aquilo dele ao matar seu pai.

O príncipe, com seus recentes treze anos, não teve tempo para lidar com o luto pela perda do pai. Passou grande parte dos seus dias escapando do irmão. Todavia, não existia montanha alta demais, ou beco estreito demais para Ainosuke. Kojiro sempre era encontrado e arrastado de volta para o castelo.

Depois da sexta vez acordando na masmorra, Kojiro entendeu. Ele só sobreviveria se cedesse a Ainosuke. Precisava se tornar o irmão mais novo submisso e obediente. Deixou-se ser levado por ele, despedaçado e esmagado. Por dentro, a chama que ele levava consigo queimava aos poucos, pronto para se tornar um incêndio a qualquer momento.

Em suas noites de insônia, ele se agarrava à memória da noite em que passou no vilarejo, onde ele sentou embaixo de uma janela, sendo acolhido por uma senhora solitária que esperava seu filho retornar da guerra. Seus olhos vidrados na cena que acontecia à sua frente.

Era um grupo modesto, não havia mais de quinze pessoas, mas todos compartilhavam o mesmo pensamento, buscavam o mesmo objetivo: a cabeça do Rei Ainosuke.

Kojiro podia passar horas ouvindo-os falar, e assim o fez. Guardou na memória todas as lamúrias e queixas do seu povo e prometeu reparar tudo ao tomar o que era seu por direito. Assim como aquele grupo de rebeldes, ele esperaria a hora de atacar. Ele estava disposto a esperar. Esperar pelo momento em que a cabeça do Rei rolaria até os seus pés. Até lá, se tornaria um dos cães de seu irmão.

Então, quando Ainosuke entregou a ele a ordem para se casar, ele não teve escolhas a não ser aceitar. Vinte garotas estariam no castelo na próxima semana, uma delas seria selecionada para se tornar sua nova esposa. O que Kojiro não sabia, era que entre aquelas garotas, estaria a bainha de sua espada. Aquele que o empurraria para dar o primeiro passo, transformando-o em um Rei.

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