Agora vamos falar um pouco sobre o APOGEMA, ou melhor dizendo, Atividade de Proteção a Ordem da GEMA, um programa criado fez 6 décadas que visa, como mesmo diz o nome, proteger a GEMA, máquina esta que mesmo com o seu cargo, Mont ainda não sabe exatamente como é e de que forma funciona. O que lhe compete é eliminar qualquer ameaça ao programa, mantendo assim a ordem social e a felicidade quase que plena na sociedade.
Uma felicidade plena é utopia, enquanto existir comunidades existe consequentemente relações de desigualdade e de tentativas de imposição de poder; por mais equitativas que forem as oportunidades, a questão é que cada indivíduo é peculiar à sua maneira, e se desenvolvem cada qual com suas perspectivas e personalidades.
Mesmo que trabalhando na sociedade como uma forma de pilar pacificador, e ignorando várias perguntas que quer queira quer não aparecem no seu interior, Mont quase que se sente orgulhoso de onde chegou, talvez um daqueles orgulhos bestas que no interior sabemos que acabam por serem só fetichismo sobre ser um alguém.
- E lá se vai o pobre infeliz - Levantando do banco da praça dando uma breve gargalhada sincera.
- Esses pombos estão ficando cada vez mais safos – Diz Beccario, seu conhecido morador de rua, tentando apedrejar pombos na praça.
- Acredito que seja você que esteja perdendo o jeito – Diz, em tom de zombaria.
Após ficarem uns minutos em silêncio.
- Parece que foi ontem que apanhei por nada de ti.
- Já te expliquei mil vezes, você que fica se emprenhando nesses becos, não tenho culpa de ter te confundido no meio da fuga... - Elabora com voz calma.
- Fica tranquilo, já me fizeram pior por menos... só as vezes que me lembro mesmo, no sentido daquelas coisas que não controlamos.
- Hum...- Murmura Mont enquanto acendia seu cigarro na boca.
Ele criou um vínculo misterioso com Beccario, uma relação não tida por nenhum deles como amizade, e sim uma espécie de compaixão por seu lado, e no menino algo como ter um conhecido.
Ele sabe como a vida na rua é dura, e a cicatriz no rosto do garoto já é um triste exemplo. Desde que ocorreu o incidente no qual se conheceram, vez ou outra se encontram na saída de uma cafeteria que Mont frequenta devido a menor quantidade de pessoas, fora que fica relativamente perto do prédio onde trabalha. O menino mora na rua, e acredita que ele durma nas proximidades.
Andando um quarteirão em silêncio, lado a lado, Mont rompe o silêncio.
- Pega, come alguma coisa – Diz, estendendo dinheiro suficiente para um almoço. Algo que sabia que o menino aguardava, quase uma convenção entre os dois.
Valeu, você me salva - E sai correndo balançando a mão com um sorriso aberto no rosto, reação pretensiosamente esperada de um menino de 12 anos que passa fome na rua.
- Se cuida.
Hoje era dia de chegar cedo, mas desde a promoção já consegue tomar liberdades maiores dentro da agência, como foi hoje em se atrasar. As coisas estavam quentes, quando é assim sempre lhe é demandado mais do que geralmente consegue processar, então ele se permitiu esse pequeno luxo.
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Determinante Eu
KurzgeschichtenUma cidade da qual as pessoas não podem sair, quem controla isso é o APOGEMA. Em contraponto temos a resistência, que busca a liberdade desse controle. Em uma sociedade onde a crença de que a felicidade é potencialmente mais plena quando se delimita...