|The tube|

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Harry encarava o monitor à alguns metros à sua frente, os ''pi'' repetidamente que a máquina fazia não o deixando perder as esperanças. As paredes brancas do local, assim como os lençóis, as cortinas, a porta, a cama, tudo muito branco, pálido, sem vida. O lembrando de como aquilo era uma linha tênue entre a esperança para vida e a aceitação para a morte.

Seus olhos caíram sobre a pessoa deitada naquela cama, a sua pessoa, o seu melhor amigo, a sua paixão adolescente, o seu namorado que não ia durar nem dois meses mas hoje já fazem cinco anos. A pessoa, que no momento encontrava-se exatamente como aquele quarto, pálido e sem vida, porém, lutando por ela.

Lentamente ele foi se aproximando da cama, engolindo o nó que se formara em sua garganta e a sensação de toneladas de peso que ele sentia esmagando seu peito. Não importa quantos meses se passem, ele nunca vai se acostumar com a imagem do seu amor assim, completamente vulnerável, as maçãs de seu rosto totalmente marcadas e fundas, seus lábios antes rosados, agora totalmente sem cor, e assim como todo seu corpo, seco. E o tubo, o maldito tubo, que ao mesmo tempo que o mantém vivo, o faz lembrar que ele não é capaz de tal ato sem ele. O tubo que faz o trabalho dos seus pulmões estragados, o mantendo aqui, mas perdido em sua própria consciência, ou inconsciência.

–Por que você não me escutou? por que você não largou aquele maldito cigarro?–lágrimas grossas escorriam por suas bochechas sem ao menos pedir permissão, e ele se perguntava como depois dois meses chorando diariamente, seu corpo ainda tinha água para tal.

Esse cigarro não te faz bem.–ele falava, se ajustando no colo dele e enfiando a cabeça em seu pescoço, tentando ignorar o cheiro de nicotina no ar.–você deveria parar.

Eu vou fazer isso, meu bem. –tragou o cigarro para o lado oposto, a fumaça sumindo no ar, assim como suas palavras vazias. –apenas me dê tempo, sim? você sabe que não é tão fácil assim.– deixou um beijo no topo de sua cabeça.

Eu sei, mas você não vai estar sozinho, sabe disso.–o abraçou mais apertado, tentando demostrar naquele simples ato a veracidade de suas palavras. –Eu estou ao seu lado, e sempre vou estar. Apenas tente, por favor. –o medo em sua voz era evidente, ele temia pela saúde do namorado. Temia acordar em uma manhã e não o ter ao seu lado, o abraçando apertado e desejando bom dia com a voz rouca ao pé do ouvido, para em seguida o olhar, com um pequeno sorriso no rosto e os olhos azuis brilhando em sua direção, como uma constelação de estrelas ou os raios mais quentes e brilhantes que o sol possui, dando a impressão de que, sendo dia ou noite, eles nunca se apagariam.

Eu vou.– ele falou, antes de dar mais um tragada no cigarro, que infelizmente, não foi a ultima.

••

–Alguma novidade?–Perguntou para a enfermeira, enxugando as lágrimas de seu rosto com as mãos.

–Nenhuma, o quadro dele continua o mesmo, sinto muito.–Ela falou, antes de se retirar do quarto.

Ele sentou-se em uma poltrona ao lado da cama, estava cansado, há quase três meses ele não tem uma boa noite de sono e livre de pesadelos, era possível enxergar as olheiras pretas abaixo de seus olhos, olhos esses que estavam cansados, o brilho que era refletido dos olhos dele está se apagando, aos poucos. Ele também está mais magro, muito mais magro, ele não sentia fome, comia apenas para manter seu corpo em pé e disperto, pois precisava ter forças para ir ao hospital todos os dias. E o que ele mais temia, havia virado rotina.

Chegou mais perto da cama, segurando a mão dele com as suas próprias, ele encostou sua testa no colchão, ao lado do corpo dele, dando um suspiro alto e triste, e quem estivesse ao seu lado, sentiria a dor em apenas aquele pequeno ato. Lágrimas ameaçavam cair novamente, e seu peito doía como um inferno, era uma sensação agonizante, como se alguém estivesse pego seu coração ainda dentro do peito e o apertado, sem dó nem piedade, e ele queria gritar, queria gritar de dor, pedir para parar, mas ele não tinha mais forças, então ele só deixava que continuassem, até que tudo parasse, até que toda a dor parasse.

–Lou...–Susurrou o apelido, sua voz carregada de uma agonia inexplicável.– Volta meu amor, eu preciso de você.–E as lágrimas estavam lá novamente, escorrendo por suas bochechas como cachoeiras, eles costumavam ter cachoeiras de felicidade, e ele só queria isso novamente.–Apenas volte para casa.

Surge of energy before death |l.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora