|improves before death|

251 22 11
                                    


Harry tinha um sorriso rasgando o rosto enquanto dirigia em direção ao hospital, as palavras do médico ainda ressoando em sua mente. E não importava se o sol não resolvera brilhar tanto hoje, porque ele estava radiante, seu brilho próprio sendo refletido através de seus lindos olhos, e pela primeira vez em quase três meses, a felicidade habitava em seu corpo novamente, seu peito cheio de esperanças, e confiança correndo por suas veias.

Ele nem se importou com multa que ganharia por deixar o carro de qualquer jeito no estacionamento, e em poucos minutos ele atravessava as portas do hospital, ignorando os olhares que recebia das enfermeiras e funcionários, que não entendiam o motivo de tanta euforia à essa hora da manhã.

Quando ele abriu a porta do quarto onde Louis se encontrava, ele jura que seu coração errou uma ou duas batidas. Ele estava lá, acordado, e Harry travou no lugar, seu corpo parecia não atender mais seus comandos, então ele apenas ficou ali, parado na porta enquanto Louis percebia sua presença, virando o rosto em sua direção e o fitando intensamente, ele tinha as mesmas olheiras abaixo dos olhos e as maçãs no rosto extremamente fundas, seu corpo estava obviamente mais magro, seus cabelos agora estavam ralos, caindo por sua testa e cobrindo parcialmente um de seus olhos, os olhos azuis, os malditos olhos azuis que se assemelhavam ao oceano, onde Harry se deixou mergulhar, e pouco a pouco, foi se afogando. Os olhos azuis que já foram tão cheios de vida, e agora se encontram totalmente apagados, sem qualquer resquício de brilho sendo refletido neles, mas ainda assim, Louis encontrou forças para sorrir, um pequeno sorriso puxando o canto de seus lábios, enquanto ele abria os braços em um pedido silencioso para Harry se acomodar ali.

Não demorou nem mais um segundo para o dito cujo estar correndo em direção a ele, se jogando em seus braços e o apertando fortemente, ele finalmente deixou as lágrimas que estavam presas desde a hora que recebera a notícia, caírem livremente por seu rosto, lágrimas de saudades, lágrimas de dor, de sofrimento, de angústia, lágrimas de medo, medo de o perder, medo de não ver mais os olhos azuis brilharem em sua direção, medo de não o ter o seu bom dia respondido todas as manhãs, todos os sentimentos que ele reprimiu por esses meses se desmancharam em lágrimas.

-Eu... Eu senti tanto a sua falta.-Sua voz saiu entre cortada por conta dos soluços que saiam de sua garganta, enquanto ele apertava a camisa de Louis, como se a qualquer momento ele pudesse escapar por seus dedos.

-Eu estou aqui agora.-A voz de Louis era rouca pela falta de uso, mas estava tão fraca, ele falava lentamente e dando pausas em cada palavra, puxando levemente o ar para os seus pulmões.

O médico explicou que ele teve uma melhora repentina, o pulmões dele ainda estavam fracos, mas agora ele já conseguia respirar sem a ajuda de aparelhos. O peito de Harry se encheu de esperanças, agora Louis teria chances de receber um transplante, ele finalmente tinha forças para esperar. Ele finalmente estava melhorando.

Louis não conversava muito por conta do pouco oxigênio que chegava aos seus pulmões, mas ele passou o dia inteiro tentando interagir o máximo que ele conseguia com Harry. Mas mais uma vez, a importância do toque na relação deles, se fez presente. Eles passaram todo o dia abraçados, Louis tinha um olhar vago e pensamentos longes, mas isso foi totalmente ignorado, eles estavam juntos agora, e apenas isso era o importante.

quando a noite caiu, Louis conseguiu convencer o Doutor a o deixar sair, apenas por aquela noite, já que ele teria que passar mais algum tempo em observação. Com um aceno positivo, e um sorriso triste no rosto, o médico permitiu a saída. Já Harry, sorriu mesmo sem saber porque Louis queria tanto sair naquela noite.

Depois de alguns minutos na estrada, eles chegaram ao local onde tudo começou, aquele pequeno morro onde tinham dezenas de lembranças. Eles forraram um lenço no chão, onde sentaram-se e ali ficaram, abraçados e sendo banhados pela luz da lua, juntamente com as estrelas, que iluminavam o local.

-Sabe...tudo tem um fim.-Louis falou, depois de uns trinta minutos em silêncio, onde apenas aproveitavam da companhia um do outro. A voz dele era suave, enquanto suas mãos trabalhavam em um leve carinho nos cabelos de Harry, mas aquele simples gesto, não foi capaz de disseminar o peso que aquela frase carregava.

-O que quer dizer com isso?-Sua voz vacilou, enquanto seu corpo ficava tenso, o medo do rumo daquela conversa sendo transmitido em sua voz.

-O que eu quero dizer, é que não importa a trajetória que seguimos, o fim é inevitável. -Apesar da voz sair suavemente por seus lábios, havia dor ali, um grito mudo e agonizante sendo preso no fundo de sua garganta.-Você provavelmente já ouviu falar em ''melhora da morte''.-Proferiu-Harry, eu preciso que me escute.-Louis o fitou, segurando seu rosto entre as mãos e o alisando levemente, como um toque suave de um pianista.-Os melhores momentos da minha vida, foram os que vivi nesses últimos cinco anos com você, meus melhores momentos foram ao seu lado. Antes de você, eu vivia uma vida monótona, vivendo no piloto automático e usando o cigarro como minha única diversão, como um portal de escape da realidade, e isso pode até parecer clichê, mas você me deu a mão quando eu estava sozinho em minha própria escuridão, você me ajudou a encontrar meu caminho, e me guiou em direção á luz, mas eu temo que não vamos estar juntos no final dessa estrada.-foi impossível controlar as lágrimas que agora molhavam o rosto de ambos.

-Você... você não pode falar isso, não pode estar certo do resultado de uma equação, quando na verdade, tudo é uma grande incógnita, você não pode ter tanta certeza do final, quando ainda não chegamos ao fim.-O soluços rasgavam a garganta de Harry, suas mãos tremiam quando ele as levou lentamente até o rosto de Louis, o segurando como se fosse feito de porcelana, e a qualquer momento, pudesse se despedaçar entre seus dedos.-Eu já te disse, milhares de vezes, que não importa o que você fizer, ou a situação que você se encontrar, eu estarei sempre ao seu lado, porque eu amo você. Nós não estamos mais no ensino médio vivendo uma paixão adolescente, e apesar de ainda sermos jovens, nós amadurecemos, juntos, e toda a paixão se transformou em amor, nós fizemos isso juntos, não tem que ser diferente dessa vez. Eu não vou desistir de você, e se você cair, eu não vou ser capaz de continuar sozinho.- As palavras de Harry soavam como um grito por misericórdia, se bem observado, nas entre linhas, ele implorava inconscientemente por um milagre, esperando que o universo o escutasse e não o submetesse a tanto sofrimento como agora.

-Você é forte, Harry. Muito mais forte do que você pode imaginar, afinal de contas, nunca conseguimos enxergar nosso próprio valor, não é o que dizem por aí?- Ele sorriu levemente em meio às lágrimas, limpando as que caiam pelo rosto se Harry com o polegar.-Eu quero que você viva tão intensamente, que se pudesse escolher qualquer outra vida, ainda escolheria a sua, eu quero que você se auto preencha, e que um dia, encontre alguém que te transborde, eu quero que você termine sua faculdade, faça o que você ama, e se for do seu desejo, encontre alguém para amar, tenham muitos filhos, eu sei que é o seu sonho, não se prive disso. Faça isso por você.-Ele se aproximou, encostando suas testas e deixando um suspiro carregado de dor, sair por seus lábios.-Nós vamos seguir caminhos diferentes agora, mas eu quero que saiba, que eu vou estar te esperando no final da estrada, e então nós nos encontraremos novamente, e por favor, não olhe para trás, não é para lá que você está indo. -Ele grudou seus lábios em um selinho rápido.-Eu te amo Harry, nunca se esqueça disso.

Harry apenas fechou os olhos, absorvendo todas aquelas palavras, palavras pesadas demais, como uma uma música que não poderia ser escutada fora dos fones de ouvido. Mas a realidade, é que apesar do peso delas, o efeito causado era de leveza, um sentimento libertador.

Eles de abraçaram, um abraço totalmente diferente de todos que eles já deram em todos esses cinco anos. E a lua, mais uma vez, presenciava mais um momento importante da vida deles. Eles se deitaram ali, abraçados como se fossem um só. Eles se permitiram fechar os olhos e deixar que o sono os tomassem por completo, cada um recebendo seu próprio descanso.

Eles ainda estariam juntos ao amanhecer.

Surge of energy before death |l.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora