Reabrimos às quatro e meia. A essa altura estávamos morrendo de tédio. Eu estava envergonhada por me sentir assim, afinal, estávamos ali porque um homem que conhecíamos tinha morrido, mas era inegável que depois de arrumar a despensa, limpar o escritório do Sam e ter jogado várias rodadas de bourre, o jogo de baralho que mais se Koga por aqui (Sam ganhou cinco dólares e algumas moedas), estávamos prontos para ver um rosto novo. Foi uma visão bem-vinda quando Terry Bellefleur, primo do Andy e constante substituto de barman ou cozinheiro no bar do Merlotte's, entrou pela porta dos fundos.
Acho que Terry tem uns cinquenta e tantos anos. Veterano da guerra do Vietnã, foi prisioneiro de guerra durante um ano e meio. Terry tem umas cicatrizes faciais bem aparentes, e minha amiga Arlene disse que as cicatrizes no seu corpo são ainda piores. É ruivo, se bem que ele fica um pouco mais grisalho a cada mês.
Sempre gostei do Terry, que se desdobra para ser gentil comigo, a não ser quando está de mau humor. Todo mundo sabe que o melhor é não irrita-lo quando ele está mal-humorado. Os dias ruins de Terry são invariavelmente procedimentos de pesadelos dos piores tipos, segundo os relatos de seus vizinhos. Nas noites de pesadelo eles conseguem ouvir os berros de Terry.
Nunca, jamais li os pensamentos de Terry.
Hoje ele parecia estar bem. Seus ombros estavam relaxados, e seus olhos não ficavam pulando de um lado para o outro.
- Você está bem, chuchu? - perguntou ele, dando um tapinha no meu braço, solidário.
- Obrigada, Terry. Estou bem. Apenas sinto por Lafayette.
- É, ele até que não era má pessoa. - Vindo de Terry, isso era um elogio. - Fazia o trabalho dele, sempre aparecia no horário. Limpava a cozinha direitinho. Nunca falava mal de ninguém.
A maior ambição do Terry é conseguir ser assim.
- E daí ele morre no Buick do Andy.
- Acho que o carro do Andy foi uma espécie de... - busquei o termo mais brando.
- É lavável - disse ele. - Terry estava ansioso para encerrar a conversa.
- Ele te contou o que aconteceu com Lafayette?
- Andy disse que aparentemente o pescoço estava quebrado. E havia, hãã, evidência de que ele tinha sido... usado.
Os olhos de Terry começaram a tremeluzir, revelando seu desconforto. Para Terry "ser usado" quer dizer que aconteceu algo violento e sexual.
- Nossa, que horror.
Danielle e Holly surgiram bem atrás de mim, e Sam, com mais um saco de lixo que ele havia retirado do seu escritório, parou a caminho da lixeira lá no fundo.
- Ele não parecia tão... Quer dizer, o carro não parecia estar tão...
- Emporcalhado?
- Isso.
- Andy acha que ele foi assassinado em algum outro lugar.
- Credo - disse Holly. - Não fiquem aí falando disso. É demais para mim.
Terry olhou por cima do meu ombro para as duas mulheres. Eles não tinham muito apreço por Holly nem Danielle, embora eu não soubesse o motivo, e não me esforcei para descobrir. Eu tentava dar privacidade às pessoas, especialmente agora que tinha um controle melhor da minha habilidade. Ouvi as duas se afastando, depois que Terry manteve seu olhar apontado para elas durante alguns segundos.
- Portia veio buscar o Andy ontem à noite? - perguntou ele.
- Sim, eu liguei para ela. Ele não tinha condições de dirigir. Se bem que agora aposto que ele preferia que eu i tivesse deixado dirigir.
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Vampiros em Dallas
VampireEsqueça todas as histórias de vampiros aterrorizantes em que mocinhas indefesas precisam ser salvas. Esqueça também aquela figura caricata vestindo capa preta, dormindo em caixões e vivendo em um castelo na Transilvânia. Definitivamente os vampiros...