Com muita relutância abri os olhos. Tinha a sensação de ter dormindo dentro do meu carro, ou de que adormeci numa cadeira de espaldar alto. Com certeza havia caído no sono em algum lugar inapropriado e desconfortável. Eu me sentia meio grogue e estava toda dolorida. Pam estava sentada no chão, a pouco menos de um metro, seus olhos azuis fixos em mim.
- Funcionou - disse ela. - Dra. Ludwig estava certa.
- Ótimo.
- Sim, teria sido uma pena perdê-la, com uma praticidade assustadora. - A mênade poderia ter escolhido vários outros humanos associados a nós. Todos eles muito mais descartáveis.
- Obrigada pela acolhida calorosa, Pam - murmurei.
Eu me sentia imunda, como se tivesse mergulhado num tonel de suor e depois rolando pela terra. Até meus dentes pareciam estar podres.
- Foi um prazer - disse ela, e quase sorriu.
Pelo jeito Pam tinha um senso de humor, algo pouco comum entre os vampiros. Nunca se ouviu falar de vampiros comediantes, e eles ficam indiferentes perante piadas. (Algumas piadas que eles contam são de dar pesadelos por uma semana.)
- O que aconteceu?
Pam voltou a intercalar os dedos em volta do joelho.
- Fizemos como dra. Ludwig mandou. Um de cada vez: Bill, Eric, Chow e eu, e quando você estava quase seca, começamos a transfusão.
Durante alguns minutos fiquei pensando sobre isso, contente por ter ficado inconsciente antes de poder vivenciar o procedimento. Bill sempre se servia de um pouco de sangue quando estávamos transando, então eu associava isso ao ápice do sexo. O ato de "doar" para tanta gente teria sido terrivelmente confrangedor para mim se eu estivesse ali, por assim dizer.
- Quem é Chow? - perguntei.
- Veja se você consegue se sentar - aconselhou Pam. - Chow é nosso novo barman. Ele é bem desenhado.
- Como?
- Tatuagens - disse Pam, parecendo quase humana por um instante. - É alto para um asiático, e tem uma seleção maravilhosa de... tatuagens.
Tentei fingir que estava interessada. Eu me estiquei, sentindo uma certa sensibilidade que fez com que eu tomasse cuidado. Era como se minhas costas estivessem cobertas de feridas que acabaram de cicatrizar, feridas que voltariam a abrir se eu não fosse cautelosa. E esse, segundo Pam me informou, era exatamente o caso.
Fora isso, eu estava sem camisa. Sem nada. Da cintura para cima. Abaixo, minha calças continuavam intactas, embora em péssimo estado.
- Sua camisa estava tão estraçalhada que a gente teve de corta-la - disse Pam, com um sorriso bem aberto. - A gente se revezou, segurando-a no colo. Você foi muito admirada. Bill ficou furioso.
- Vá para o inferno - foi tudo que consegui dizer.
- Bem, quanto a isso, quem sabe? - Pam deu de ombros. - Só estava querendo lhe elogiar. Você deve ser do tipo recatada.
Ela se levantou e abriu uma porta de armário. Havia camisas penduradas lá dentro, imagino que era um estoque extra para Eric. Pam tirou uma do cabide e a jogou em minha direção. Ergui o braço para pega-lá e tenho de admitir que esse movimento foi relativamente fácil.
- Pam,tem algum chuveiro aqui?
Odiaria ter de vestir a camisa branca limpinha estando toda suja.
- Sim, no depósito. Ao lado do banheiro dos funcionários.
Era extremamente básico, mas era um chuveiro, com sabonete e toalha. Você saía direto no depósito, coisa que devia ser tranquila para vampiros, uma vez que eles não tem nenhum pudor. Quando Pam concordou em vigiar a porta, veio também uma oferta de ajuda para tirar minhas calças, sapatos e meias. Ela curtiu a função um pouco demais da conta.
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Vampiros em Dallas
VampireEsqueça todas as histórias de vampiros aterrorizantes em que mocinhas indefesas precisam ser salvas. Esqueça também aquela figura caricata vestindo capa preta, dormindo em caixões e vivendo em um castelo na Transilvânia. Definitivamente os vampiros...