Pôs os livros sobre a carteira do fundo, encostada na parede, e seus olhos de imediato alcançaram e viajaram através das vidraças da janela. Enfeitiçada pela paisagem vespertina, vagou por entre as folhas multicoloridas — que variavam entre tons de laranja, vermelho e amarelo — caindo do imponente carvalho no centro do pátio. Alguns alunos conversavam embaixo dele, parecendo satisfeitos, enquanto outros se deslocavam para a entrada do prédio ao som do toque escolar que badalava agudo e intenso. As letras de metal na entrada, com os dizeres "Shiki Kōtō Gakkō¹", dispostas uma ao lado da outra em um arco comprido, faziam sombra no chão exatamente do jeito que ela se lembrava.
Duas ou três pessoas já estavam na classe. Ela as ignorou, mas percebeu que cochichavam entre si enquanto olhavam discretamente, ou assim acreditavam, para ela. Não as ouvia, mas sabia o que estavam dizendo. Era o que todo mundo estava dizendo.
O cair das folhas de outono, que frequentemente lembravam cenas melancólicas presentes em alguns dos seus livros favoritos, enjaularam a atenção da ruiva pelos minutos que se seguiram. Nenhum outro detalhe dentro dos aposentos escolares, fossem os objetos ou as pessoas com as quais convivia diariamente, foi capaz de tragá-la para fora dos devaneios sorumbáticos.
Outros estudantes gradualmente ocuparam as carteiras restantes, simultâneo aos murmurinhos que trocavam uns com os outros. Ela não fazia questão de se envolver nas conversas alheias; saber que era o alvo dos comentários, da maioria deles, pelo menos, não era exatamente um grande incentivo. Suspirou, à medida que a vista, naquele momento voltada para o horizonte externo, se perdia entre borrões errantes.— Hana?
O soar de uma voz familiar a fez virar o rosto involuntariamente para o respectivo lado. Soergueu os olhos ao reconhecer com facilidade a figura que estava de pé diante dela, percorrendo-a com uma satisfação que até tentou, em vão, disfarçar. Os lábios do garoto se curvaram em um sorriso simpático, ao que ela se endireitou na cadeira para lhe dar a atenção apropriada:
— Naito-kun. Oi, bom dia.
— Você está bem? Parece distraída. — Ele ergueu a sobrancelha e curvou os lábios finos em um meio-sorriso.Fukunaga Naito tinha cabelos claros na altura do queixo, meio bagunçados. Comumente vestia o blazer da farda escolar, escuro, de forma arrumada, mas a gravata vermelha pendia frouxa ao redor do seu pescoço, dando a ele um ar despojado. O jeito de andar, de falar, de cumprimentar as pessoas, tudo naturalmente atraente. Sempre que se pegava pensando nesses detalhes, como naquele fatídico momento na sala de aula, Hana costumava tentar se focar em qualquer defeito que pudesse torná-lo menos inalcançável na sua cabeça; e acabava sempre frustrada, todavia.
Estrangeiro mestiço, com ascendência americana por parte de pai e traços japoneses da mãe, Naito tinha se mudado para a cidade pouco depois de ingressar no ginásio, para a casa onde a mãe costumava residir antes da viagem que lhe trouxe o marido. Uma vez que moravam perto um do outro, Naito e Hana tornaram-se amigos muito cedo, principalmente devido aos interesses geek em comum. A mãe de Hana por vezes insinuava que faziam um belo par, só para arrancar da filha uma reclamação desconcertada. Ele sempre foi popular entre as garotas de sua idade, e até entre algumas dos anos seguintes, mas isso nunca pareceu surtir efeito sobre sua personalidade tranquila ou sobre como ambos se relacionavam. Eram extremamente próximos, faziam tudo juntos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Outono - Livro 1.
Novela JuvenilDepois de três meses longe da escola, resultado de um incidente que ela tenta desesperadamente superar, Hana precisa lidar com os boatos ao seu respeito e uma nova realidade que chegou sem ser convidada. A amante dos livros de repente se vê diante d...