Capítulo dois

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David

     Observo Victoria e o marido trocarem beijos antes de entrarem no carro e irem embora. Seria ótimo se ela descobrisse que ele é infiel, ou agressivo, qualquer coisa para acabar com essa merda. Eles não fazem sentido juntos, principalmente porque ela é o que é. Mas ela é a mulher mais linda que eu já vi. E a única que...
     — David! — Oiço uma voz irritante bem atrás de mim. Sou amaldiçoado por todas as mulheres que não suporto me amarem, mas as que eu amo nunca amam de volta.
     Ela não ama.
     — Você parece o zumbido de uma abelha! — Viro para a pequena criatura.
     — Pareço? — Ela sorri como se soubesse de todos os meus segredos.
     Duvido muito.
     — O que você quer? Que a leve até a casa do seu primo que tentou me matar?
     Ela revira os olhos. — Esqueça isso, David.
     — Esquecer?
     — Você deixou cair isso. — Ela mostra a foto da Victoria.
     Se calhar, já sabe todos os meus segredos.
     — Porquê acha que isso é meu?
     — Eu vi quando caiu do seu bolso.
     Suspiro. — Está bem. É meu. — Recebo a foto. — Algum problema sobre isso?
      — Sim. Ela tem marido.
      — Isso é por causa de um projeto. Tenho fotos de todos os chefes para algo muito importante que não lhe diz respeito. — É tudo que consigo dizer. —  Porquê? Achou que eu... — Começo a gargalhar para deixá-la irritada e não desconfiar de nada, embora saiba que essa pequena criatura pareça inteligente demais para cair na minha conversa.
     — Está bem. Projeto de chefes, entendi. — Sorri. — Seria bem interessante se estivesse apaixonado por ela.
     — Seria ainda mais interessante se você fosse alguém e cuidasse da sua vida.
     — Não devia falar assim com alguém que salvou a sua vida, David.
     — Se espera um agradecimento, lamento informar que nunca vai chegar.
     — Custa tanto assim ser bom comigo? — Brinca. Ela sorri como se fosse uma brincadeira.
     Eu lembro de ter provocado o seu primo porque ele achava que era o rei daquele lugar. Só não esperava que tivesse uma arma e vários capangas para me cercar e tentar me matar. Realmente, Vanessa salvou a minha vida e se não fosse ela, eu não estaria mais aqui. Mas eu tenho que continuar com o que eu decidi para mim e simplesmente odiar ela e a outra. E por mais que eu esteja grato, nunca vou dizer isso a ela.
     — Devia voltar para seu bairro horroroso com aquelas pessoas da sua espécie. Finja que não existo, finja que não me salvou das garras do ser desprezível do seu irmão, não me faça perder meu tempo, que é precioso, com uma coisinha como você.
     Ela revira os olhos. — Vá se foder, seu mimado desprezível.
     Não gasto mais minha saliva com ela. Dou às costas e caminho até meu carro, lembrando do dia em que deixei Victoria tão assustada, que achou que iria sequestrá-la ou machucar seu querido marido que não a merece. Lembro também do dia da praia, quando ela tinha chegado com suas amigas, seus cabelos em cachos bem definidos e seu corpo tentador em um biquíni azul minúsculo. Todos os dias perto dela são uma tortura.
     Desde que Victoria começou a trabalhar aqui, eu soube que ela merecia. Aqui é o seu lugar. Mas cada dia que passava, cada hora ao seu lado, cada sorriso lindo, cada palavra que saia daquela boca, tudo isso começou a aterrorizar a minha mente. Eu passei a desejar apenas ela, meu corpo parece querer apenas ela porque sexo com outras mulheres parece o mesmo que comer um pedaço de papel e não um pedaço de bife.
     Ligo os motores e vejo a criatura que falava comigo há alguns segundos indo embora, sozinha, como se não temesse nada, nem a noite escura, nem os bandidos, mas considerando que seus parentes são criminosos, imagino que saiba se defender ou todos os delinquentes da cidade a conheçam, qualquer coisa assim.
     Ignoro qualquer coisa que tenha a ver com ela ou com... a outra. Decido dirigir para a estrada e ouvir uma música alta para não ouvir meus próprios pensamentos. Às vezes, tento fugir deles porque me levam sempre até ela. Eu não sei como aconteceu, mas luto sempre contra isso, tenho que lutar porque eu não quero ser como ele.
     Eu não posso ser como ele.
     Eu sou eu, ele é ele.

Inevitável - Corações em conflitos [COMPLETO NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora