Capítulo três

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Vanessa

    Arrumo as minhas coisas para ir para casa. Enquanto caminho, David olha para mim com desprezo, acho que agora mais do que antes. Desconfio que seja porque o Pistola quis matá-lo e acha que porque meus primos são uns bandidos, eu também seja. Mas isso não importa desde que não coloque em risco o meu emprego.
     Sopro um beijo para ele antes de ir embora, para deixá-lo irritado. David não faz nada além de entrar no carro e ficar lá dentro por alguns segundos, minutos. Nada que ele faz me importa então vou para casa.
     Demoro uma hora para chegar, mas todos já estão na cama. Faço o mesmo e aproveito as minhas horas de sono para ter forças para a faculdade amanhã. Só que recebo notificações sobre o site de acompanhantes de luxo. Eu só fiz isso uma vez, para comprar esse apartamento e conseguir alguns favores para Vivian estudar num lugar melhor. Não vou fazer isso de novo.
     Então, decido dormir, mas não demora para o alarme tocar. Amaldiçoo, mas mesmo assim levanto para tomar um banho e vestir. Felizmente, minha mãe e Vivian estão aqui, assim não tenho que ir com fome.
     Uso uma camisa vermelha com desenhos de flores que ganhei de presente no natal da minha amiga Irin, com uma calça jeans e sandálias. Não tenho muito o que fazer com o cabelo, então simplesmente penteio antes de sair do quarto.
     Ocupo uma das duas cadeiras desocupadas da mesa e sirvo café com leite numa chávena. Vivian está ao meu lado com o uniforme do seu colégio, que é uma camisa branca, um casaco cinzento, saia xadrez cinzenta e preta, meias compridas e sapatos pretos. Gostei que as saias são compridas.
     — Bom dia!
     Não tenho ânimo para fazer nada, mas eu tenho que cumprir a promessa que fiz ao meu pai, mesmo que seja tarde demais. Vou terminar os meus estudos e ninguém irá impedir. Só falta mais um pouco.
     — Como foi o trabalho ontem? — Minha mãe pergunta.
     — Teria sido melhor se o David não tivesse sido insuportável. — Como uma torrada.
     — Nebraska fala muito bem dele. Ela disse que é o melhor irmão do mundo.
     — Até pode ser, mas isso não muda o ódio que sente por mim.
     — Talvez não seja ódio. — Minha mãe sorri.
     — Que nojo. Para a minha sorte, ele está apaixonada por outra.
     — Mas admite que ele é lindo. — Vivian olha para o prato como se visse ele.
      Claro que ele é lindo. David é um dos homens mais lindos que eu já conheci. Ele tem uma beleza singular, seus olhos azuis são lindos em todos os sentidos, seus lábios, sua voz, tudo perfeito. Pena é que deve usar isso para definir aquele carácter podre.
     — Não vou fazer isso. — Levanto. — Estou atrasada.
     — Não está. Eu chamo a isso fugir do assunto. — Minha querida irmã sorri de um jeito cruel. — Você sabe que ele é lindo e é provável que sinta uma forte atração por ele.
     — Vou cortar a sua mesada por ser tão má.
     — Mas eu não fiz nada.
     — Claro que fez. — Beijo a testa da minha mãe. — Já vou. Qualquer coisa é só ligar para mim.
     — Não se preocupe.
     — Era brincadeira sobre cortar a minha mesada? — Vivian parece em pânico adolescente.
     — Adeus!
     Deixo ela em sofrimento sobre o assunto. Ainda não sei como estão as contas, mas com certeza que não faria isso por causa do seu comentário.

                               ****

    Depois das aulas, vou me encontrar com Irin, minha amiga. Nós moravamos juntas no seu apartamento, mas eu não quero dar mais trabalho. Gosto de ter as minhas coisas, lutar por elas. Viver de favor nunca me agradou.
    Ela fica ao meu lado e caminhamos para fora da universidade. Seus cabelos ruivos voam com o vento, enquanto seus olhos azuis como o céu brilham. Irin sempre foi a filha perfeita, aluna perfeita, aquela que faz tudo certo. Seus pais sempre foram muito protetores com ela, sempre mostraram um mundo diferente para que não sofresse, mas não perceberam que aquilo só a tornava cada vez mais ingénua. Talvez eu ter aparecido na sua vida tenha sido para mudar isso.
     Conhecemo-nos na adolescência, num acampamento para meninas e ficamos amigas desde então. O problema é que eu gosto de fazer muitas coisas, experimentar até o perigo, mas Irin tem sempre medo. Ultimamente, ela tem mudado um pouco.
    — Não tem planos para amanhã? Você sempre tem, Vanessa.
    — Talvez eu tenha. Pensei que iria estudar.
    — Não tem graça. Eu quero fazer o que você vai fazer.
    — Eu conheço um bar. O Silverbar, que é muito caro, provavelmente nem temos dinheiro para entrar lá.
    — E?
    — Vamos para lá.
    — Mas se não temos dinheiro, porquê nos humilhar desse jeito?
    — Porque os homens gostam de pagar bebidas a mulheres bonitas. Use um vestido sexy e vai ter vários convites para pagar bebida.
     — Às vezes, tenho medo de você. — Cruza os braços e olha para mim assim que pára seus passos.
     — Você teria se soubesse o que fiz há dois meses.
     — Se tem a ver com aquilo que você não quer que ninguém saiba, então não conte. Eu prefiro não saber também.
     — Não iria contar.
     Eu não gosto de falar sobre esse assunto, de quando o desespero me levou a procurar aquele emprego. Pelo menos, o assunto está bem enterrado e ninguém daquele evento me conhecia.
     — E também iremos encontrar homens atraentes? Precisamos de namorados.
     — Eu não preciso de namorado. Estou feliz solteira.
     — Bem, eu não. Eu não estou feliz solteira.
    Começo a rir da cara dela. — Dá para ver.
    Conversamos o caminho todo até que Irin vai para o estágio, e eu vou para casa porque meu turno ainda não começou. Aproveito para tirar um cochilo e estudar um pouco.

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