"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita."Amar, Carlos Drummond de Andrade.
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𝐴 𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑣𝑜𝑢 𝑡𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒𝑔𝑎𝑟 || 🄹🄹🄺
Fanfiction[Concluída] O poema fala sobre amor, mas nossa história é de como nosso amor se tornou questionamento, mágoa, ressentimento e mentira. Gostaria de ter mais palavras bonitas do que tenho para colocá-las aqui, mas pensando bem, talvez elas não valham...