Parte I

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A brisa que vinha era boa e fazia companhia para seus pensamentos antes tão solitários. Nunca pensou que estaria nessa situação, não pensou que lamentaria algo assim e se recriminava por isso, por nutrir tantos sentimentos. Ele havia deixado claro, nunca o iludiu, certo? Nem mesmo quando decidiu ficar mais umas horas na cama abraçando seu corpo nu ou quando o chamou para um jantar em uma noite amena ou quando ficou quase que a madrugada inteira falando em ligação e elogiando sua voz, dizendo que parecia uma melodia sagrada que o acalmava.

Mas nada disso importava mais, ou importava? Era difícil se lembrar da pessoa que era antes dele, como se não pudesse reencontrar mais aquele antigo Hidan. Se culpava, sempre se achou tão autossuficiente, e agora estava ali a ponto de deixar as lágrimas descerem por seu rosto enquanto acompanhava as ondas do mar quebrando na areia.

Não conseguia parar de abraçar forte as próprias pernas, uma música distante parecia tocar em sua cabeça revivendo momentos que ao mesmo tempo que queria guardar para sempre na memória também deseja que fossem destroçados pelo subconsciente. Uma historia que julgou errado, que alimentou a cada toque e agora passava fome apenas com a mínima lembrança de seu gosto doce. Era um ingênuo, um garoto tolo que pensou que poderia ser correspondido, foi avisado, mas preferiu confiar naqueles olhos verdes brilhando para si e o levando para um oceano manso e transparente. No fim, se sentia sozinho naquelas águas, se afogando, sufocando.

— Ficar ai lamentando não vai ajudar. — Deidara se aproximou sorrateiro quase o assustando ao começar a falar. Seus fios loiros batiam em seu rosto e ele teve uma vontade enorme de puxa-los, mas a vontade de não machucar o amigo era maior.

— Não seria melhor tentar conversar? Colocar tudo na mesa? — Não o encarou no rosto, sabia que Hidan chorava e também sabia que ele detestava que o vissem chorando e parecendo fraco.

— Pra que? Pra ouvir o desdenho dele? — Deu um leve soluço e abaixou a cabeça. Nunca havia se sentido dessa forma, era humilhante.

— Talvez tenha sido um mal entendido. A forma como ele te olha.. não acho que ele teve a intenção de te machucar.

— Mas machucou.. — Seu olhar era vago, não assimilava o que via, a tristeza parecia tomar conta de cada centímetro de seu corpo e então se lembrou do motivo de nunca desejar amar alguém.

— Vai acabar pegando um resfriado.. vamos voltar. — Se levantou na esperança que seu amigo seguisse seu ato, mas ele estava imóvel encarando a areia.

— Não pode ficar tão fragilizado emocionalmente por causa dele. Sei que é difícil no início, mas..

— Sabe? — O encarou com um pouco de raiva, talvez o culpando por estragar seu momento de tristeza. Por que simplesmente não o deixava ali? As pessoas também precisam dos seus momentos sozinhos, digerindo os acontecimentos ruins e desastrosos que percorriam suas vidas.

— Não deveria me perguntar isso.. você sabe muito bem o que fizeram comigo. — Sua voz era amargurada e com pesar. Entendia o que Hidan estava passando, mas não aguentaria ter aquele tipo de injuria pra cima de si.

— Me desculpa.. eu não quis te magoar e muito menos te fazer lembrar.. eu. — Queria se afogar naquelas águas que tanto observava a tarde inteira, não tinha o direito de jogar sua raiva em cima de Deidara e ainda mais o perguntando algo como aquilo, principalmente depois de tudo que o amigo passou.

— Está tudo bem, você não teve a intenção e está muito abalado. Vamos pra casa, Dan.. por favor.

— Ele está lá. — Sua mente se recusava a dar direção aos seus pés. Seu corpo apenas obedecia a dor de seu coração.

Amor subjugado.Onde histórias criam vida. Descubra agora