Camila

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capítulo um

"Alguém esfaqueou você no pescoço, garota!"

Meus olhos se arregalam e eu lentamente me viro em direção ao cavalheiro idoso parado do meu lado.

Ele pressiona o botão de subir do elevador e me encara. Ele sorri e aponta para o meu pescoço.

"Sua marca de nascença," ele diz.

Minha mão instintivamente sobe para o meu pescoço e toca a marca do tamanho de um centavo logo abaixo da minha orelha.

"Meu avô costumava dizer que o local de uma marca de nascença era a história de como uma pessoa perdeu a batalha em sua vida passada. Eu suponho que você foi esfaqueada no pescoço. Aposto que foi uma morte rápida, no entanto."

Sorrio mas não posso dizer se eu deveria estar com medo ou entretida. Apesar da sua conversa de abertura ser um pouco mórbida, ele não pode ser tão perigoso. Sua postura curva e atitude instável dizem que ele não está um dia a menos do que 80 anos. Ele dá uns poucos passos lentos em direção a uma das duas cadeiras de veludo vermelho que estão posicionadas contra a parede perto do elevador. Ele geme enquanto afunda na cadeira e então olha para mim de novo.

"Você vai até o 18º andar?"

Meus olhos se estreitam enquanto eu processo sua pergunta. Ele de algum jeito sabe para qual andar eu estou indo, embora essa seja a primeira vez que eu coloque os pés nesse complexo de apartamentos e é definitivamente a primeira vez que eu coloco meus olhos nesse homem.

"Sim, senhor," digo cautelosamente. "Você trabalha aqui?"

"Sim, trabalho."

Ele acena sua cabeça em direção ao elevador e meus olhos se movem para os números iluminados em cima. Onze andares para subir antes que ele saia, rezo para que seja rápido.

"Eu aperto os botões do elevador," ele diz.
"Não penso que esse seja o título oficial da minha posição, mas eu prefiro me referir como um comandante de avião considerando que eu envio as pessoas tão alto como 20 andares no ar."

Sorrio com suas palavras, uma vez que meu irmão e meu pai são pilotos.
"Há quanto tempo você tem sido comandante de avião desse elevador?" pergunto enquanto espero. Posso jurar que esse é o maldito elevador mais lento que eu já encontrei.

"Desde que eu fiquei muito velho para fazer a manutenção desse prédio. Trabalhei aqui 23 anos antes de virar comandante. Venho enviando pessoas em voos por mais de 15 anos, eu acho. O dono me deu trabalho por pena para me manter ocupado até eu morrer."
Ele sorri para si mesmo. "O que ele não pensou foi que Deus me deu um monte de coisas maravilhosas para abençoar minha vida, e agora mesmo, eu estou tão atrás que eu nunca vou morrer."

Eu me pego rindo quando a porta do elevador finalmente abre. Me abaixo para pegar a alça da minha mala e me viro para ele mais uma vez antes de entrar no elevador. "Qual é o seu nome?"

"Samuel, mas você pode me chamar de Cap," ele diz. "Todo mundo me chama."

"Você tem alguma marca de nascença, Cap?"

Ele sorri. "Na verdade, eu tenho. Parece que na minha vida passada, eu fui baleado bem na minha bunda. Deve ter sangrado."

Sorrio e levo minha mão para minha testa, dando para ele uma apropriada saudação de capitão. Entro no elevador e me viro para encarar as portas abertas, admirando a extravagância do lobby. Esse lugar parece mais como um hotel histórico do que um complexo de apartamentos, com colunas amplas e pisos de mármore.

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