Dia 01

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DIA 01

Minha própria tosse me acordou. Meus olhos pesados abriram-se vagarosamente, revelando que eu me encontrava em um quarto branco e escuro do qual eu não tinha memória. Para ser mais preciso, após abrir meus olhos completamente, eu percebi que era um quarto de hospital. Mal pude me perguntar o que estava acontecendo, que uma dor fortíssima atacou minha cabeça.

–Finalmente acordou, é?

Um homem de aspecto duvidoso estava no mesmo quarto que eu, em pé, mexendo nos instrumentos médicos. Ele era meu doutor? Não podia ser. O tal sujeito vestia uma calça presa por um suspensório, porém nenhuma camisa, trajava sapatos em estados precários e seus cabelos pareciam que foram cortados por um barbeiro que, na falta de tesouras, fez o serviço com as mãos, porém o mais precário e até assustador, era que a cor de sua pele havia sido completamente arrancada dele, restando um tom quase acinzentado. Não parecia um sujeito muito saudável.

–Quem é você? Por que eu estou aqui? – Antes que eu pudesse esperar por alguma resposta, notei que entre os instrumentos médicos os quais o homem manuseava, existia um punhal, e antes que eu pudesse pensar qualquer coisa a respeito disso, ele desferiu um ataque contra mim. Na tentativa de esquivar-me, caí da cama no chão e, nesse momento, percebi que todo o meu corpo doía, não apenas a cabeça. Ao menos a cama foi apunhalada no meu lugar.

Levantei-me assustado, fiquei em pé, cara a cara com o maluco que ainda segurava o punhal que apresentava algumas marcas de ferrugem, ele em posição de combate e eu tentando entender onde eu estava. A única coisa que nos distanciava, era o fato de que estávamos separados pela cama hospitalar, um em cada lado do quarto.

–Me perdoe pela indelicadeza. – Ele se desculpou como se fosse a coisa mais normal do mundo apunhalar estranhos desorientados – mas você sabe como são as coisas por aqui, não é? – Ele completou.

–Por aqui?

–Oras, mas é claro! – Eu não estava entendendo nada. – Meu nome é Tyler, e o seu?

–Meu nome... – Eu ponderei. – Meu nome é...

–Não vai me contar? Vai dizer que não se lembra do seu próprio nome. – Ele sugere em tom jocoso.

Sim! Eu havia esquecido meu nome! Aliás, no momento em que ele perguntou, eu notei que não lembrava absolutamente nada! Qual é meu nome? Quem eu sou? O que eu faço da vida?, mas principalmente: o que estou fazendo nesse hospital?

–Eu não me lembro. Não me lembro de nada. – Respondi devagar.

–Tchehehehe! Sério? – Esse homem tinha a risada mais característica que alguém poderia querer. – Mas que coisa engraçada! Então não sabe nada sobre esse lugar?

–Esse hospital?

–Garnet Crow! – Ele entoou como se estivesse anunciando o nome de um parque de diversões. - Essa cidade!

–Gar... O quê?! Nunca ouvi falar dessa cidade.

–Pois saiba que você é um morador de Garnet Crow, senhor esquecido, - o jeito que ele se movia me incomodava um pouco, parecia um desses mordomos bizarros que serviam a cientistas malucos. Ele continuou explicando para mim enquanto andava de um lado para o outro: – e que, a partir de agora, não pode mais sair daqui.

–Como assim? – Eu passei o tempo inteiro me concentrando na cama que separava nossos corpos enquanto falávamos. Esse maluco tinha acabado de me atacar, e agora estava conversando comigo com a maior naturalidade.

–Você está dentro de um jogo.

–Um jogo? Que tipo de jogo?

Ele passou os dedos ao lado de sua sobrancelha esquerda, indicando para que eu fizesse o mesmo. Sem entender o objetivo disso, eu o fiz, apenas para descobrir um estranho relevo na minha pele. Eu o encarei, pedindo informações com meu olhar confuso.

Garnet Crow - A Cidade FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora