Dia 02

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DIA 02

Na manhã seguinte, quando eu acordei, Maylock já estava de pé. Tenho a impressão que passou a noite inteira vigiando o nosso recinto para que ninguém viesse nos atacar, enquanto permitiu que eu dormisse tranquilo.

–Eu já descobri qual é a maior cabana. – Ele disse sem olhar para mim.

–Bom dia... – Eu respondi de maneira sarcástica, evidenciando o quão diretas estavam sendo as suas primeiras palavras direcionadas a mim naquele dia.

Meu corpo ainda doía devido ao dia anterior, mas a situação não permitia que eu me importasse com essa dor. Esfreguei meus olhos e me levantei, juntamos nossas coisas e fomos caminhando em meio às árvores, Maylock guiou o caminho sem nunca trocar uma palavra comigo até finalmente chegarmos ao lugar que ele havia identificado como a maior cabana da área. Fiquei me perguntando se ele tinha passado a noite inteira analisando as cabanas e me deixou sozinho no nosso “acampamento” ou se fez isso de manhã.

Já podia avistar a tal cabana, era enorme e tinha dois andares, toda feita de madeira e parecia, para mim, o lugar mais confortável do mundo, apesar de que minha ultima noite em uma cabana não foi nada agradável.

“AAAAHH!” antes que nós pudéssemos chegar à porta, fomos surpreendidos por um grito vindo da direção oposta, que logo descobrirmos estar vindo de um sujeito que vinha correndo de maneira desengonçada em nossa direção. Ele vestia um terno desalinhado e todo rasgado de maneira que era possível ver o forro branco da peça.

O homem fugia de alguma coisa, porém a cada passo que corria, quase tropeçava e seus óculos balançavam em seu rosto. Completamente opostos à sua postura desengonçada, três cachorros, aparentemente vira-latas, corriam ao seu lado de maneira militar. O sujeito continuou correndo sem ao menos perceber nossa presença, indo de encontro a nós, nesse momento, Maylock colocou seu corpo à frente de sua trajetória, para que ele esbarrasse e parasse. O cara caiu sentado no chão com tudo, só notando que nós estávamos lá depois disso.

–Por favor...! – Ele suplicou algo, suando e tremendo, para nós, enquanto ainda estava sentado no chão.

Maylock se agachou e pressionou a boca do cara com a palma de sua mão, para que ele parasse de gritar e fazer barulho.

–Quem está te perseguindo? – Ele perguntou. – Não fazemos parte das pessoas que estão atrás de você.

Logo a voz de outras pessoas chegou a nossos ouvidos: “cadê aquele cara?!”, “não deixem que ele fuja!”, e ainda ouvimos outra voz vinda de outra direção: “Ei! Por aqui!”.

A porta da tal cabana se abriu e uma mulher que, apesar de seus cabelos brancos e sua pele levemente enrugada, parecia manter o corpo em boa forma. Era o tipo de pessoa que você sempre erra que idade tem, pensando ser uns dez anos mais nova do que realmente é.

Ela nos chamou para escondermo-nos em sua cabana na floresta, o que era muito conveniente, pois, além de estarmos juntos de um cara que estava sendo perseguido por vários outros, essa cabana era nosso objetivo final.

Entramos rapidamente e Maylock começou a interrogar o sujeitinho desengonçado que entrou acompanhado de seus três cães. 
–Quem é você?! Você é maluco?! Por que estava sendo perseguido?!
Sinceramente, Maylock era muito duro, mas nesse mundo, todo mundo é suspeito. O cara começou a tremer nas bases enquanto o outro gritava com ele, suava e mal conseguia falar e toda vez que ajeitava seus óculos, eles se desalinhavam de seus olhos novamente. Ao mesmo tempo, os três fiéis caninos latiam em resposta à repressão que Maylock representava.

Nossa salvadora ofereceu para que nos sentássemos a uma mesa e disse para nos acalmarmos. Todos se sentaram e o interrogatório continuou.

–Meu nome é Arthur... – Ele explicou. – E... Bem... Eu... Eu... – Arthur falava de maneira confusa, batia os dedos uns nos outros insistentemente e tremia muito... Parecia que era, durante o tempo inteiro, um ratinho que sabe que vai virar o almoço de uma cobra a qualquer instante. Os olhares efusivamente desconfiados e furiosos de Maylock também colaboraram para a insegurança do rapaz.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2015 ⏰

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