7. A culpa é minha

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Abro os olhos vendo que ainda não avia amanhecido, não estou conseguindo pegar no sono, toda aquela história de possível depressão não sai da minha cabeça. E se eu não tiver nada? E se for só drama meu? O pior é que não tenho ninguém para falar sobre isso. A única pessoa que eu posso falar é o Hoseok, mas do jeito que ele é, contaria para a minha mãe na tentativa de me ajudar. Mas de qualquer forma, é melhor eu não dizer a ninguém. 

Pego meu celular vendo que não conseguiria dormir. São 4:12, de acordo com o relógio do meu celular. Fico vagando pelas redes-sociais a procura de algo que me tire do tédio, não tem nada de interessante, mas ainda é melhor do que ficar encarando o teto. Fico assim por cerca de uma hora e meia, estava começando a sentir sono. Coloco meu celular na mesinha ao lado da minha cama, mas antes que eu consegui me ajeitar na cama, ouço um estrondo, não muito forte, fora do quarto. Com um pouco de medo, levanto e abro a porta lentamente para ver do que se tratava. Vejo minha mãe pegar a bolsa do chão e descer as escadas. Oque ela vai fazer a essa hora? Ela não trabalha no final de semana. Abro um pouco mais a porta e saiu do quarto devagar.

---Mãe? Aonde você vai? Pergunto descendo a escada.

Mãe: trabalhar, né. Sem seu pai aqui a gente fica sem dinheiro, e como você não serve para nada, sobra para mim arranjar emprego.

---Você não tinha falado comigo sobre isso. Eu podia tentar arranjar algum trabalho, nem que fosse simples.

Mãe: e você ia trabalhar com oque? Sabe nem varrer o quarto e acha que consegue um trabalho.

---eu podia tentar.

Mãe: Yoongi, você não serve para nada. Ninguém iria querer te contratar. Seu pai estava certo quando te batia, só assim você cala a boca, eu devia ter deixado ele te bater naquele dia, ele não estaria preso e eu não iria precisar fazer dois trabalhos.

---Oi? Ele podeira ter me matado naquele dia, sem contar que ele te agredia.

Mãe: eu devia ter deixado ele te bater naquele dia

Paraliso. A minha própria mãe estava me dizendo aquilo. É como uma facada no coração, não sei explicar, mas aquilo doeu. Ela não ligaria se eu tivesse morrido, MINHA MÃE não ligaria se eu tivesse morrido. E pelo visto ela estava falando sério, ela só continuou arrumando a bolsa dela logo indo até a cozinha.

---Se eu tivesse morrido, oque você iria fazer?

Mãe: enterrar. Eu ia tirar um peso das minhas costas, ninguém te aguenta não.

---Ah...

Mãe:  Me olha tá com essa cara por que? Eu estou brincando. Voltar a preparar seu café sem mostrar nenhuma expressão.

---Ata, nada não.

Sinto um vazio em mim, sendo brincadeira ou não, ouvir isso dói, e muito! Dou um passo para trás e me viro, indo ao meu quarto. Fecho a porta e vou até minha cama, deitando na mesma.

"você não serve para nada."  

"eu devia ter deixado ele te bater naquele dia"

"Eu ia tirar um peso das minhas costas, ninguém te aguenta não." 

Suas palavras percorriam na minha cabeça. Se minha mãe pensa assim, imagina os outros. Eu não devo fazer falta para ninguém. Imagina como seria se eu não tivesse nascido, minha mãe iria estar com meu pai sem ter que trabalhar exageradamente, meu pai não estaria na prisão e teria uma vida bem mais feliz, já que ele mesmo disse que os problemas dele começaram quando eu nasci. O Hoseok não iria ficar preocupado comigo e, provavelmente, teria mais amigos, a S/n não ia ficar com um idiota iludido apaixonado por ela, todas as pessoas que tiverem o desprazer de me conhecer não teriam que ter tido aquele sentimento de desgosto ao me ver todo desengonçado como sempre. Eu não trouxe felicidade para ninguém, eu nem deveria ter nascido. 

Meus olhos enchem de água e uma lágrima escorre do meu olho. Oque que eu ainda estou fazendo vivo? Mais lágrimas começam a escorrer pelo o meu rosto, tento limpa-las com a mão, mais eu não parava de chorar. Para Yoongi, para com o drama. Para! Você só quer atenção. Boto as mãos nos meus cabelos os puxando forte, porém, devagar.

---para com o drama. Além de inútil é dramático? Digo a mim mesmo.

Me encolho ainda chorando, minha mãe já deve ter saído de casa. Puxo mais forte o meu cabelo com uma enorme vontade de gritar, coisa que não ficou apenas como vontade, pois começo a gritar, gritar alto o suficiente para me acalmar. Solto meu cabelo ainda com os olhos cheios d'água, eu ainda chorava, mas com a cara no travesseiro, sentindo um grande vazio me preencher. 

***

Acordo com os olhos ardendo, eles parecem estar inchados. Mas, já é de se esperar. Minha vontade de sair da cama avia sumido, eu só quero dormir até não poder mais, porém a falta de sono não está deixando. Pego o celular que estava com pouca bateria, abrindo o TikTok. Fico vendo os vídeos que apareciam na minha foryou até meu celular desligar. Bufo sabendo que não avia mais nada para fazer. Me sento na cama pensando no que eu poderia fazer. Posso ver televisão, mas não passa programa bom. Posso comer, mas não estou com fome. Posso sair, é..não é uma ideia tão ruim, mas para onde eu vou? Tem o jardim, apesar que eu só ficaria deitado na grama. Ah, tanto faz, vou só ir andando por ai. 

Troco a calça e boto um sapato, logo saindo de casa. Começo a andar sem rumo, sem ligar muito para onde eu estava indo. Ainda está de tarde, então não tem problema. Ando de vagar, entrando em ruas que nunca tinha visto antes. Crianças, bêbados...é tudo que eu vejo por onde eu passo, nada de interessante. 

Já anoitecendo, passo por um bar onde os homens estavam rindo e falando extremamente alto, pessoas da rua vizinha conseguiriam escutar. Acelero um pouco meu passo, bêbados arrumam confusão com tudo, e eu não quero acabar entrando em uma desas confusões. 

Xx: ei! Menino! 

Continuo andando sem olhar para trás, espero que não seja comigo e se for, espero que ele desista. 

Sinto uma mão no meu ombro me fazendo virar para trás, era um homem bem velho, cerca dos 60 anos.

Xx: oque você faz aqui? Nunca te vi na região.

---estou só de passagem, já estou indo embora.

Xx: qual seu nome?

---desculpa senhor, eu estou de saída.

Xx: eu perguntei seu nome.

Saio correndo ouvindo o homem me gritar, entro em várias ruas sem nem prestar atenção para onde eu estava indo, pois já estava um pouco escuro. Sabe-se lá oque poderia acontecer se eu tivesse ficado.

 Já cansado, ando de vagar até um banco de uma pracinha que tinha ali perto. Deito-me no banco fechando os olhos com a respiração ofegante. Eu sei que não posso ficar aqui, mas estou cansado demais para ir para casa. 

"Antidepressivos tratam a dor da depressão, mas não curam o sentimento de culpa e nem tratam a angústia da solidão."  

Lembre-se de mim {MYG}Onde histórias criam vida. Descubra agora