3. Grandes Confusões

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Aquela coisa vinha na minha direção, me fazendo recuar para trás. Com medo, acendo as luzes conseguindo ver oque era aquela figura. Pude perceber que era meu pai, oque me aliviou por cerca de um milésimo, já que o mesmo continuou vindo na minha direção, logo me golpeando com um soco no rosto. Caio no chão sem reação, aquilo avia doído, mas não tanto, talvez pela adrenalina. Tento levantar, mas antes que isso fosse possível, ele me golpeia novamente, dessa vez, com um chute no estômago. Gemo de dor enquanto me encolho, isso doeu bem mais que o soco.  Pude perceber que ele estava bêbado, como sempre, pois ele não tinha o equilíbrio do próprio corpo. Ele ficava se mexendo em um pequeno espaço, estava quase caindo. Aproveito o momento para levantar, ainda com dor, mas o medo de ser atacado novamente era maior. Estava com uma mão na barriga, devido a dor, e a outra na parede para conseguir ficar em pé. Ele vem até mim cambaleando, seu pulso estava levantado, pronto para me acertar. Jogo meu corpo para o lado, caindo no sofá. Ele se desequilibra e caí no chão, com isso, levanto do sofá e caminho até a porta. Meus passos eram lentos, porém rápido o suficiente contra um homem bêbado. Eu não sábia oque fazer, eu podia sair correndo e ir até a delegacia, mas isso não se passou pela minha cabeça. 

Pai: Seu desgraçado! Fala levantando Você não presta pra nada, moleque! Merece apanhar.

Suas palavras me machucavam mais do que socos ou chutes. Ninguém gosta de ouvir isso do próprio pai. Mas, isso já era normal de se ouvir, pelo menos pra mim, ele sempre fala coisas assim. Ele vem até mim novamente, dessa vez com as mãos preparadas para me enforcar. Eu já estou sem forças, não consigo me mexer. Fico imóvel, logo sinto suas mãos grandes tomarem conta do meu pescoço. Ele não estava brincando, apertava meu pescoço quase o quebrando. A falta de ar não demorou para chegar, sinto que já estava quase desmaiando. Minha visão estava toda embaçada, mesmo assim consigo ouvir um grito da minha mãe, olho para escada e lá estava ela. Ela desce apavorada, mesmo quase sem enxergar, consigo notar sua expressão. 

Mãe: Amor, não faz isso! Você vai matá-lo!

Pai: Ele merece isso, merece morrer! 

Ele continua a me enforcar, nesse ponto eu já avia desistido. Minha mãe continua a gritar para ele parar, mas de nada adiantava, ele queria me matar. Fecho meus olhos esperando o momento em que aquilo acabasse. Já estava rendido, não conseguia sair dali. Minha mãe, em desespero, puxou meu pai com toda a força que tinha. Por estar bêbado e com pouco equilíbrio, ele não aguenta o próprio peso e cai no chão. Abro meus olhos e puxo a maior quantidade de ar que consigo, meu coração estava acelerado, tento controlar minha respiração mas parecia impossível. Meu pai levanta furioso e começa a gritar com a minha mãe, enquanto isso, eu me apoiava na porta para não cair.

Pai: oque você pensa que está fazendo? Sua estúpida! 

Mãe: você vai acabar matando ele! Pare com isso! 

Pai:  estou tentando nos livrar desse incompetente. Pare de me atrapalhar.

Mãe: Não! Ele é nosso filho. Seu louco!

Ele se estressa e ergue sua mão para golpeá-la, a mesma se encolhe e bota as mãos no rosto afim de tentar se proteger. Vou até ele cambaleando um pouco, e seguro seu pulso na tentativa de ajudar minha mãe. Mesmo ele sendo bem mais forte do que eu, consegui segurá-lo. Minha mãe logo percebeu e foi correndo pegar o telefone. Meu pai me empurra novamente, fazendo com que eu bata as costas na porta. Consigo ouvir minha mãe falando com a polícia no telefone, meu pai parece não ter ouvido, talvez pelo efeito da bebida, menos mal. Quando me dou conta, já estava no chão novamente, enxergava tudo turvo. Estranho o fato do meu pai não estar me batendo, olho para o lado e enxergo as silhuetas dos meus pais, eles estavam brigando. Não aguentando mais, e desmaio. 

***

Acordo com uma enorme dor de cabeça, abro meus olhos e vejo que estou em um lugar bem branco com uns detalhes cinzas. Chego até a pensar que morri, mas vejo uns aparelhos médicos e entendo que estou no hospital. Um homem entra na sala, era um médico, devia ter cerca dos 30 anos. Ele me examina para ver se estava tudo bem e logo me libera. Antes de sair do hospital, sou avisado de que meus pais estavam na delegacia e que minha mãe avia falado para eu ir para casa. Apenas concordo e agradeço ao médico que chamou um táxi para mim. Como eu estava sem dinheiro no momento, ele fez questão de pagar. Logo chego em casa, nem faço questão de ver o horário, mas sabia que estava de madrugada, cerca de umas 04:00 horas. Subo para o meu quarto me jogando na cama. Eu estou tão cansado, não apenas de sono, mas do meu pai, toda essa situação está me matando aos poucos. Nesse momento, tudo oque eu sabia fazer, era gritar. Meu grito era agonizante, botei todo meu ódio para fora com isso. 

---EU NÃO AGUENTO MAIS! EU-NÃO-AGUENTO-MAIS!

E foi assim até eu finalmente pegar no sono...

***

Acordo com meu despertador tocando, ainda estou exausto. Pensei em faltar aula, mas Hoseok estaria me esperando lá, não vou deixá-lo lá sozinho, sei como ele fica desconfortável. Levanto e me arrumo para a escola, vou ao banheiro apenas lavando o rosto e passando o creme que minha mãe avia me dado, tendo a mesma sensação da primeira vez que avia passado. Pego minha mochila e vou para a escola, sem comer como de costume, não sinto fome de manhã. 

Chego na escola e logo avisto Hoseok no canto do pátio. Ele não avia mudado quase nada, só cresceu, está mais alto que eu, pouca coisa. Vou até ele e consigo ver um sorriso formar em seus lábios.

Hoseok: Yoongi, quanto tempo!

---realmente, bastante tempo.

Hoseok: desculpa perguntar, mas oque aconteceu? Seu rosto está machucado.

---meu pai..

Hoseok: ele ainda anda bebendo?

---sim, infelizmente.

Hoseok: ah..desculpa.

---você não tem culpa, de qualquer forma, ele está prestes a ser preso.

Hoseok: sério? Oque ele fez?

---Me bateu de novo,  quase me matou na verdade. E brigou com minha mãe enquanto eu estava desmaiado, provavelmente, bateu nela também, eles estão na delegacia.

Ele me olhava perplexo enquanto eu falava, a família dele é bem diferente da minha, eles parecem anjos. Como ele estava desconfortável, mudo de assunto.

---mas enfim, como era a escola lá?

Hoseok: ah, era até que legal. Os estudantes são divertidos, mas não é a mesma coisa que aqui.

---entendi.

Hoseok: mas e aqui, como tem sido nesse tempo?

---ah, continua tudo igual, não mudou nada.

Ele concorda com a cabeça e olha ao redor, o olhar dele fixa em um local e ele logo sorri de novo.

Hoseok: EI! S/n, vem cá. 

Ele grita e então percebo para onde ele estava olhando, no caso quem ele estava olhando. Ela abre um sorriso e vem correndo até ele o abraçando. Pera, ela lembra dele? Já faz dois anos que ele mudou de escola, eu sempre estudei com ela e ela nem sequer sabe o meu nome.

S/n: Hobii, que saudades.

Hoseok: eu também estava com saudades, já faz tempo, né?

S/n: sim, muito tempo.

Ela olha para mim e sua feição fica confusa. 

S/n: Ah, prazer. Meu nome é S/n, e você é...?


"Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor, estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia."   ~Clarice Lispector~




Lembre-se de mim {MYG}Onde histórias criam vida. Descubra agora