4- Cellbit I

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Respirei fundo balançando as mãos nervoso, Ana Rosa me deixava nervoso, nossa amizade estranha havia começado estranha e se dava sendo estranha. Ela era fofa e meio tapada ao mesmo tempo, mas não tapada de uma forma ruim, só meio lerdinha e muito engraçada, um pouco desastrada, mas muito, muito simpática.

Estava esperando ela na frente do bar onde havíamos marcado, era na verdade a segunda vez que eu veria ela e isso só me deixava mais nervoso ainda. Ana Rosa apareceu na esquina ajeitando a bolsa no ombro e mexendo no celular, os cabelos longos estavam lindos e brilhantes, ela tinha passado um batom vermelho nos lábios e estava estupidamente linda naquele momento. Encarei minhas roupas, uma calça jeans, um tênis, uma camiseta e uma jaqueta, parecia muito sem graça perto dela, mas aquilo não fazia diferença agora.

-Carazinho!-Ela exclamou pulando e abraçando meus ombros, ri dela abraçando sua cintura e depositando um beijo no ombro dela.-O-oi!

-Oi capital.-Disse animado me afastando para encarar o rosto dela que estava ligeiramente vermelho.-Ei eu senti sua falta.

-Senti sua falta também.-Ela disse apertando a bolsa com as duas mãos e sorrindo estranha para mim.

O tempo nublado de São Paulo deixava a noite mais fria do que deveria estar, além do vento forte que passava por nós. Esse mesmo vento bagunçou os cabelos de Ana fazendo ela franzir o nariz e balançar a cabeça tentando tirar a mecha da frente do rosto, ri e estiquei a mão ajeitando o cabelo dela atrás da orelha da mesma fazendo ela ficar completamente estática. Me virei encarando o bar que parecia mais tranquilo que o normal naquela noite, voltei a encarar Ana Rosa que estava encarando o chão com os olhos arregalados e a boca aberta, parecia chocada.

-Vamos entrar?-Perguntei apontando para o bar. Ana levantou a cabeça e concordou sorrindo em seguida.

Entramos no bar e seguimos para uma mesa mais ao fundo nos sentando lá. Puxei o cardápio de bebidas que havia ali, observando as cervejas enquanto Ana olhava os drinks. Levantei o olhar para ela vendo ela confusa.

-Vamos trocar. -Disse pegando o cardápio dela e entregando o meu para ela.-Me escolhe uma cerveja e eu te escolho um drink.

-Eu amo canela.-Ela avisou sorrindo e mordendo o lábio inferior enquanto lia as opções de cerveja no cardápio.-Ok, escolhido.

-Escolhi também!-Respondi quando o garçom se aproximou. Pedi sem que Ana notasse apontando para o cardápio e ela fez o mesmo, o garçom sorriu e se retirou.-Como foi sua semana?

-Chata, temos um trabalho da faculdade e minhas grandes amigas me pediram para ser do grupo delas.-Ela respondeu e eu fiz careta, Ana Rosa não tinha amigas, bom, não amigas de verdade, ela era do tipo que ficava mais em casa do que saia, mas muito inteligente, por isso as garotas que faziam faculdade com ela adorava montar nas costas delas em trabalhos.-Já avisei o professor que vou fazer sozinha.

-Isso aí, faz sozinha mesmo, essas idiotas que se ferrem.-Concordei com ela enquanto o garçom me entregava minha cerveja e entregava para Ana o drink dela.-Tenho uma amiga que cresceu na Espanha, ela me fez um desses uma vez, na real, parando pra pensar ela é meio alcoólatra.

-Qual o nome dela?-Ana perguntou antes de dar um gole na bebida dela.-Isso é bom demais.

-Ela chama Lua, namorada de um amigo meu.-Respondi dando um gole na minha cerveja enquanto ela sorria para mim, se ela continuar sorrindo pra mim assim não vou conseguir manter essa amizade.-Ela começou a namorar esse amigo meu depois que o cachorro dele invadiu a casa dela, eles eram vizinhos, são ainda na verdade.

-O cachorro dele invadiu a casa dela?-Ana perguntou confusa e eu concordei.

-Acho que o cachorro tava tentando juntar os dois desde o inicio, eles estavam viajando esses dias, pra Porto de Galinhas se não me engano, são uns fofos.-Comentei procurando em meu celular a foto que Mount havia me enviado ontem, dele, Lua e o cachorro na praia.-Aqui, eles até levaram o cachorro.

-Nossa, que casal bonito!-Ana exclamou chocada e eu concordei com a cabeça, eles eram realmente um casal lindo.-Então eles são o casal pais de pet?

-Sim, temos também o casal 8 ou 80, brigam, terminam, voltam e do nada tão morando juntos.-Comentei e ela riu alto ajeitando os cabelos, ela ficava linda de qualquer ângulo mesmo, que mulher incrível senhor.-E temos o casal ela manda, ele obedece.

-Oi?

-Amora e Calango, eles são tipo, casal de filme mesmo, ela dava todas as cantadas nele e ele achava que era piada, ai um dia ela beijou o amigo dele e ele tomou um chega pra lá, eles tão juntos tipo, 24 horas por dia.-Expliquei tendo toda a atenção dela em mim, eu nunca sai com uma garota que prestasse tanta atenção assim em mim.-Juro que se eu mandar mensagem pra um deles agora o outro responde.

Ana riu antes de tomar outro gole de sua bebida.

Uma sensação estranha se apossou de mim, sabe aquela sensação de saudade de algo que você meio que não tem, era exatamente o oposto disso, era a sensação de encontrar algo depois de nunca ter esperado por aquilo, como se as peças se encaixassem finalmente e tudo começasse a entrar nos eixos. Ana começou a falar sobre seus pais e eu me concentrei totalmente nela naquele momento, como se ela fosse a única pessoa no mundo, isso me deixava estranhamente confortável e calmo, como se ela fosse exatamente quem precisava ser.

Não sabia como havia me esbarrado justo com Ana Rosa em toda São Paulo, mas se existia destino era exatamente aquilo que ele fazia, te juntava com a pessoa que você mais precisava sem nem mesmo ter noção de que precisava. Durante toda a noite eu me peguei perdido nos sorrisos dela, nos gestos animados, nos olhos calorosos e em tudo o que ela fazia, desde mexer a cabeça e balançar os cabelos até a mania que ela tinha de franzir a testa quando algo surpreendente aparecia entre nós. Acho que acabei me metendo em uma grande roubada.

Mas não tô muito afim de escapar dela, ainda mais se essa roubada for Ana Rosa Carvalho.

Coringa- CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora