Prólogo

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Eu nasci assim. Com espinhosvenenosos sobre toda a minha pele.Repelindo, assustando erepugnando as pessoas.

 Meu aspecto é de um monstro.Medonho, feio e desrespeitoso.Para muitas pessoas é justamenteisso que sou: um desrespeito àhumanidade; para outras, nemhumana sou. Seria mais digno paraseus olhos se eu não existisse. Namaioria das vezes, penso que elasestão certas e recolho-me à minhainsignificância.

 Eu deixo o mundo mais feio. 

Entretanto, há vezes em que meucoração não aguenta e me pede parasair de casa, ver a cor do céu esentir o cheiro da grama. E verpessoas, acreditando que talvezelas não me olhem com ânsia devômito, só para variar um pouco.

 Isso nunca acontece; passo osdias seguintes chorando por ser tãofeia e diferente. 

Eu aprendi, com tantos olharesde nojo que recebi, que há belezaem tudo. Há beleza na tristeza e nador, até mesmo na raiva. E hábeleza na vida, em suas despedidase em seus desencontros. E tambémem suas artimanhas maquiavélicas,sempre adiando a felicidade. Masem mim, não. Não há belezanenhuma em mim.

 Não é bonito nem fácil ser eumesma. 

Além de comprometer minhaaparência e impedir que eu sejatocada ou que toque alguém, osespinhos sobre minha pele tambémsão uma máquina mortífera, poisestão cheios de veneno. Sou umaforça da natureza pronta para matarqualquer predador ao simplestoque.

 Se eu tivesse nascido com bula,os efeitos colaterais seriam:urticária, inchaço, ardência,lacrimação, irritação de mucosas,problemas respiratórios e, em casograve, parada cardíaca.

 Portanto, o aviso foi dado. Sevocê quer continuar a conhecer atrajetória sinuosa de minhaexistência literalmente espinhenta evenenosa, fique à vontade.

 Nunca compreendi quando dizemque "nem tudo são flores". Será quequem fala isso já pensou comoseria se tudo fosse espinhos? Éassim comigo.

 Foi assim comigo.

 Até o dia em que...

 Certos olhos me encontraram eviram algo belo em mim. Algo queeu nunca vi e nunca veria. Segundosuas próprias palavras, eu erabonita porque havia brilho no meuolhar. Não um brilho qualquer, masaquele que só tem quem conhece avida e suas facetas mais tristes, eainda assim não desiste decaminhar sob o sol.

 Ele disse que meus espinhoseram necessários porque elesfaziam de mim uma roseira rara. Aúnica a caminhar sobre a terra ecapaz de realmente se apaixonar.

 Finalmente alguém havia vistopétalas em mim.

A menina feita de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora