COMO BORBOLETA

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"3012 PALAVRAS"

Quando era pequeno tinha medo de borboletas. Quando via uma saia correndo e gritando para o desespero do meu pai e angustia da minha mãe que corriam em meu socorro.

Isso até eu chegar aos meus 8 anos e tio Frank me apresentar o maravilhoso mundo da taxidermia de borboletas. E como aqueles monstros podiam tornar-se obras de arte penduradas em paredes. E assim me apaixonei, começando uma colação e perdendo o medo por aquilo que não entendia.

Isso até a sua chegada.

Você sempre foi um mistério para mim. Aquele casulo jovial que irrompeu em minha janela em uma noite de verão, simplesmente, dizendo:

— Oi, sou Louise, sua nova vizinha — suas palavras não foram dirigidas a mim, pois seus olhos estavam mais preocupados em avaliar o meu casulo, mas ao completar sua frase, finalmente seu olhar repousou sobre a minha figura confusa — Mas pode me chamar de Lou.

Você sustentou sua mão no ar, esperando que nosso primeiro toque fosse dado. E assim foi, enquanto o seu sorriso lateral, um pouco convencido, não havia me encantado. Porém aquele fato pareceu não incomoda-la, pois sua atenção estava nos quadros com borboletas penduradas na parede do meu quarto.

No começo foi assustador tê-la como vizinha. Na segunda vez que tivemos contato as palavras quase engasgaram em minha garganta, me fazendo parecer um idiota, mas não era nervosismos, apenas o fato de que você era demais para mim processar. Poderia definir hoje como medo, coisa de um garoto de 12 anos.

E com o tempo sua presença foi deixando de ser esquisita, para tornar-se agradável e finalmente essencial. Não sei se era a forma como você ria – quase gargalhando -, talvez o seu desinteresse por borboletas, quadrinhos ou filmes de terror fizessem minha curiosidade ser aguçada. Não tínhamos nada em comum. E mesmo assim sua presença era inevitável quase todas as tardes.

E deixamos de ser dois completos estranhos para nos tornarmos amigos.

De repente você tornou-se borboleta diante dos meus olhos, fazendo-me questionar: quando o tempo tinha corrido?

E não o vi passar, mal percebi você deixar a pele de moleca para passar a usar a de uma mulher sensual que fazia meu coração palpitar e meu pau apertar. Seu cheirou começou a fazer falta nas tardes – e nas noites e manhãs -, causando um vazio que não compreendia com meus 16 anos. Começava a ansiar por nossos momentos juntos, mas eles estavam tornando-se escassos, afinal, você batia asas e outros meninos percebiam suas belas asas. As mesmas que ignorava até então, e esse foi o motivo da nossa primeira briga.

Não esqueço suas palavras:

— Você está agindo como um mimado ciumento, Niles — seu tom jamais tinha sido alterado na minha presença, mas naquele dia você o alterou — Eu saio com quem eu quiser.

E assim seu corpo passou pelo vão da minha janela guilhotina, voltando apenas quinze dias depois, quando Bango – esse nome parecia de cachorro – partiu o seu coração, ao deixar claro que não eram exclusivos.

Eu acolhi o seu pequeno corpo entre meus braços, senti o calor se alastrar no interior do meu peito, inalei o aroma das suas madeixas e finalmente tomei coragem. Finalmente o menino asmático e careta tomou coragem e tomou os lábios da sua Lou. E foi terno, fantástico, com fogos de artificio. E um beijou levou a outro, outro e outro. Até amanhecermos nus, nos braços um do outro na velha casa da árvore no meu quintal. Quando eu me tornei biólogo, você terminava seu curso de fotografia e apostando todas as minhas fichas arrisquei e pedi que você se tornasse a senhora Niles Jackson.

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