Capítulo 15- O passado de Rudorve.

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      Eles se aconchegaram no lar e não paravam de me fazer perguntas. Todos os 16 membros do grupo tinham idades entre dezesseis e dezessete anos. Trent tinha dezessete e parecia bem mais autoritário do que a maioria deles cobiçaria ser.

     Ofredy sorria com um subgrupo de duas garotas e três rapazes de frente à cozinha. Gina conversava com uma menina de cabelos rosa e roupas excessivamente pretas, usava piercing na sobrancelha e nariz. Rudorve serviu purê de carne de Crafo e legumes de Sonoras, a planta que dá uma leve sensação de sono. Servira o Melado, como de costume, e suco de pêssego com amoras.

     O dia seguinte nunca foi tão movimentado. Eu acordei em meio a um cerco de garotos e garotas. Trent estava ao lado de minha cama.

- Que bom que você acordou, senhor! O café está servido! - eu pisquei várias vezes e tentei voltar à realidade. Era isso mesmo? Trent agindo como um serviçal a meu favor?

- Olha só Trent... Não precisa...

- Vamos, senhor! Estão todos esperando no andar inferior! - A garota de cabelos rosa me puxou da cama e limpou minha roupa. - O senhor não pode ficar com o organismo mal funcional! Apetite-se de um Melado que Racorve preparou...

- Rudorve. - a corrigi.

- Cuidado, Arnele. Não o trate com tanta brutalidade! - resmungou Trent, afastando a garota para longe de mim.

- Desculpe, líder. Desculpe,  senhor. - Ela baixou a cabeça e curvou os lábios, mencionando tristeza. E correu para o andar de baixo.

    Fomos em seguida para a cozinha e comemos. Terminei mais rápido do que imaginei. Encontrei Gina no corredor ao lado da escada. Algo me atraiu e não sei o que pensei, porém pus minhas mãos ao redor de sua cintura e a beijei. Ela retribuiu cedendo a vontade. Queria que tudo isso continuasse quando desse certo o ataque.

     Num instante ela subiu, dando-me um outro beijo. Um minuto depois encontrei Rudorve remexendo na caixa de fitas para quadros.

- Senhor Mertin, está tudo bem? - perguntei.

- Não. Sim. Não. Na verdade não quero ter que mentir. Não. Não estou bem. - falou ele, logo focando em mim e não nas fitas que caíam no chão compassadamente. - Não por estarem todos aqui, mas por mim mesmo. Eu nunca imaginaria que alguém pudesse estar salvando essas crianças do Cérebro!

- Acha que alguém salvou todos os bebês?

- Tenho absoluta certeza. Uma pessoa, um militar, o que quer que seja... levou essas crianças ainda recém-nascidas para outro lugar, e não para o Cérebro, para que ele pudesse enviar para as Legiões. Mas quem faria isso?

Pensei sobre isso. Desde minha infância sempre convivi com militares e missões em todas as Legiões. Mas nunca ouvi uma história como essa. Me distanciei de Rudorve e procurei por Trent.

      Ele estava devorando a última tigela de ensopado de legumes. Arnele ria ao seu lado, então suspeitei estar tudo bem entre eles.

- Posso fazê-lo uma pergunta? - digo, e ele larga a tigela e fica de pé a minha frente.

- Sim, senhor.

Tentei escolher minhas palavras com esmero.

- Como conseguiram fugir da Cadeia?

Ele engoliu o restinho de ensopado preso na boca e respondeu:

- Arfelo. Ele sempre nos criou em uma caverna ao sul da Legião da Marinha. Mas há dois anos ele estava velho demais para resistir aos nossos cuidados, então partiu.

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