Café para dois, para nós dois

Capítulo Único

   O barulho do despertador soou alto e irritante, Khaotung se virou na cama e colocou o travesseiro sobre a cabeça tentando ignorar aquele som que significava que mais um dia se arrastaria pela frente. Logo desistiu de sua tentativa falha de fingir que não havia acordado, desligou o despertador e se pôs a encarar o teto de seu pequeno apartamento, havia infiltrações por todos os cantos, aquela imagem traduzia sua vida. Queria poder não ter que levantar cedo, mas era necessário, reuniu todas as suas forças para conseguir levantar da cama, sua pressão caiu e sua visão se escureceu por um momento. Se manteve sentado olhando o pequeno armário até que sua visão voltasse ao normal. Se arrastando foi até o banheiro tomar um banho para despertar seu corpo.

   A água estava gelada e o dia frio, entretanto não se incomodava mais, estava acostumado com o chuveiro queimado que sempre prometia consertar no próximo fim de semana, mas acabava nunca consertando. Terminou seu banho e ficou se olhando no pequeno espelho acima da pia, suas olheiras estavam voltando a dar sinais. Estava exausto com sua rotina de ir ao curso de manhã e logo depois sair correndo para trabalhar numa pequena lanchonete do outro lado da cidade. Abriu a geladeira na procura de algo para comer e se deparou com a mesma vazia, tinha esquecido de fazer as compras no dia anterior, se xingou mentalmente. Voltou ao quarto para terminar de se arrumar rápido e conseguir comer algo na rua antes que sua aula começasse. Em menos de dez minutos já estava na frente de seu velho prédio apressado para comer algo e não acabar desmaiando durante a aula.

   Encontrou um mercadinho onde entrou e comprou uns biscoitos para não passar fome e enganar seu estômago até a hora do almoço, correu o mais rápido possível até alcançar o prédio do pré-vestibular que fazia, chegou na sala de aula com falta de ar e já se desculpando pelo atraso, mas estranhou a falta da presença do professor, caminhou até seu lugar no canto da sala, ao lado da sua única amiga naquele curso, Love Pattranite, que estava distraída mexendo no celular que não percebeu a presença do amigo.

   — Love, onde o professor está? — Perguntou atraindo a atenção da amiga que se espantou ao ver o estado do amigo.

   — Não viu minha mensagem avisando que o professor do primeiro tempo iria faltar hoje? Você veio correndo de novo? — A amiga perguntou com preocupação em sua voz.

   — Eu esqueci de passar no mercado ontem e fui correndo comprar alguma coisa para comer e não desmaiar, nem pensei em olhar o celular agora de manhã. Se eu tivesse olhado talvez estivesse menos exausto agora — Khaotung responde tentando recuperar o fôlego da sua corrida matinal para não chegar atrasado numa aula que nem iria acontecer, e mais uma vez se xingou mentalmente por não ter pensado em olhar o celular naquela manhã.

   — Você precisa cuidar mais de si. Fica fazendo hora extra todo dia e acaba esquecendo das coisas básicas. Como pretende prestar o vestibular se vive exausto de tanto trabalhar? Vai acabar se dando mal nas provas — Love aconselhou.

   Toda manhã era basicamente o mesmo discurso e Khaotung já havia se acostumado, mas ele precisava fazer as horas extras para conseguir juntar dinheiro para fazer faculdade, recebia pouco e seu dinheiro ia quase todo para as contas e compras do mês. Então tirava hora extra para conseguir juntar dinheiro para pagar a faculdade. Sua mãe havia juntado um pouco durante sua vida, mas infelizmente o moreno queria cursar um dos cursos mais caros e precisava ele mesmo complementar o dinheiro da faculdade, não gostava de pedir dinheiro para sua mãe, que se virou sozinha a vida inteira para criar o filho.

   — Eu sei, eu sei. Juro que quando chegar a época das provas eu não vou tirar horas extras, para descansar um pouco, mas agora eu preciso delas, você sabe, né?" Love então mais um dia se deu por vencida, eram sempre os mesmos argumentos que ambos utilizavam em suas discussões matutinas.