Além Dos Seus Olhos - Duologia (Livro Um) [DEGUSTAÇÃO]

Capítulo 6

Deu tudo muito certo, foi até melhor do eu esperava, o meu "plano" com seu Renato foi impecável, ele mostrou uma foto do Gabriel para vovó, até a ideia de pedir o celular emprestado foi da minha avó, e parecia também que o Henrique estava a par dos acontecimentos, pois ele me convidou para um sorvete com Gabriel, sem isso tudo teria dado errado, pois nunca mais nos encontraríamos de novo.

Nesse momento eu estava na empresa, esperando Camille para irmos almoçar, perdida em pensamentos quando ouço alguém se aproximar e o perfume familiar do Seu Renato chega ao meu nariz, levanto de minha cadeira para recebe-lo, pois já sabia exatamente qual era o assunto que o trazia aqui.

—Olá Sophie. Como está? -Pergunta todo formal como sempre.

—Estou bem seu Renato, e como anda as coisas com o Gabriel? -Pergunto mais ansiosa do que pretendia.

—Tudo correndo perfeitamente bem, como eu imaginei você foi incrível. E eu já conversei com o Henrique, hoje mesmo ele vai tocar no assunto sobre se encontrarem de novo com o Gabriel. -Diz ele, e posso sentir a alegria exalando por todos os poros dele.

—Isso é ótimo, estou muito feliz em poder ajudar. -Digo sorrindo também.

—Melhor que isso, Sophie você está salvando meu filho. Salvando-o Sophie! - Ele diz contente.

E um aperto se instala em meu peito, quero estar contente por seu Renato, por saber que realmente estou ajudando o Gabriel, mas algo dentro de mim parece não concordar com isso, e eu não me sinto tão bem como eu gostaria.

                        ❤️❤️❤️

Estou no meu quarto essa noite, ouvindo minha play list favorita, a música sim salvou minha vida, e me proporciona o que a visão não pode mais, ouvir musica alimenta minha alma e minha vida, colorindo tudo de uma forma magica.

...E quando chega a noite e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão
Pro tanto que eu te queria o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de você
Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário...

A Noite (Tiê)

                     ❤️❤️❤️

A musica aquece meu coração, é ela que me fez seguir, me fez ser ainda mais forte do que já sou, é ela que faz aplacar a saudades do meu pai, que sempre que podia estava tocando violão em uma rodinha de amigos e parentes.

Meu coração dói de saudades do meu pai, de saudade da vida que eu tinha antes do acidente, quando eu ainda via tudo, e hoje apesar de eu não enxergar, sinto que vejo as coisas bem melhor que antes. Pois sinto quem quer o meu bem ou quem não gosta de mim, como foi com a Samantha. Penso em tudo que poderia ter acontecido se aquela noite não tivéssemos saído para a pizzaria, se tivéssemos realmente feito a festa de aniversario que a mamãe queria. Mas tudo acontece por um proposito, apesar de eu ainda não saber qual era.

Ouço a porta do meu quarto sendo aberta e sinto o familiar aroma de rosas da mamãe, um cheiro de lar, de casa e de amor que só ela exala.

—Saudades do papai não é filha? - Pergunta ela, como se soubesse exatamente o que estou sentindo, coisas que mães sempre sabem, quando a filha precisa dela. E naquele momento tudo que eu mais precisava era do colo da minha mãe.

—Vem cá, meu amor. - Diz ela me aconchegando no seu colo e fazendo cafune na minha cabeça, como quando eu tinha 8 anos de idade.

—Pronto, vai passar...- Ela diz me acalentando no seu colo enquanto eu choro, por saudades, por arrependimento de ter ido a pizzaria aquela noite, uma dor forte que mesmo mamãe dizendo que vai passar eu não consigo acreditar completamente nisso, pois eu sei que a dor da saudade é eterna em nossos corações.

                   ❤️❤️❤️

Na manhã seguinte eu estava exausta e com dor de cabeça de tanto chorar, minha sorte é que era sábado e eu não precisava ir trabalhar. Passei o resto da manhã toda na cama, vovó e mamãe estavam preocupadas, mas nesse momento eu não me importei, precisa de um tempo só meu, precisava pensar na minha vida, em tudo que eu tinha agora e tudo que eu nunca mais poderia ter.

Tateio a bancada do lado da minha cama, a procura do meu ipad, pego-o e coloco a minha salvação e única consolação: a musica.

Canto minha vida com orgulho
Na minha vida tudo acontece
Mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce
Hoje estou feliz porque eu sonhei com você
E amanhã posso chorar por não poder te ver
Mas o seu sorriso vale mais que um diamante
Se você vier comigo, aí nós vamos adiante
Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus
O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu
A vida me ensinou a nunca desistir
Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir
Podem me tirar tudo que tenho
Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo
E eu sou feliz e canto e o universo é uma canção
E eu vou que vou

Dias de lutas, dias de glória (Charlie Brown Jr)

Me perco no som e não ouço mais nada, apenas a musica e minha dor que parece ser mais alta que meus fones no ultimo volume.

Sinto o lado da cama afundar e mãos pequeninas me abraçarem, sua mãozinha acaricia meu rosto, limpando mais uma lagrima que escorre sem que eu note, é a pessoazinha mais carinhosa que eu já conheci em minha vida, meu irmãozinho; Eduardo.
Tiro um lado do fone para ouvir o que ele diz.

—Chora não Sow...- Me chama com o apelido carinhoso que eu amo.

—A irmãzinha não ta muito bem meu amor, mas vai passar. -Digo tentando tranquiliza-lo.

_Eu sei que você ta com saudades do papai, mamãe me disse. Mas sabe, ele ta melhor agora no céu, eu sei disso, sonho com ele sempre e ele me diz que tá bem. - Fala meu irmãozinho, que nesse momento parece ter mais do que seus meros 9 anos de idade. Mais uma lagrima rola pelo meu rosto, mas dessa vez de gratidão, por ter uma família maravilhosa, que me ama muito e não poderia estar melhor, realmente, papai com certeza não gostaria de me ver assim.

Levanto da cama, tiro meus fones de ouvido e falo para meu irmãozinho.

—Você tem razão. Vamos descer e tomar um sorvete que eu sei que o vovô comprou, vendo nosso filme favorito.

E assim eu passo o resto da minha tarde, sem me martirizar nem mais um minuto, porque eu sei que a saudade sempre vai morar no meu peito, mas tenho que saber valorizar minha familia, pois eles ainda estão aqui, lutando por mim, por eles mesmo e eu sei que no final conseguiremos vencer cada obstáculo e desafio que a vida colocar em nosso caminho.

                   ❤️❤️❤️

No final daquela tarde ouço meu celular tocar insistentemente no andar de cima, tento chegar o mais rápido possível no meu quarto, curiosa, pois raramente recebo ligações. Quando finalmente alcanço o celular e atendo me surpreendo, pois eu sabia que isso poderia acontecer, mas nunca imaginei que tão rápido.

-Alô? - Atendo a chamada e a voz grave do outro lado da linha responde rapidamente;

-Sophie, aqui é o Gabriel, gostaria de saber se ainda podemos tomar aquele sorvete?

Meu coração acelera, e por incrível que pareça me encontro nervosa apenas por ouvir sua voz, pois ele mal falou quando no encontramos.
O que tá acontecendo com você, garota? É meu pensamento quando finalmente respondo;

—Claro, vou adorar.