Ainda não me acostumei com as palavras
elas parecem debruçar sobre o papel
e pouco a pouco deixam-se ser
organizadas
quando não há nada que exija a ordem delas
sem direção a caneta borra a folha
num descontínuo pulsar de sentimentos
misturam-se palavras e momentos
e uma mão deixa-se levar
embalada pelo som de algumas vírgulas
me acalento com os rabiscos que nada falam
mas aos meus olhos podem dizer
muita coisa
e de repente numa fúria sem sentido
permito-me rasgar o tenso papel
com confissões daquilo que não ocorreu
e num gesto pouco ou nada racional
a lixeira devora um pedaço de mim
que a caneta borrou naquela folha
e agora o meu cérebro reluta
numa tentativa de recomeçar a história
e novamente as minhas mãos acalentadas
pelo som agora de outras vírgulas
voltam a sorrir para a caneta
que vai borrando uma folha sem sentido....