3-Poesia

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Ainda não me acostumei com as palavras

elas parecem debruçar sobre o papel

e pouco a pouco deixam-se ser

organizadas

quando não há nada que exija a ordem delas

sem direção a caneta borra a folha

num descontínuo pulsar de sentimentos

misturam-se palavras e momentos

e uma mão deixa-se levar

embalada pelo som de algumas vírgulas

me acalento com os rabiscos que nada falam

mas aos meus olhos podem dizer

muita coisa

e de repente numa fúria sem sentido

permito-me rasgar o tenso papel

com confissões daquilo que não ocorreu

e num gesto pouco ou nada racional

a lixeira devora um pedaço de mim

que a caneta borrou naquela folha

e agora o meu cérebro reluta

numa tentativa de recomeçar a história

e novamente as minhas mãos acalentadas

pelo som agora de outras vírgulas

voltam a sorrir para a caneta

que vai borrando uma folha sem sentido....

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