Capítulo Quatro

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Lan Zhan estava perplexo. Quando recebeu o pequeno Yuan e o trouxe para dentro, acreditava que a pequena criança era apenas mais uma alma que havia morrido cedo, ele não era o primeiro com tenra idade que chegava ali. Porém, assim que o levou até a sala, havia uma mulher no chão em prantos, enquanto agarrava forte os braços de Wei Ying que tentava a tranquilizar. 

- Mamãe! - Yuan gritou assim que a viu, soltando a mão de Lan Zhan e se jogando nos braços da mesma 

Mãe e filho apenas ficaram lá por um tempo, enquanto os outros dois restantes ficaram lado a lado, não tão distantes. 

- O que está acontecendo ? 

- Bem, a Senhora Wen teve uma parada cardíaca enquanto estava no parque com o filho - disse cruzando os braços - Eu chamei sua alma, mas a criança veio de brinde. 

- Ele está vivo então ? - o outro acenou, Lan Zhan suspirou extremamente aliviado - Mas como ele entrou ? 

- Crianças são mais sensíveis, elas podem ver muitas coisas que os adultos não conseguem - respondeu - Não é tão inacreditável que uma tenha conseguido atravessar a barreira, ele é inteligente. 

- Mamãe, nós já vamos embora ? 

- A-Yuan - a Wen mais velha chamou, segurando as bochechas do filho - A mamãe não pode mais ficar com você. 

- Por quê ? - fungou, os olhos se enchendo novamente - Também não me quer mais ? 

- Não, não é isso amor, a mamãe te ama muito e queria sim ficar com você  - disse - Mas eu preciso ir para outro lugar, bem longe. Você precisa me prometer que será um bom menino, tá bom ? 

- Hm, eu prometo - respondeu também segurando o rosto da mãe o secando - Quando você vai voltar ? 

Não houve resposta. A Senhora Wen apenas abraçou fortemente o filho, enquanto se desmanchava em mais lágrimas. O pequeno A-Yuan retribuía, afundando o rosto nos cabelos da mulher. Ele sempre gostou do cheiro que ela emanava, era doce como as flores. E sua mãe também era doce com ele, então ele achava que ela era uma linda flor, nesse momento ele deslizava a pequena mãozinha pelos fios, em um tipo de consolo silencioso. 

- Senhor. Por favor - Senhora Wen se dirigiu a Wei Ying - Atenda meu pedido, cuide do meu filho por mim. 

- Como é ? - hesitou 

- Não temos parentes, A-Yuan só tinha a mim, não o mande para um orfa… - parou apertando mais o menino, como se apenas a idéia lhe causasse dor - Não o mande embora, ele não tem ninguém. Nossa vida não tem sido fácil, deixe que ele pelo menos possa ter uma boa infância. 

Lan Zhan sentia por aquela mãe. Ele a observava em seus últimos momentos com o filho tão pequeno, temendo mais por ele do que por si mesma. Mas também, mirava Wei Ying, que tinha a face impassível, mas em suas costas, as mãos fechadas em punhos tremiam, os nós dos dedos brancos com a força exercida. Aparentemente, mesmo após tantos anos, ele ainda se afetava com despedidas assim. Vendo isso, Lan Zhan não tentou se impedir quando seus dedos alcançaram a mão gelada do outro. Wei Ying foi pego de surpresa, mas não afastou o toque, apenas se aproximou mais, permitindo que fosse acalmado. 

Em outras vezes semelhantes a essa, ele apenas se sentou perto da lareira fria por um tempo,  ou foi caminhar no jardim, até que seu coração se acalmasse e endurecesse novamente. Mas dessa vez, havia alguém que lhe oferecia calor, mais acolhedor e tranquilo, do que qualquer outra coisa. Ele não deixaria passar. Lan Zhan lhe lançou um último olhar antes que se aproximasse da mulher, se abaixando em sua frente. 

- Ele ficará bem. 

Como se não houvesse mais tempo, diante de tais palavras reconfortantes, ela finalmente poderia se despedir e partir desse mundo. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia tranquila, mesmo que estivesse deixando seu único tesouro com estranhos que acabara de conhecer,  ela acreditava que talvez, se o universo  os favorecesse pelo menos dessa vez, Wen Yuan pudesse ter uma vida melhor do que a que ela poderia oferecer. 

CARONTE  (Wangxian Short Fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora