Uma semana depois, o sol nos brindou com mais uma manhã iluminada. Nenhum dos garotos queriam falar comigo e não raras às vezes, os via sussurrando. Quando eu me aproximava, desconversavam. Meus dias na lanchonete não eram nada bons. A cada pessoa que entrava, eu me perguntava se podia ser ou não Otávio. Todos os meus ossos reclamando com a possibilidade. Além, é claro, da minha mente conturbada, que não parava de se perguntar quem eram os outros decrépitos que fizeram aquilo a minha amiga.
Quem? Podia ser qualquer um. Qualquer um mesmo. Quantas pessoas frequentavam os almoços dos Vaughan? Quantas pessoas confraternizavam com eles?
E se fosse, até mesmo, o meu pai?
Não. Não podia ser. Era impossível.
Tentei afastar aquela sensação da minha mente, embora, é claro, conturbada como eu me encontrava, minha mente encontrasse uma forma de trazer a tona tal palpite sempre que eu me encontrava sem nada para fazer ou nenhum pedido para atender.
Por fim, no final da semana, eu ainda não tinha nenhum plano concreto, a não ser o fato de que eu precisava de uma arma urgentemente. Se ia matá-lo, necessitava de uma, não é mesmo? Eu poderia pegar a do meu pai. Mas ele nunca a levava para casa. Nunca mesmo. Droga! Eu estava ferrada. Tanto psicologicamente quando em planos.
Talvez uma faca? Alguns golpes e pronto; Otávio Campos estaria no chão, morto e então eu poderia ser feliz. Um sorriso quase débil cruzou meus lábios.
A quem eu enganaria? Era só uma adolescente sem recursos. Meus planos sendo formulados através de filmes e séries que assistia. E quando a faca estivesse em minhas maos, eu teria mesmo coragem suficiente para enfiá-la na carne de Otávio sem dó ou piedade? Vê-lo sangrar, pedindo ajuda e gorgolejando sangue? Quantas vezes teria que esfaqueá-lo para ter certeza de que ele realmente morreria?
Fraca! Você é fraca! Como um ratinho. É só lembrar o que ele fez. É só lembrar! É só lembrar!
Minhas mãos tremiam.
Fraca. Fraca. Fraca.
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Não Confie - Os Monstros São Reais [versão Antiga!]
General FictionVencedor do #TheWattys2018 na categoria Partindo Corações Áurea Serrano e Maribel Pires Boyle eram melhores amigas. As melhores. Inteligentes, esforçadas e sonhadoras, almejavam um futuro promissor e um ótimo apartamento na cidade de Londres. No ent...