Pós eliminação da Sarah

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Sarah POV

Eu sempre fui muito fechada quando o assunto era "sentimentos" nunca consegui demonstrar e poucas são as pessoas que conseguem ouvir um "eu te amo" saindo da minha boca. Minha mãe quase sempre questionava o motivo de tão poucos amigos e eu sempre com respostas na ponta da língua repetia o bom e velho ditado "antes só do que mal acompanhada", e acabou que esse se tornou meu lema de vida.

Quando entrei no Big Brother sabia que não queria criar relações, e por ser muito desconfiada sabia também que isso poderia ir por água abaixo após criar uma relação. Dá pra entender? Ée.. Basicamente o que aconteceu entre eu e a Juliette. Eu me auto saboto e quando vi que estava confiando demais e ela sendo boa demais para todos, desconfiei e bem... Deu no que deu.

Desde que saí do programa nas primeiras conversas com a minha equipe eu disse que sabia ter errado e no momento só queria poder mostrar ao público que o meu arrependimento era verdadeiro e não somente uma invenção pra limpar minha imagem.

Assim fizemos. Usei a inteligência emocional que adquiri em todos esses anos de vida para transformar o que fosse necessário. Fiz questão de rever minha trajetória, onde me perdi e buscar as causas do "porquê" me perdi, não foi muito difícil de encontrar, mas eu sabia que seria difícil reverter, afinal, o público insiste em projetar em nós - participantes de realities - uma perfeição não existente, e se frustramos isso nos tornamos as piores pessoas.

Foi o que aconteceu comigo, e o que poderia ter acontecido com qualquer um, por isso, assim que sai do programa fiz questão de procurar todos os ex-participantes que haviam saído e dizer que mesmo não concordando com as ações deles no jogo, o jogo já havia acabado e aqui fora a vida é real, e na vida real nosso olhar não é direcionado a julgamentos das pessoas que convivemos.

Me resolvi com todos (quase todos né? Nego Di e Karol nem procurei), e segui em paz buscando o meu melhor, eu sei quem sou e só não queria me perder de mim.

Ao sair do programa eu precisei também passar por um processo de "autoconhecimento", revendo minhas cenas eu tive certeza de que havia muito de mim que eu não conhecia e nem permitia ser, principalmente quando a bebida entrava, né "Carolline"?

Quando recebi a visita da minha mãe a primeira coisa que ela me disse (além de dizer que tinha orgulho de mim) foi: "Precisamos conversar", eu que bem... Conheço essa frase desde a infância e o tom que ela é dita pode dizer algo sabia que coisa séria viria por aí.

Flashback on

Como estava hospedada na Housi, Higor, Roberta e Carla nos deixaram a sós enquanto "viviam" e eu fui aproveitar a presença que eu mais senti falta durante esses meses.

- Filha... Quer me contar sobre a experiência do programa? - Minha mãe quebrou o silêncio que pairava após eu me aconchegar no colo dela.

- Ah mãe... Foi tudo aquilo que a gente sempre imaginou, sabe? Lá é incrível, cada cantinho da casa tem algo inesquecível, a experiência é enriquecedora, mas... Tem seus contras, né? A pressão psicológica, o julgamento, medos, erros, isso acaba tirando toda realização de estar ali.

- É, deu pra sentir isso de você. Parece que perdeu seu brilho, filha.

- E perdi, né mãe? Olha como as coisas caminharam aqui fora. - Respirei fundo enquanto as mãos dela passeavam por todo meu cabelo.

- Mas você fez amizades, e isso é o que importa.

- É... Gil virou um irmão. - Meus olhos marejaram ao lembrar do dia a dia na casa.

- Sim, mas houveram outras filha. Ju, Pocah, a Camilla também é um amor.

Apenas respirei fundo - principalmente quando ela citou a Ju, senti como em todas as entrevistas, meu corpo parecia ferver e ao mesmo tempo gelar, um misto tão grande e inexplicável de sentimentos.

- Não sei se essas outras coisas vão acontecer aqui fora, ele eu tenho certeza.

- Juliette você sabe que tem também, pare com esse orgulho.

- Não é orgulho, o que eu fiz pra ela foi realmente pesado.

- Filha, o que todos os outros falaram dela foi muito mais pesado que as palavras ditas por você, não há porque levar isso a frente, ela com certeza vai analisar com calma e conversar com você.

- Mãe, você sempre nos via juntas?

- Sim... Inclusive nas festas.

Ok, nesse momento meu corpo gelou de vez e o motivo é bem claro, né? Quando eu vi as imagens das festas fiquei simplesmente "surtada", a forma que eu e Juliette interagimos obviamente dava motivos para nos vermos como um casal.

- É minha vez de perguntar.

- Mande, dona Abadia.

- Você nunca sentiu nada "a mais" pela Juliette, filha?

Levantei rapidamente olhando nos olhos dela, que por incrível que pareça me olhavam serenos e calmos me tranquilizando.

- Ah.. Eu não sei mãe. Nunca me senti assim por ninguém para ser sincera, era como se ela fosse contra todas as minhas certezas e me desmoronasse e ao mesmo tempo ela me dava certeza de tudo e me fortalecia, eu não sei dizer se levei pro sentido romântico, ali é tudo muito intenso e eu só... Senti.

- E aqui fora?

- Acho que eu não tive tempo de sentir tudo aqui fora, né mãe? Mas eu vi algumas coisas e não posso negar que senti, que não faria. Se não tivessem as câmeras, se não tivesse vocês eu acredito que sim, teria rolado, não consigo mentir pra você.

Assim que finalizei a frase ela sorriu, e nessa hora... Meu corpo amoleceu, o medo de decepcionar ela dizendo algo do tipo era muito grande.

- Filha, é... Eu não vou negar que assim que vi vocês naquela roda de conversa sabia que seriam amigas, os trejeitos, princípios, enfim. Quando se aproximaram tudo foi dando essa certeza ao meu coração, entende? Falo como mãe mesmo. Eu me tranquilizava quando ela estava com você, uma segurança que diga-se de passagem nem o Gilberto me passou ao seu lado. Eu não posso afirmar que a relação de vocês duas era mais forte, mas para a gente rolou essa visão. Nunca te imaginei se relacionando com uma mulher, aliás, quando você foi pra Los Angeles eu pensei que aproveitando a vida como você sempre fez poderia me surpreender muito, mas até que realmente me surpreendeu no sentido de - até onde eu sei - não ter feito nada "demais".

Mas quando comecei a ver a movimentação na internet e acompanhar querendo ou não a gente cria esse carinho, cuidado e sim, comecei a ver vocês duas de uma maneira diferente, e ao mesmo tempo que eu tinha muito medo de algo acontecer, não por mim, mas por vocês, pela pressão, pelos julgamentos, eu me via feliz em conseguir ver a minha pequena tão "ela" ao lado da Ju. Eu não sei o que o destino reserva a vocês, o que Deus tem preparado, mas aquilo pra mim foi como uma quebra de tantas coisas que aqui dentro também eram certeza, e eu como sua mãe me sinto no dever de te assegurar que eu te apoio, que pra mim toda forma de amor é linda e que não importa o que aconteça eu sempre estarei ao seu lado e você será a minha pequena.

A cada palavra que ela dizia era como se meu coração tivesse se "reconstruindo" e meus medos "indo" pra tão longe... As lágrimas caíam sem cessar e nossos corpos já se aconchegaram em um abraço, aquele abraço de mãe, que é casa, e essa casa cura.

Flashback off

After the gameWhere stories live. Discover now