Parte 2 - Piper

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"Ah, qualé, Piper! Faz um tempão que você terminou com o Jason! Você precisa sair, conhecer novas pessoas, seguir em frente, sabe? Não dá pra ficar nessa pra sempre!" Leo exclamou. No fundo, ele tinha razão, eu acho.

"É que... eu tava com o Jason, e tudo parecia tão sufocante, tão forçado. Aí eu tenho medo de começar a ficar com alguém e tudo rolar muito rápido e sei lá, ficar sufocante de novo, entende? Eu fui tanto tempo só a namorada de alguém e eu acabei me perdendo demais no meio disso tudo e foi tão difícil pra me encontrar que eu só... tenho medo de me perder de novo!" eu exclamei para o telefone, enquanto o taxista estacionava. No carro, não dava para ouvir direito o barulho da chuva, então eu não fazia ideia da proporção que aquela tempestade havia tomado até abrir a porta. Eu estava com umas três camadas de roupa e o frio ainda me fazia tremer como um pinscher. Mal posso esperar para chegar no meu quarto quentinho e assistir netflix enquanto tomo aquele chocolate quente.

"Você não precisa namorar a primeira pessoa que aparecer, Piper." insistiu, sua voz abafada pelas trovoadas e as colunas de água quebrando contra o chão. Eu estava usando a jaqueta para me proteger da chuva, mas nada impedia de que me molhasse. Quando finalmente cheguei debaixo da fachada do hotel, ouvi um miado baixinho vindo de algum lugar ali perto e instintivamente me virei à procura do som. Por detrás de uma caixa de lixo azul com alguns kanjis escritos, havia um par de olhos assustados e tremelicantes que com sons agudos clamavam por ajuda. "Err, Leo, vou ter que desligar." falei, com uma nuvem do que acredito que seja vapor d'água em sublimação se formando bem na minha frente - ela tinha um forte cheiro de saquê e, se não fosse por isso, talvez eu ainda tivesse tomado aquele chocolate quente com vodka de que tanto gostava.

Olhei para os dois lados, para garantir de que ninguém estava observando - afinal, era proibida a entrada de animais no prédio. Depois, agachei-me e escondi debaixo do casaco aquele amedrontado e encharcado gato, que sequer tentou se debater, correndo para dentro do hotel, de modo que fazia-se crer que eu fugia da chuva.

...

Não sei muito bem como deveria me sentir com aquilo. Dizem que essas coisas, essas situações inusitadas, geralmente acontecem por alguma razão, que no começo podem parecer opacas, enevoadas, cobertas por uma camada densa de ar frio, difíceis de ver a distância, como qualquer coisa no futuro, de certo modo. Meu dia estava sendo assim.

Depois que cheguei em Tokyo, tudo estava sendo uma caixinha de surpresas, até então não muito boas - o que não é inteiramente culpa da cidade. Acho que isso tem haver com o propósito da viagem, ou a época em que vim - essa parte do ano nunca é boa, em lugar nenhum. O Leo morou aqui durante a graduação - ele sonhava com isso desde antes do ensino médio - e dizia que aqueles foram seus melhores anos, então eu também estava com a expectativa um pouco alta. O fato é: meu primeiro contato não estava sendo aquelas coisas.

"Pronto amiguinho, agora você está sequinho!" exclamei para o gato, imaginando o que ele responderia se pudesse falar. "Amanhã" suspirei profundamente ao lembrar da tamanha correria seria o dia seguinte - logo cedo haveria uma importantíssima reunião, o propósito da minha viagem. "Amanhã, ou depois de amanhã, eu acho, eu vou dar um jeito de achar ê sue done." Foi só então que me dei conta de que não havia coleira ou qualquer coisa que fornecesse uma pista sobre o paradeiro de ume possível done. Droga. Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava. Me peguei encarando a chuva pulsar do outro lado da janela, à medida que pontualmente o céu se iluminava por algo que não as luzes daquela viva metrópole global. "Aonde você está?" questionava silenciosamente ao observar a chuva. Sorri então vacilante ao olhar para o gato. "Então, você gosta de yakisoba?". Ele miou e eu ri, aceitando aquilo como afirmativo.

E olha, eu sei que parece ridículo o fato de eu estar conversando com um gato, mas eu tive um mês péssimo, então por favor, sem comentários.

Storm - One Shot PipabethOnde histórias criam vida. Descubra agora