Parte 3 - Annabeth

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"Sério cara, muito obrigada por vir! Eu acho que nunca conseguiria ter feito tanto sem a sua ajuda." falei, franca. Grover e eu estávamos colando cartazes de "Desaparecida" com a foto da Ás pelo bairro, na esperança de que alguém a tenha achado ou tenha alguma ideia sobre o seu paradeiro. A chuva havia parado a apenas algumas horas e as ruas ainda estavam molhadas, o cheiro de orvalho abarcando o ar e um silêncio aconchegante, fruto da inexistência de um único ser vivo pelas ruas da cidade, eram característicos daquela manhã.

"Não precisa agradecer, Annie. Se fosse o Pan ou a Gertrudes que tivesse sumido, tenho certeza de que você faria o mesmo por mim!" Grover disse, tentando me tranquilizar. Ele tinha razão, contudo eram seis da manhã quando eu liguei, o frio estava insuportável - até mesmo para mim, que nunca liguei muito para isso - e ele teria uma reunião em poucas horas, então ele estar aqui era sim algo que deveria ser agradecido. Eu me sentia um pouco mal ainda por ter ligado para ele, mas ele e a Thalia são as únicas duas pessoas na cidade que eu posso contar, e a Thalia estava ajudando o Nico, primo dela, a cuidar do filho enquanto o marido viajava a trabalho, então meio que sem chance de pedir isso a ela.

"Ahn, ei, Grover." chamei, encarando o relógio. Ele olhou para mim e entendeu o recado, conferindo a hora no seu telefone e logo em seguida esboçando um olhar de pena.

"É... Desculpe Annabeth, de verdade, mas eu vou precisar sair agora. Você sabe, coisas do trabalho. Se eu não sair agora, meio que não vai dar tempo de passar em casa para pegar o material antes da reunião..." ele repousou a mão sobre a parte de trás da cabeça, envergonhado. Havia um misto de insegurança e tristeza em sua voz, que vacilava ao pronunciar aquela frase.

Sorri honestamente antes de responder. "Tudo bem! Você já ajudou bastante, e agora falta só mais alguns cartazes mesmo, no intervalo do almoço eu posso vir aqui e terminar. Ah, e se quiser eu posso te ajudar a buscar os materiais, sabe? Te conhecendo, deve ser coisa demais para levar sozinho." falei de modo cordial, levantando uma sobrancelha na última frase, dessa vez com uma pitada de provocação. Ele riu e negou a ajuda a princípio, mas eu insisti e ele resolveu ceder.

...

Eu mal conseguia ver para onde estava indo ao segurar tantas caixas, que por sinal deveriam pesar no mínimo uns oito quilos. "Sério, não sei como você faria para trazer tudo isso." falei, impressionada, tentando manter o equilíbrio enquanto subia a escada.

"Ah, é que eu já estou acostumado! Ei, é nessa primeira sala à direita. Pode deixar em cima da mesa, eu cuido do resto." ele disse, sem prestar muita atenção. Ele havia chegado um pouco antes de mim e estava agachado ao lado da mesa, montando algum tipo de geringonça. Eu o observei por um tempo, incrédula e curiosa, montar algum tipo de robô com materiais reciclados, antes de decidir que depois de tanto esforço eu merecia comer alguma coisa. Sabe, algo que eu adoro na empresa que o Grover trabalha é a praça de alimentação enorme que tinha lá, e claro, a comida maravilhosa dela.

Foi do balcão de um dos restaurantes que eu a avistei. Enquanto a encarava, me peguei questionando quais eram as chances de vê-la bem aqui e agora, ainda mais dada a extensão geográfica e populacional da cidade. A garota de cabelos morenos e olhos que pareciam mudar de cor vestia um paletó que ficava perfeito nela - mas não que eu estivesse reparando. Ela segurava uma daquelas malas para animais em viagens e conversava com alguém, talvez o tentando convencer a cuidar de seu bichinho de estimação. Inclusive, muita falta de profissionalismo de sua parte trazê-lo para o trabalho - isto é, se é que ela trabalhava aqui.

Não consegui esperar pela comida. Quando vi, já estava a poucos centímetros daquela que esbarrara em mim no almoço de ontem, distância suficiente para sentir o cheiro doce do seu perfume. Apesar da parte mais sensata de mim dizer não, meu corpo ignorava e meu orgulho gritava por aquilo. Antes que me desse conta, repousei levemente a mão sobre seu ombro, dizendo "Olá."

Storm - One Shot PipabethOnde histórias criam vida. Descubra agora