Capítulo 1 - O início do resto de nossas vidas

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A minha história de vida, assim como a dos outros adolescentes, se passou dentro de um abrigo subterrâneo, dezoito longos anos preso aqui, apenas ouvindo dos nossos pais as belas histórias de como era o mundo, as cores, as vegetações, a variação de alimentos, culturas, dentre tantas outras maravilhas.

Meu maior sonho é poder sair desse abrigo cinzento, o que dentro de uma hora poderei realizar, hoje completam cinquenta anos de confinamento e a previsão é de que não haja mais radiação no oxigênio do planeta.

Henry, aquele velho impiedoso, foi o primeiro a sair, se ofereceu para conferir se já era seguro nossa permanência fora do abrigo, após longos dez minutos ele voltou e nos deu a melhor notícia, podíamos finalmente sair daquela espelunca. Henry, passei a desgostar menos de você.

Quando chegamos ao lado de fora eu me senti totalmente livre, uma sensação única e indescritível, respirar do lado de fora era libertador, a imensidão do céu azul, o verde cativante das matas ao nosso redor, o vento fresco e o calor do sol, eu queria me sentir assim para sempre.

Bem, eu sou o Dylan, alto, com corpo atlético, cabelo castanho, olho verde e pele parda, geralmente sou um tanto altruísta, porém tenho meus momentos de estresse, se é que me entendem.

Não faço ideia de como será a vida aqui fora, mas espero que dessa vez eu consiga ser mais eu e não apenas o filho do casal do conselho.

O conselho, como vocês estão chegando agora ainda não sabem disso, mas durante os anos, para conseguir manter uma boa civilização dentro do abrigo, foi criado um conselho, composto por 10 pessoas, dentre eles os meus pais.

Eu ainda não era nascido, na verdade meus pais nem pensavam em ficar juntos ainda, se conheceram no conselho, e dai se apaixonaram e o resto vocês já imaginam, bem, cá estou eu.

Estava tão preso em meus devaneios que nem percebi por onde andava, acabei trombando sem querer com um garoto que...

— Ei otário, olha por onde anda — disse com tom autoritário me mutilando com o olhar, em outra situação eu enfrentaria a pessoa mas estava tão deslumbrado com tudo, que apenas devolvi o olhar agressivo.

Ele deve ser do outro lado do abrigo, como eramos milhares de pessoas, não dava pra conhecer todos, no meu caso acho que todos me conhecem pois estava sempre em público com meus pais, que eram conhecidos por todos.

Justamente por ser filho deles, sinto que o pessoal da minha idade não gosta muito de mim, talvez por acharem que eu era privilegiado, só que eu não pedi por isso, e também não haviam privilégios, era tudo igual pra todos, mas haviam dúvidas.

De longe posso ver o conselho reunido, pareciam estar falando de algo sério, provavelmente sobre o que faremos agora que estamos fora do abrigo.

Olho o arredor e vejo vários grupinhos de adolescentes sorrindo, se divertindo e zoando, queria muito ter amigos, mas como disse, há uma resistência contra mim.

Sem nem ter tempo para me lamentar da falta de amigos, ouço um estrondo distante, procuro de onde veio e vejo algo em chamas caindo do céu, parecia uma nave ou um foguete, o que será? Invasão de aliens? Que caralho.

Todos estavam observando com certo receio o objeto despencando, logo o barulho de um carro pode ser ouvido, dessa vez era o Henry e alguns membros do conselho, saíram com o carro e foram na direção do que quer que seja aquilo.

Logo somos avisados pelos outros conselheiros que vamos para um lugar, planejado antes de tudo, onde provavelmente viveremos por um bom tempo, até que possamos recomeçar da melhor forma.

Entramos em alguns ônibus escolares que seguiram para o local que nos foi informado, o caminho até lá foi longo e silencioso, o que me deu bastante tempo para tentar entender o que poderia ter dentro daquele objeto em chamas caindo do céu.

Bom no abrigo nós tivemos uma formação, mesmo que básica, analfabetos sei que não somos, pelo menos eu não, e de acordo com meus conhecimentos, aliens não existem, até então, já que nunca foi confirmado, algo que talvez mude com o tempo, não sei.

Sei que pode ser que naquela nave, ou foguete, não sei, tenha sim outros seres humanos, que de alguma forma conseguiram se refugiar para órbita do planeta antes de tudo, talvez sejam trabalhadores que ficavam na famosa estação espacial, ou talvez seja apenas um satélite sem nenhum ser vivo dentro. São hipóteses.

Fiquei tanto tempo preso em meus pensamentos com essas teorias que nem percebi o tempo passando, ouvi alguém do walkie-talkie do motorista, que já estavamos perto, provavelmente algum dos ônibus da frente.

Fiquei inquieto olhando para frente e para os lados sem parar querendo ver logo alguma coisa, até que finalmente, na estrada que passava no alto de uma colina, avistamos aquela miragem, não podia acreditar no que estava diante dos meus olhos.

Era um lugar lindo, cercado por árvores, haviam centenas de casas, alguns prédios de no máximo cinco andares, pude ver também algumas piscinas, quadras e campos esportivos, parques gramados com alguns brinquedos, e uma rua bem chamativa onde parecia ter uma escola, alguns comércios, talvez um supermercado ou até mesmo um hospital.

Viajei por muito tempo na beleza do local e em um estalar de dedos já estávamos andando por suas ruas asfaltadas. De perto era tudo ainda mais lindo, as cores estavam um pouco desbotadas, obviamente por ter se passado mais de cinquenta anos desde que foram pintadas.

O ônibus parou e começamos a descer aos poucos, e só aqui fui perceber que o garoto no qual trombei na saída do abrigo estava dois acentos atrás do meu, o que é isso? Coincidência, castigo ou perseguição? Enfim.

Assim que encostei meu pé na calçada aproveitei para observar tudo a minha volta, não pude me conter e um sorriso se esboçou no meu rosto, agora sim pude concretizar que de fato não era uma miragem, e sim o lugar que passaremos o resto de nossas vidas...

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⏰ Última atualização: Jun 08, 2021 ⏰

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