Kimon já havia passado por muita coisa naquela altura. Acabara de se mudar pra cidade grande e sentia muita falta de sua cidadezinha natal, onde morava com sua mãe, mas sabia que era o melhor a ser feito, não suportava estar ali sem ela. Fazia poucos meses desde a morte da Sra. Jones. Sempre que fechava os olhos ele podia sentir o carinho dela em seus cabelos, às vezes sentia seu cheiro e até ouvia sua voz chamar seu nome, mas sabia que era tudo sua imaginação. Era a saudade.
Ele estava atravessando a rua a caminho do trabalho, quando sentiu alguns pingos de chuva em seu rosto e os viu no asfalto. Logo armou o guarda-chuva, xingando baixinho, nunca saia sem ele no final do verão. Não demorou muito pra chuva engrossar e criar poças e lama pelo chão.
Kimon odeia a chuva, odeia a lama que suja e afunda seus sapatos, odeia o frio, a umidade do ar e o barulho dos trovões. Parece tão injusto, o fenômeno que o lembra do pior dia de sua vida. Ele sabe que são sinais que uma tempestade se aproxima. Um lembrete, de que será mais um dia difícil.
Mais tarde, quando chegou em casa pegou qualquer coisa semipronta para comer, e logo imaginou sua mãe o repreendendo por isso. Tentou afastar o pensamento e ligou a TV. Chovia forte lá fora.
"Parece que o inverno está chegando com tudo esse ano, John. Não saiam de casa sem capas e guarda chuvas se não quiserem pegar um resfriado." dizia a moça da previsão do tempo.
Pior. Época. Do. Ano.
Ele olhou pela janela, observando a corrida de gotas que se espalhava no vidro. Suspirou e desligou a TV.
Foi em um dia como este que sua mãe, Célia Jones, se foi. É difícil para Kimon lembrar, são apenas pequenos flashs. Os trovões. A chuva. O telefone tocando. Ele foi até o local. Então a viu, ele tentou chegar mais perto. Ela estava prestes a ser levada para dentro da ambulância, estava deitada na maca, ainda com vida, ela o viu e sussurrou sem som: “eu amo você meu menino, vai ficar tudo bem”. E foi isso. Ela se foi poucas horas depois de ser socorrida.
Nina, sua gata pulou e se acomodou em seu colo em busca de carinho. O nome da gata havia sido escolhido por sua mãe em homenagem a Nina Simone, sua artista favorita. Era a de Kimon também. Ele se recostou no sofá, enquanto acariciava Nina começou a cantar baixinho, na tentativa de fazer o bolo na garganta sumir:
"Little Darlin, it's been a long cold and lonely winter,
Queridinha, tem sido um longo e solitário Inverno
Little Darlin, it feels like years since you've been here
Queridinha, parece que foi há anos que você esteve por aqui
Here comes the sun, Little Darlin, here comes the sun I say, it's all right, it's all right
Aí vem o Sol, queridinha, aí vem o sol e digo: está tudo bem, está tudo bem"
Acordou no dia seguinte com o telefone tocando. Se recompôs e atendeu.
Alô?
Olá, Sr. Kimon Jones?
Sim, sou eu.
Estou ligando para convidá-lo a tocar no Clube de Jazz sábado a noite. Vi seu vídeo, queremos você aqui.
Vídeo...? - Kimon perguntou confuso
Sim, o vídeo que mandou para nossa produtora, estamos impressionados, queremos vê-lo tocar pessoalmente.
Hã… Sábado?
Isso mesmo, nossos produtores estarão lá. Chegue mais cedo para se organizar. Sabe onde fica?
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its not as simple as talkin jive • original
ContoKimon Jones perdeu sua mãe a alguns meses em um acidente, por conta de uma tempestade. Desde então tem sido difícil lidar com o luto. Ele recebeu uma proposta que pode ajudá-lo em sua carreira no Jazz, mas pensa em recusar. Tudo pode mudar, quando e...