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Palavras e seus significados dentro deste universo literário:

Gaynas - Desfile de formosuras anual. Desde pinturas á memórias em forma de peças de teatro, daqueles que não estão entre os réus.

Prebir - Pré nascimento, ou decisão de tutela. Novo aprendizado de vida.

Réus - Aqueles ou aquelas que vivem em Réu.

Réu - Reino constituído por cidades inferiores.

Andante - Pessoas não aladas.

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Capítulo um - Keise.

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Desde a ultima vez havia jurado á mim mesma que nunca mais tentaria resolver os meus próprios problemas utilizando a coragem, consequentemente todos nesta habitação nefasta viviam seus dias como se fossem os últimos com a mais pura hipocrisia já que a grande maioria possuía vasto medo da morte. Notavam as mudanças de humor e adrenalina como defeitos que seriam concertados por um ser divino que se quer ouviria os nossos clamores pela madrugada. Após longas promessas de que novamente não cairíamos, logo depois de sujar as nossas mãos com o mais profundo e inconsequente pecado carnal. Mal me recordava qual teria sido a minha ultima visita á psicóloga. Pisar em uma igreja? Décadas de degradação criaram lapsos de memoria me afastando até mesmo dos acontecimentos do dia anterior, entrava e saia daquele bar imaginando quando teria dinheiro suficiente para me estabelecer em outro país e tentar mudar de vida. Mas as vozes, o medo, eles nunca iam embora, eles não se vão. Os ruídos das chaves conseguiram me despertar, o calendário em minha parede marcava mais um inverno concluído mas não graças aos meus terríveis esforços para partir o mais rápido possível . Me esquecendo até mesmo do meu próprio aniversário, esperando que este ano fosse exatamente como todos os outros. Abriria uma cerveja para comemorar o fim do expediente no Bar do Jay e logo depois iria dormir desejando que o amanha nunca chegasse . As correspondências ao chão impediam minha passagem, provavelmente estavam ali por alguns meses. Não me importava em faze-los esperar por respostas. Afinal eu estava bem aqui, e viva, quem quer que desejasse entrar em contato sabia meu endereço. Não era como se estivesse inválida ou embriagada ao ponto de não lembrar o meu nome, continuava inalando o oxigênio do mesmo planeta que eles e uma visita não colocaria tudo a perder. Depois de horas em pé tentando me esquecer do inchaço nos dedos consegui finalmente me atirar sobre a cama, deslizando entre os lençóis bagunçados com cheiro de umidade e mofo permanecendo imóvel para todo e eterno sempre. Minutos se passaram e minha paz novamente estava sendo ameaçada por um som extremamente alto que vinha dos andares a cima do meu apartamento, deveria ser uma nova briga dos meus recém chegados vizinhos, que amavam fazer estardalhaços aos finais de semana. Os ruídos se transformaram em música e a música se transformou em ódio.
- Okay. Já entendi é apenas uma música, em três ou quatro minutos ela vai se encerrar e eu vou poder dormir como um bebezinho. -
Duas horas depois e a música se repetia, a mesma maldita música. Um solo de guitarra infernal que parecia não ter fim. Finalmente o silêncio reinou, rapidamente me levantei para conferir se havia encerrado de fato ou se eles trocariam a playlist. Seguindo de pé em pé atrás da porta com um copo de vidro sobre a orelha, mas não, nenhuma melodia se quer abafou os meus ouvidos. Ufa! O sinal de vencedor saiu espontaneamente pelos meus braços e então a música retornou.
- Já chega! Eu prefiro passar o dia com os meus ouvidos sangrando a ouvir isso mais uma vez. -
Poderia jurar que a minha raiva havia se conectado as minhas pisadas ao chão. Estava tão furiosa que só me dei conta de estar na cobertura quando senti os ventos frios circularem por minha nuca. Uma silhueta mediana se formou entre a escuridão bem próximo de onde costumavam ficar as grades de proteção. Mas não poderia ser, como ela trouxe um equipamento de som até aqui sozinha? Pisquei algumas vezes na tentativa de despertar, mas estava ali um enorme paredão de caixas de som que faziam meu coração vibrar com a aproximação.
- Hey, onde estão seus pais mocinha? Já está tarde melhor você descer dai. - Quase sem paciência
implorei. Era capaz de ouvir suas risadinhas sendo abafadas pela música.
A miniatura de adolescente rebelde com os cabelos coloridos estava sentada sobre o muro, com o pés para fora da área segura, sua cabeça balançava conforme a batida da música. No momento em que ela se virou pra mim e sorriu, senti algo que há muito tempo não experimentava. Era como estar consumindo adrenalina desesperadamente sem nenhum controle. Mantendo o caos e a sanidade em um pequeno frasco sobre uma mesa de vidro, sendo capaz de observa-los mas não toca-los. Em segundos de distração a moleca se desequilibrou. Arremessando o seu corpo contra o nada e o chão. Meu coração acelerou desestabilizando meus batimentos cardíacos á níveis inacessíveis em dias comuns, minhas pernas estremeceram e tudo pareceu desmoronar. Eu não poderia acreditar, já teria passado por situações semelhantes á está mas ainda sim na primeira pessoa. Ver alguém se arremessando para fora da vida foi devastador. O cimento do muro estava tão gelado, foi quase como se ela não estivesse ali. Não conseguia ver nada lá em baixo, não houve som, não havia multidão reunida em volta do corpo que aparentemente era invisível em tantos metrôs de altura. Ela simplesmente se foi assim como as caixas de som que a acompanhavam. Não restou nada. Somente o frio consumidor e as minhas paranoias avançadas.
- Eu estou enlouquecendo, e estou sóbria. O que está acontecendo? - De um lado, para o outro, de um lado para o outro. Meus pés estavam se acostumando com a sincronia de ir para um lado e para o outro enquanto tentava formar uma explicação adequada para o que havia acabado de acontecer. - Definitivamente, eu odeio esta data. Sempre ocorrem bizarrices e mais bizarrices. Tenho certeza que ao voltar para a minha cama tudo não terá passado de um pesadelo. E se eu acreditar nisso, talvez se torne real.
Na volta para o meu apartamento encontrei os recém chegados vizinhos que residiam na casa ao lado, me desejaram boa noite e seguiram para as escadas da cobertura. Não poderia deixar está chance passar de enfim descobrir como deixaram uma menina subir com tantos equipamentos sozinha sem nenhuma supervisão. Talvez eles conhecessem os pais da menina, haviam muitas famílias no prédio e com certeza alguma delas possuía uma filha de madeixas azuis com mechas esverdeadas. Oh céus, como eu explicaria o que acabei de presenciar? Eles ficariam arrasados em saber que ela se foi.
- Arr, olá. - Balbuciando. Ainda impactada, puxei todo ar que necessitava para conseguir similar normalidade. - Eram vocês quem estavam ouvindo aquela musica agonizante durante toda a noite? - Confesso que meu tom não fora um dos mais sutis. Eles permaneceram com expressões de paisagem em seus rostos sem entender nadinha do que eu estava falando. Arregalei meus olhos incitando a resposta que brevemente se formou. - Não senhora, não estávamos ouvindo música, ainda não conseguimos comprar um rádio. E de qual música está falando? Não ouvimos nada. - O homem afirmou. - Nada mesmo. - Sua esposa complementou.
Anestesiada. Era a palavra exata para expressar como eu me sentia. Felizmente meu apartamento não ficava tão longe das escadas se eu corresse pra lá poderia fingir que nunca estive na cobertura no momento do "acidente". Mas como poderia mentir desta forma? Estava tudo uma loucura. E como consegui esquecer a torneira da banheira aberta? Toda a água reservada para o uso exclusivo do banheiro devem ter sido gastas nestes cinco minutos, os ecológicos sentiriam ódio de mim se soubessem o quanto faço mal ao planeta. Meu relógio de pulso vibrou com o alarme de aniversário, as exatamente meia noite e poderia jurar que ainda eram dez horas, permaneci mais tempo lá do que imaginei. Estava a beira de entornar se não chegasse a tempo ensoparia todo o chão do banheiro. E secar não era um dos meus hobbies favoritos, nem de longe. Já que não poderia desperdiçar água limpa, utilizaria amanhã no banho matinal. - Okay, tudo sobre controle. Você apenas alucinou. Ninguém sai ileso depois dos vinte e um anos, vinte e dois e a idade de alucinar. Fique tranquila. - Ao tentar fechar a porta do banheiro notei que algo entre a fechadura e o chão me impediam de fechar. Quanto mais força utilizava, mais difícil estava ficando. Não era possível que agora ficaria com um banheiro sem porta, para encerrar a noite com chave de ouro.
- Hey. - Grunhidos próximos a porta me fizeram retroceder. - Não está vendo que eu estou tentando tomar um banho descente por aqui? Por que vocês humanos são tão idiotas. - A menina das mechas coloridas usava o meu roupão de banho rosa. Com a sua naturalidade incrivelmente assustadora passou por mim e entrou na banheira mantendo a postura relaxada enquanto eu estava a ponto de sair correndo de encontro a parede. Não consegui questionar, apenas apontei para todos os cantos evitando um possível surto. - Mas você..
- Antes de tudo. Apenas respire, e inspire novamente. Meu plano de saúde está vencido e se você se machucar não terei muito o que fazer. - Seus olhos azuis me trouxeram não paz, mas calma. Concordei com a cabeça. Respirando e inspirando.
- Sim, eu estou viva. E sim, estou tomando banho no seu banheiro. Não mas é claro que não estou morta, bom, eu acho. E os seus vizinhos não puderam me ouvir por que eu fui designada a aparecer somente para você. Alias eu me chamo Keise.

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⏰ Última atualização: May 26, 2021 ⏰

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Entre céus e terra. (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora