𝒘𝒉𝒆𝒏 𝒚𝒐𝒖 𝒂𝒓𝒆 𝒉𝒆𝒓𝒆

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꧁ঔৣ☬✞ Mitigação ✞☬ঔৣ꧂

As paredes da casa de Snape eram as únicas testemunhas de suas lágrimas. A casa em que estava não era mais a mesma em que morou durante sua infância e adolescência, ambas infelizes. Sua nova casa representava uma regalia de Voldemort. "Considere como uma amostra da minha gratidão pelo o que você me faz, Severus", estas foram as palavras do Lorde. Palavras estas que o comensal apreciaria se ainda permanecesse com as ideias de quando tinha vinte anos, todavia o Snape atual não poderia apreciá-las mais. Sabia que eram uma farsa.

O lugar onde Snape morava não era do mesmo patamar da Mansão Malfoy, mas tinha luxos que ele próprio não conseguiria bancar em outra ocasião. Ser o braço direito daquele-que-não-deve-ser-nomeado era algo que outros comensais cobiçavam. Queriam desfrutar do que pertencia a Severus, queriam poder, queriam a atenção de seu mestre. Tal sede provocava-os grande apatia pelo homem de cabelos negros, era explícito, mas o sentimento não os impediam de enxergar que Severus Snape era um bruxo poderoso, não iriam enfrentá-lo. Não quando foi ele o responsável por matar Dumbledore.

O certo seria estar vivenciando a glória no círculo de Voldemort, seu feito era praticamente a garantia da vitória na guerra. Culpa, luto, tristeza... para alguém que foi usado como uma marionete por tantos anos, lidar com estas sensações era de completa incoerência, devia sentir-se mais leve. Entretanto Snape gostava do velho. Ele foi a única pessoa que confiou em si e a única que quando lhe olhava via um amigo. Tê-lo morto só fazia o moreno pensar que se algum dia sua alma já foi digna de salvação, hoje ela era um caso perdido. Quando dormia, em seus sonhos ouvia a própria voz lançando o feitiço fatal, via-o caindo da torre. Severus estava cansado de acordar de seus pesadelos chorando, de estar como estava agora, com os primeiros botões da camisa branca abertos, jogado na poltrona sorvendo o líquido que possivelmente conseguisse fazê-lo esvaziar a mente caso tivesse sorte.

Aceitou matar Dumbledore a contragosto, não era como se houvesse outra opção. Porém ele também tinha feito um voto para matá-lo caso surgisse a necessidade, e o voto foi feito por motivações completamente distintas. Eram emoções contraditórias, xingou o velho diretor no momento em que este lhe fez o pedido da mesma maneira que alguém pede uma xícara de chá, porém era impossível encarar Narcissa nos olhos e proferir as mesmas palavras. Snape sabia que a mulher tinha noção dos riscos que tal atitude implicava. Sabia também que ela não agiria por impulso se não estivesse desesperada. Snape sabia, acima de tudo, que não era simplesmente por ser sua última e única opção que ela bateu a sua porta. Independente de estar em pedaços ou não, Snape jamais seria capaz de desvendar o enigma que era o de negar algo a Sra. Malfoy.

Severus poderia dizer que agiu por pena, mas estaria contando uma mentira enorme para si. A matriarca da família Malfoy não estava ali quando Snape prometeu proteger Draco. Quem estava, na verdade, era uma mulher em cacos que as órbitas negras de Snape nunca captaram antes. Ele admirava Narcissa por sempre estar impecável, via um real horror ao erro nela. Tudo em seu jeito clamava por admiração e o homem estava ali para isso.

Narcissa notava para quem os olhares do bruxo misterioso eram direcionados. Sentia-se atraída por esse mistério de Snape. Queria descobrir quem era o homem imponente por trás do rosto sem expressão. Encantava-se pelas órbitas negras e pela voz aveludada, mas não se contentava em apenas ficar observando seu encanto de longe. A maior curiosidade de Narcissa, entre tantas outras que ela tinha quando pensava em Snape, era se aqueles olhares trocados poderiam evoluir para algo maior.

Os Malfoy não eram conhecidos pela discrição, porém Narcissa sabia ser discreta quando queria. Nunca desempenhou um papel que expressasse uma relação direta com o Lorde nas reuniões com os comensais, seu objetivo resumia-se acompanhar Lucius e raramente Voldemort pedia-lhe alguma coisa ou outra, que acabavam por serem pequenas quando comparadas ao que ele ordenava aos comensais. A mulher de cabelos bicolores e olhos claros se aproveitava disso. Seria irracional chamar de liberdade, mas qualquer que fosse sua função ali era o suficiente para que seus ideais fossem se tornando mais neutros e seu interesse pelo braço direito do Lorde das Trevas aumentasse.

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