01. São margaridas e são falsas

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Não estava nos meus planos se apaixonar pelo meu melhor amigo e o pior é que eu não esperava vê-lo na mesma faculdade que eu. Ou seja, carreguei esse amor platônico por alguns anos da minha vida miserável. O que me alegrou no final do terceiro ao começo da faculdade foi que nós nos tornamos amigos meio inseparáveis. Depois, nós nos assumimos um para o outro e dias mais tarde, passamos a ter algo a mais que amizade e digo por nós dois que estávamos viciados um no outro. Só que essa amizade com benefícios não prosseguiu até que ele começou a namorar com Norman e o relacionamento deles duraram por bastante tempo e o que me deixa contente é o fato de que não fui deixado de lado nem um segundo sequer. Certa vez, seu ex-namorado veio conversar comigo e disse que Trevor não parava de falar de mim, não queria enfraquecer a amizade que nós tínhamos só porque ele começou a namorar. Devo confessar que fiquei um pouco feliz ao saber que tinham terminado, no entanto, senti meu coração se partir vendo meu melhor amigo tão melancólico.

Eu caminho totalmente desnorteado pela minha casa, sem rumo e muito entediado. Bufo já começando a me irritar com minha própria presença. O confinamento está me deixando muito, mas muito maluco e não duvido mais das minhas limitações e do que sou capaz de fazer. Pensando bem, já está na hora do almoço e se eu preparar alguma coisa, pelo menos estarei ocupando minha cabeça com alguma coisa e talvez acarrete em pouco tempo para minha pessoa surtar, já que tomarei alguns minutos do dia cozinhando. Posso estar sentindo muita preguiça no momento e eu poderia poupar energia pedindo delivery, só que o tempo que vou ficar esperando até chegar será crucial demais para alguém inquieto e perturbado como eu.

Antes de começar a organizar tudo que acho necessário para fazer o almoço, eu pego meu celular e procuro por alguma playlist e logo encontro uma no Spotify que contém alguns dos maiores hits da Rihanna, resolvo começar com "Diamonds". Deixo meu celular sobre a mesa e em seguida vou até a geladeira, abrindo-a e observando o que há no seu interior com muita cautela, em razão de que quero preparar algo que me faça passar bastante tempo em ação.

Os dias em casa mexeram tanto com minha cabeça que já nem sei mais o que quero cozinhar e nem o que comer. Que droga!

Suspiro irritado e dou uma pausa na música, sendo surpreendido com uma ligação de alguém absurdamente importante para mim e que não posso viver sem.

— Oi, Adam. — Trevor diz do outro lado da linha e logo noto um tom meio desanimado e de cansaço em sua voz. Sinto que algo aconteceu e tenho certeza que não é por causa da tortura de ficar em casa o dia inteiro.

— Oi, Trevor. — Respondo, encostando-me na pia e olhando fixamente para uma das paredes pintadas de azul bebê da cozinha — Pela sua voz, sinto que alguma coisa está te chateando. Estou certo?

— Ah... Você me conhece tão bem, baixinho. Sim, está certo.

— Quer me contar o que houve?

Faço de tudo para que minha preocupação não saia tão descarada assim e espero que ele não se incomode com isso, mesmo eu já sabendo que o Trevor saiba que me preocupo muito com ele. Ouço ele respirar fundo e acredito que ele tenha fechado seus olhos, como se estivesse caçando as palavras mais adequadas e coerentes para começar a relatar.

— Meus pais me irritaram com piadinhas muito desnecessárias e horríveis em relação a minha homossexualidade. Tudo começou no café da manhã com as provocações que eles sempre fazem, só que vale ressaltar que eu não acordei de bom humor, então não demorou muito para eu praticamente querer explodir de tanta raiva. Depois, durante o almoço, foi quando eu realmente explodi. Adam, eu não aguento mais isso. Até larguei o prato na mesa, perdi o apetite total, não estava aguentando ficar lá e se eu me forçasse a comer, passaria mal com certeza. Eu trabalho, pago minhas contas e ainda faço o possível para ajudar aqui em casa para todos nós nos mantermos em pé por mais alguns anos e é isso que recebo em troca. Não sei mais o que fazer para mudar a cabeça do pessoal aqui de casa, realmente não sei. Estou começando a achar que deveria ter sido melhor eu ter feito economias e depois comprado minha própria casa, só que demoraria muito para isso acontecer também devido ao meu salário. Minha irmã sempre me apoiou, sabe? Porém, nossos pais encheram a cabeça dela e agora minha própria irmã está sentindo repulsa em mim. Ela costumava ser meu diário, eu sabia que podia contar com ela. Era minha melhor amiga. — Percebo pela voz embargada sua luta contra a vontade de chorar e isso quebra o meu coração em incontáveis pedaços — Enfim, eu quero sumir, Adam.

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