I. McPretty

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As pessoas falam muito sobre os cinco estágios do luto – negação, raiva, barganha, depressão e, por fim, a aceitação. Existem estudos sobre e as faculdades de psicologia debatem constantemente as melhores formas de passar sobre cada um deles. Mas há uma fase, uma pequena e às vezes ignorada, que poucos pontuam: a fuga.

Lena Shepherd definitivamente estava nessa etapa: tinha passado pela negação, raiva, barganha e depressão com excelência e experiência de outras perdas. Porém, quando tudo se encaminhava para a aceitação, ela soube que era impossível ficar na cidade onde havia perdido quase tudo. Então, agarrou sua própria dor e fugiu. Correu para o mais longe que poderia.

Pelo menos, era isso que usava como a perfeita e plausível desculpa para ter redigido uma carta de despedida enviada por e-mail ao seu chefe, feito suas malas sem comunicar seus amigos e escapado no meio da noite até o aeroporto mais próximo, torcendo para que Derek recebesse suas mensagens a tempo. A sorte, daquela vez, estava ao seu favor, pois quando pousou em Seattle seu irmão a esperava no desembarque, com um sorriso mesclado por uma pena que ela fingia não ver.

E, poucos dias depois, ela estava bem instalada em um quarto de hotel, com uma oferta de emprego no Seattle Grace Hospital, um novo número de telefone, deixando para trás as mil ligações perdidas no antigo e, por fim, algum tipo de perspectiva sobre o que fazer em seguida. Ainda que se sentisse em fuga, pelo menos agora havia uma rotina diante de si que não a fazia correr em disparada sem destino.

É claro, as coisas nem sempre saem da maneira que esperamos...

— Vocês souberam das novidades? — Meredith exclamou, parando próxima aos seus colegas internos, que lhe responderam com alguns murmúrios — A nova chefe da cardiologia acabou de chegar, todo mundo no primeiro andar está falando sobre isso.

Cristina, atraída pela ideia de ter uma nova atendente em sua área favorita, ergueu o olhar, virando-se para encarar o elevador, onde há qualquer segundo a nova médica surgiria.

— Espero que ela seja melhor que Burke — comentou, sabendo que sua fala soava um pouco amarga ao relembrar do médico com quem havia tido um caso no último ano, antes dele sair da cidade e deixa-la, sem explicações.

Para a satisfação da ansiedade dos internos, logo as portas do elevador se abriram, revelando uma elegante mulher de brilhantes cabelos escuros, caminhando calmamente sobre seus saltos altos. Os olhos azuis dela esquadrinharam o ambiente desconhecido, procurando por alguma figura conhecida.

— Ela é bonita — Izzie notou, recebendo um resmungo de concordância de George, parado ao seu lado — e um pouco familiar, não acham?

Antes que algum de seus colegas pudesse responder sua observação, uma exclamação da nova atendente logo esclareceu a todos as semelhanças que viam, para a surpresa de quase todos, exceto de Meredith.

— Irmão! — ela chamou, fazendo com que Derek se virasse para trás, se aproximando da garota. Algumas pessoas se voltaram para eles, murmurando sem o antigo esforço de parecerem discretas: ninguém realmente esperava uma nova Shepherd no hospital.

— Irmãzinha — respondeu, chamando-a daquela maneira que sempre a fazia torcer o nariz, antes de estender um copo extra de café que havia pegado mais cedo. Se bem conhecia Lena, e o fazia, uma dose extra de cafeína nunca era demais para começar o seu dia.

— Não me chame de irmãzinha — resmungou —, mas obrigada pelo café... e por ter falado de mim para Webber — é claro que o chefe de cirurgia já tinha ouvido sobre a jovem Shepherd muitas vezes: havia sido uma aluna brilhante da Columbia, a melhor interna de sua época e a residência em New York havia lhe proporcionado um reconhecimento incrível na área de cardiologia. Ter Derek falando ao seu favor era apenas um ponto extra bem-vindo.

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