Pesadelos são considerados uma criação do seu subconsciente construídos por pequenos conceitos daquilo que consideramos mais assustador. Se alteram conforme crescemos, porque também mudam nossos focos, nossas percepções e descobertas sobre o mundo e temores.
Com seis anos, Lena Shepherd sonhava com o barulho alto de uma arma e o som de uma porta batendo repetidamente, antes de um completo escuro, porque haviam sido as sensações que tinha experimentado aos quatro anos quando seu pai sofreu um assalto, fazendo com que seu irmão a trancasse no armário da loja da família para que ela não visse o homicídio que se seguiu.
Com dezessete anos, esses sonhos se mesclavam as inseguranças de sua idade: não passar no vestibular; Amélia, sua irmã, tendo outra overdose; sua família descobrindo sobre sua sexualidade da pior maneira possível ou, ainda mais assustador, Derek notando a paixão platônica que ela tinha pela esposa dele.
Enfim, crescemos. E conosco, nossos medos.
Aos vinte e nove anos, suas noites eram preenchidas por flashs de faróis, barulhos de freios e lágrimas. Às vezes, interrompidas pelos seus próprios gritos ao acordar, suando e se esforçando para recuperar a respiração. Suspirando, naquela terça-feira, quando os pesadelos a haviam despertado mais uma vez, ela chutou as cobertas para longe, se levantando e indo até o banheiro para uma ducha rápida.
— Preciso da minha própria casa — murmurou pra si mesma, deixando a água gelada clarear seus pensamentos, enquanto se esforçava para que sua mente voltasse do lugar sombrio que havia ido parar com as memórias trazidas pelo pesadelo.
Estava prestes a testar as respirações supostamente calmantes que o terapeuta de New York havia lhe passado, quando seu celular vibrou em cima da bancada. Se esticando e deixando escapar alguns xingamentos baixos, ela ergueu o aparelho com a ponta dos dedos, vendo que era uma mensagem de uma de suas internas falando sobre uma parada cardíaca que um dos seus pacientes havia tido.
— Mas que merda — exclamou, desligando a água e puxando uma toalha. Seu quarto de hotel estava uma verdadeira bagunça, fazendo com que agarrasse as primeiras roupas que encontrou e a bolsa, antes de escapar para fora, chamando um Uber até o hospital.
Para sua sorte, seus internos já haviam descoberto seu ritmo de funcionamento nos últimos dias e Cristina Yang lhe esperava com um copo de café na entrada, ignorando qualquer formalidade de "bom dia" e "como vai?" ao passar a disparar informações sobre os quadros clínicos mais graves assim que ela pisou dentro do Seattle Grace.
— Senhor Lincon parece estar se recuperando da parada, fizemos os procedimentos padrões e entramos em contato com a central de transplantes, mas falaram que ainda não possuem nada disponível para ele — lhe disse, acompanhando-a conforme atravessavam apressadamente o saguão. Lena segurou uma risada ao ver a interna intimidar outro que quase cruzou a frente delas para o elevador —, ah e a doutora Montgomery-Shepherd pediu uma consulta de urgência também, um caso que recebeu essa manhã, ainda não tenho o prontuário, mas posso...
— Não precisa — Lena a cortou, puxando o celular do bolso e mandando uma mensagem para Addison, confirmando se estava na UTI neonatal que Richard havia montado exclusivamente para ela —, você não vai me acompanhar nessa consulta.
— O quê? Mas... — pelo olhar indignado de Yang, a atendente logo viu que teria longos protestos pela frente, sendo rápida em silencia-la com um olhar impaciente, assim que as portas do elevador se abriram, mantendo-as assim com a mão livre.
— Você vai monitorar o senhor Lincon enquanto faço a consulta para Addison. Infelizmente não posso estar em dois lugares, mas pelo o que ouvi falar de seu trabalho com o doutor Burke, você é uma das poucas internas do último ano capazes de mantê-lo vivo até o transplante, então posso confia-la nisso, doutora Yang? — perguntou, vendo-a arregalar os olhos de surpresa pela tarefa, assentindo rapidamente.
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be my mistake
Romance- Já souberam? A irmã caçula de Derek está na cidade, será a nova chefe da cardiologia - sussurros como esses receberam Lena Shepherd no Seattle Grace nos minutos em que seus saltos altos cruzavam o lobby em direção ao que deveria ser seu recomeço. ...