𝗧𝗢𝗚𝗘𝗧𝗛𝗘𝗥

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shivani paliwal

─ Por que você me disse tudo isso? ─ eu precisei perguntar, depois de um tempo.

─ Porque eu quero que você entenda que tudo depende de você agora. ─ ele disse, me olhando sério. ─ Você pode sair daqui e fingir que isso nunca aconteceu. Ou... ─ ele pegou minha mão novamente. ─ A gente pode... sei lá... tentar fazer isso funcionar.

─ Você quer dizer... ficarmos juntos? ─ eu perguntei, sem saber se me apavorava ou começava a fazer uma dancinha feliz no estilo Chandler Bing.

─ Isso. ─ ele respondeu, me olhando com expectativa.

Eu respirei fundo antes de continuar.

─ Você ao menos sabe fazer isso? ─ eu perguntei. Eu me sentia mal por ter que perguntar, mas precisava da resposta.

Josh não pareceu ofendido com a minha pergunta, mas também não parecia ter gostado dela.

─ Como assim? ─ ele perguntou.

─ Bem, você sempre me pareceu meio...

─ Galinha? — ele perguntou, levantando uma sobrancelha. Eu assenti, sorrindo como quem pede desculpas, e ele revirou os olhos. ─ E você chegou a essa conclusão depois de nossa longa convivência de um ano? ─ o tom dele pingava sarcasmo.

─ Você me conhece há um ano e tem várias conclusões sobre mim. ─ eu disse, em tom defensivo.

─ É diferente, eu presto atenção. E não te julgo só pelo que aparenta ser verdade. ─ ele argumentou. ─ Eu confesso que andei saindo com muitas garotas, sim. Mas não porque eu tenho alergia a compromisso ou algo assim. É só que... bom, eu sou um cara. Todo homem quando tá solteiro e não é totalmente deformado acaba pegando um monte de mulher por aí, é meio inevitável. Se põe no meu lugar. Você é um cara solteiro, não pode ficar com a garota que você quer e tem um bando de mulher atrás de você. O que você faria?

Eu tentei engolir a onda de ciúme doentio que se apossou de mim ao imaginar Josh solto por aí e à mercê das devoradoras de homens dessa cidade, e precisei admitir que não podia culpá-lo.

─ Eu precisava me distrair de alguma forma. ─ ele continuou. ─ Ficar sozinho e tendo que te ver todos os dias me deixaria maluco. E, sério, nem foram tantas garotas assim. Eu não tenho nenhum problema com monogamia. Pra sua informação, já tive uma namorada e só terminou porque ela me largou. Pra ficar com outro cara, e não por algo que eu tenha feito.

─ E você ainda pensa nela? ─ eu perguntei, antes que pudesse me controlar. Josh riu.

─ Ciúmes? ─ ele perguntou, me lançando aquele sorrisinho insuportável. Eu só revirei os olhos. ─ Relaxa, já faz um tempo, eu superei. Foi bem antes de te conhecer.

─ Mas e se a gente ficar junto e você resolver que era mais feliz galinhando? ─ eu perguntei, um pouco emburrada.

─ Ô criatura difícil, meu Deus. ─ disse Josh, olhando pro teto antes de voltar o olhar novamente pra mim. ─ Shiv, eu já supri minha cota de poligamia. Sério. Se você quiser ficar comigo, eu não vou querer mais ninguém. Achei que já tinha deixado claro que é de você que eu gosto. Eu quero você comigo, e não só por uma tarde. Isso é claro o suficiente pra você? ─ ele perguntou, parecendo exasperado.

─ É. ─ eu disse, sorrindo. Porém meu sorriso murchou no momento seguinte. ─ Mas eu ainda vou ter ir pra Yale em breve.

─ Você já reparou que você só fala "preciso ir pra Yale", "tenho que ir pra Yale" você nunca disse "eu QUERO ir pra Yale"

─ Isso é porque eu não tenho certeza. ─ eu admiti, sentindo as palavras que eu andava sufocando há dias finalmente se libertarem. Josh não disse nada, apenas me olhou como se aguardando que eu dissesse mais. Suspirando, eu continuei. ─ Você estava certo, sabe? Quando disse que eu nunca me divirto. Quando disse que eu tenho algum problema com o meu pai. Na verdade você estava certo sobre muitas coisas.

─ Você logo vai descobrir que eu sempre estou certo. ─ ele me interrompeu, sorrindo. Diante do meu olhar feio, ele abaixou a cabeça e deixou o lábio inferior formar um meio biquinho, enquanto tentava conter um sorriso. ─ Ok, desculpa, pode continuar.

Eu ri, e não pude resistir a inclinar o rosto e beijá-lo. Ele sorriu e me abraçou, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro enquanto eu terminava minha história.

─ Meus avós paternos se conheceram em Yale. Eles sempre quiseram que meu pai fosse pra lá, mas ele não conseguiu entrar. Ele se contentou com a Universidade de Seattle, mas no fundo nunca se perdoou por não ter conseguido. Tinha se tornado o sonho dele também, sabe? ─ eu disse, começando a brincar com meus dedos no peitoral de Josh. Parte de mim estava ciente de que ambos continuávamos sem roupa, mas a maior parte não se importava. ─ A frustração só piorou depois que os pais dele morreram em um acidente dois anos depois de o meu pai começar a faculdade. É por isso que desde que eu me entendo por gente ele fala de Yale, me incentiva a ir pra lá. Sabe, eu mal conheci minha mãe, e meu pai sofreu muito pra me criar. Por isso eu sou tão ligada a ele, e saber que ele queria tanto algo assim colocou a idéia na minha cabeça. A gente faz planos sobre isso desde que eu era criança. E assim passar pra Yale se tornou meio que o meu objetivo de vida. Eu tive crises de ansiedade esperando o resultado sair. Mas quando aquela carta chegou, e eu vi que estava aprovada, não me senti feliz. Nem triste. Eu não senti nada. ─ eu expliquei, me aconchegando mais contra o corpo de Josh. ─ Foi como o fim de um filme, sabe? Durante minha vida toda eu tive um objetivo, e agora que o havia alcançado, parecia o fim. Não sabia o que fazer depois desse ponto. Nunca pensei direito no que eu faria depois de entrar pra Yale. Eu nem procurei conhecer outras faculdades, nem pensei no que queria fazer da vida. E aí eu comecei a perceber quanta coisa eu tinha perdido. Eu estive tão obcecada com estudar, tão dedicada às minhas mil atividades extracurriculares que não saí com meus amigos tanto quanto deveria ter saído. Não fiz tanta besteira quanto devia ter feito.

─ Por isso você ficou tão descontrolada quando eu joguei isso na sua cara hoje mais cedo? ─ ele perguntou parecendo culpado, e eu assenti. ─ Desculpa, Shiv.

─ Você já pediu, do seu jeito estranho. ─ eu disse, rindo. ─ Tá tudo bem... É só que agora eu sou maior de idade, tô indo pra uma faculdade que eu nem sei se quero de verdade e sinto como se tivesse perdido a chance de ser adolescente, entende? De cometer erros e aprender com eles. Meus namoros nunca duravam porque eu não me deixava envolver, não arriscava... E agora eu tô assustada. Eu não sei o que quero fazer, e tenho medo de me arrepender se deixar as coisas continuarem acontecendo desse jeito...

─ Que jeito? ─ Josh perguntou, acariciando meu cabelo.

─ Desse jeito. Primeiro a escola, depois ir direto pra faculdade, e então começar a carreira. Não tem pausa. Não tem nenhum período na nossa vida entre as responsabilidades. E eu tenho medo de acordar um dia com sessenta anos e descobrir que eu nunca vivi minha vida. Nunca tive um tempo só pra viver, sem preocupações. Entende o que eu quero dizer?

─ Entendo. Por isso eu e os caras vamos viajar no fim do ano... ─ Josh respondeu, fazendo uma pausa como se escolhesse as palavras. ─ E você se quiser, claro, podia vir com a gente.

De início eu achei que ele não falava sério. Mas ao levantar um pouco a cabeça e vislumbrar sua expressão nervosa, eu entendi que ele não estava brincando.

─ Ir com vocês?

𝗧𝗵𝗲 𝗖𝗮𝗸𝗲 || 𝗕𝗲𝗮𝘂𝗹𝗶𝘄𝗮𝗹Onde histórias criam vida. Descubra agora