Prólogo

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As coisas não acontecem como a gente quer, nem mesmo como a gente não quer, as coisas nunca pedem a nossa opinião, e sinceramente o universo está se lixando sobre o que queremos ou deixamos de querer. E isso eu só percebi tarde demais em um colapso mental de exaustão e ansiedade a espera do e-mail que iria decidir o futuro da minha vida. Sempre pensei e idealizei que seria como naquelas cenas de filmes onde a mocinha fica observando pela janela todas as manhãs se o carteiro vai chegar com a tão sonhada carta da universidade, e quando o mensageiro do meu destino finalmente desse o ar da graça, eu iria correr ainda de pijama para fora de casa, descalça e descabelada pronta para saber qual seria o triunfante e incrivelmente excitante rumo da minha vida.

Mas a carta não ia chegar nunca porque infelizmente não se manda mais carta e sim e-mail...uma carta digital. Bem, o meu futuro já estava começando a ser frustrante.

Naquela época eu recebi o melhor conselho da minha vida e o consagrado por isso foi o Sr. Leon, um contador que trabalhava nas horas vagas como voluntario na sinagoga que minha família frequentava, pois é minha família é judaica. Mas voltando ao melhor conselho da minha vida, era um domingo chuvoso e o senhor que não era tão velho assim apesar dos cabelos grisalhos e da barba, encontrou-me chorando encolhida atrás de um dos aparadores de madeira em um dos corredores da sinagoga. Na época, eu estava passando por um drama adolescente pessoal, não pretendo entrar em detalhes, no entanto vou me ater em explicar que envolvia um garoto que dançou comigo na festa de bar-mitzvá do meu irmão mais novo, roubou meu primeiro beijo, e meses depois descobri que ele havia beijado todas as garotas do bairro. Meu coração de 18 anos estava quebrado, pode parecer só drama adolescente afinal foi só um beijo, "não é nada demais", contudo pra mim era sim "tudo demais", sempre idealizo demais e crio expectativas, sonhava com um primeiro beijo perfeito embaixo de chuva ao som de Frank Sinatra onde o desejo e o amor seriam palpáveis, entretanto, a realidade foi frustrante, nem mesmo meu pé levantou como nos filmes...novamente a vida me mostrava que a realidade é como um balde de água fria em um dia frio de inverno.

Não era só o meu coração que estava atormentado pela desilusão amorosa, minha mente também não estava das melhores naquela época, a ansiedade a mil batia na porta com o final do ensino médio, provas finais e a resposta da universidade. Sem contar a parte de que minha família me pressionava todos os dias sobre o curso de medicina, segundo eles eu deveria seguir a carreira médica e só assim séria feliz. O problema é que o significado de felicidade para eles sempre foi completamente diferente do meu, para minha mãe ser feliz é ter uma família exemplar, não perfeita afinal somos humanos e ninguém é perfeito, mas uma família unida. Já para meu pai a felicidade se resume em estabilidade financeira e contas pagas, para ele a vida precisa ser planejada, cada passo e cada atitude precisa ser pensada, visto que para cada ação a uma reação.

Mas para mim felicidade não tem nada a ver com família ou dinheiro, felicidade é algo muito maior do que isso. A felicidade é um sentimento genuíno que vem de dentro de cada um, estar feliz não depende de bem materiais ou se esforçar ao extremo para fazer com que sua família pareça uma família de comercial de margarina. Na verdade, para mim felicidade é poder aproveitar os pequenos e simples momentos da vida, sei que pode soar clichê, mas é a pura verdade...pelo menos a minha verdade. Não há nada melhor do que sentir o aroma de uma bela flor, sentir a brisa bagunçar o cabelo, abraçar alguém que transmite paz e segurança, ou até mesmo beber um copo de água gelada quando está com muita sede. A felicidade é tão simples, nunca entendi porque as pessoas gostam de complicá-la.

Voltando novamente ao conselho do Sr.Leon, quando ele me encontrou naquele estado abalada com os olhos inchados e o nariz vermelho por chorar, calmamente me puxou de lado e disse em um tom sereno: "A coisa mais importante a se lembrar, Valentine, é não levar a vida tão a sério". Naquela hora minha mente entrou em turbulência, as palavras soaram como um redemoinho arrastando tudo. Espera aí, eu pensei. Meu coração está em pedaços por causa de um garoto, e estou prestes a ser expulsa de casa quando meus pais descobrirem que ao invés de me escrever para uma faculdade de medicina aqui em Massachusetts, eu me candidatei para o curso de artes em Londres; e o seu conselho para mim é "não leve a vida tão a sério?", "você está louco?". Claro, a verdade e a sabedoria do conselho dele passaram despercebidas por mim naquela época, mas nunca esqueci aquelas palavras. Na verdade, elas se tornaram um lema pelo qual eu guiei os próximos meses e anos da minha vida.

Me ensine como amarWhere stories live. Discover now