Papai disse que ia chover, mas quando olho para a janela—o que venho fazendo durante os últimos vinte minutos da aula de Álgebra II—, vejo apenas um céu azul limpo quase sem nuvens. Minha cor favorita. Volto a olhar para o relógio em cima do quadro e suspiro, ainda faltam mais dez minutos. Dez eternos minutos para a aula terminar.
Me debruço na mesa com a cabeça deitada nos meus braços e tento olhar para a janela. Porém Madison atrapalha meu campo de visão e então eu fecho os olhos e só abro quando ouço o alvoroço dos alunos correndo para o intervalo. Antes mesmo de o sinal tocar.
Me apresso em direção ao meu armário, mas tento fechar a mochila preta cheia de bottons das minhas bandas favoritas enquanto ando. Sinto a fincada do baque com livros alheios antes de tudo cair no chão, eu inclusa. Nem ouso olhar para a pessoa, apenas me apresso em pegar os livros que estão no chão, e é então que pego um caderno pequeno aberto do chão com um desenho que tento decifrar mas não consigo. É mórbido e colorido ao mesmo tempo.
— Será que dá pra me devolver?
Por um momento esqueci da pessoa parada ali na minha frente também ajoelhada. Ergo meu olhar para ver um Taras Dun bastante irritado. Ele está de preto como sempre. E percebo que ele tem pintas que descem pelo maxilar. Nunca fiquei tão perto assim dele, de nenhum outro menino, se é que isso importa.
Faço menção de devolver o caderno de desenhos pra ele ao que ele arranca da minha mão e desaparece na multidão de alunos como num passe de mágica. Mas ainda consigo sentir o cheiro do perfume dele, agridoce e forte.
Não penso que ele deveria ter sido mais educado, afinal ninguém nessa escola o é. Mas nunca em um milhão de anos pensaria que Taras Dun desenhava e era bom nisso. Balanço a cabeça como se pudesse mandar embora a parte de mim que acha isso legal.
Vou o mais rápido que consigo em direção à piscina depois de deixar meus materiais no armário. E quando estou prestes a trocar de roupa no vestiário escuto um splash! que só pode ser alguém pulando na piscina. E pelo barulho a pessoa só pode ter pulado do trampolim. Corro o mais rápido que consigo em direção à piscina prestes a dizer à pessoa que o treinador não deixa entrar fora do horário do treino da equipe.
No entanto, ao chegar na área da piscina não vejo ninguém. Até escutar os sons de água novamente e vejo no meio da piscina alguém se debatendo. Se afogando. Eu nem penso, corro o mais rápido que consigo e pulo na piscina. Nado até o menino que está se afogando, mas quando chego nele já está desacordado.
Uso toda a minha força para puxá-lo para a beirada da piscina e com muito esforço consigo. Retomo o fôlego e subo para ficar ao lado dele e percebo que o menino apenas de cueca diante de mim é Taras. Olho ao redor e consigo ver as roupas pretas do outro lado da piscina.
Tento me lembrar o que aprendi de primeiros socorros no acampamento de verão, no verão passado. Fico de joelhos ao lado dele e tento me lembrar da RCP. Coloco minhas mãos com os dedos entrelaçados rentes ao tórax dele e faço o RCP durante o que eu acho que são dois minutos. Respirei fundo e resolvi tentar a ventilação artificial. Ressuscitação boca a boca. Começo a revezar entre a ventilação e a RCP e quando estou me aproximando do rosto dele novamente, Taras começa a tossir e cuspir a água da piscina na minha cara.
Finalmente apoio minha mão no chão e recupero o fôlego aliviada. Segundos depois Taras também olha pra mim, parece desnorteado. Eu sei que vítimas de afogamento tendem a ter amnésia e até mesmo hipotermia depois do acontecido.
— Merda! — Xingo enquanto saio correndo até o vestiário para pegar minha jaqueta da equipe de natação que é dois números maior do que eu visto. Volto correndo e Taras está no mesmo lugar. Eu me ajoelho ao seu lado e passo a jaqueta pelos seus ombros, ele não rejeita ou é grosso como foi mais cedo. Depois que me afasto ele apenas passa os braços para dentro da jaqueta e os cruza fazendo movimentos para se esquentar. Seus olhar não desviou do meu. Não sei no que ele está pensando e isso me deixa desconfortável.
— V-você é louco? Podia ter morrido só de pular do trampolim! — Agora que ele está bem e acordado não me sinto à vontade de encará-lo por estar apenas de cueca e com a minha jaqueta da equipe. Ele não responde, apenas o vejo tremer de frio. — Eu vou chamar alguém. — Quando já estou me levantando sinto sua mão segurar o meu braço. Me assusto, não porque ela está gelada, mas pelo toque. Fico paralisada apenas esperando o que quer que venha a seguir.
— Obrigado. — Percebi o leve sotaque russo na palavra quase sussurrada. Também percebi o tom verde arroxeado debaixo do seu olho direito. Me pergunto se é por causa do hóquei. — O que foi?
Eu devo ter dado indícios de preocupação. Como eu odeio ser expressiva demais. Noto que sua mão ainda está segurando o meu braço. E ele a tira rapidamente.
— Você pode ter hipotermia, acho melhor ir na enferma...
— Eu estou bem. — Ele diz e dá indício de se levantar, eu acabo me levantando ao mesmo tempo que ele. E o sigo até ele se abaixar para pegar suas roupas do outro lado da piscina e se virar pra mim.
— Você me beijou. — Ele diz e coloca seu dedo indicador no lábio inferior.
— Foi ventilação ar... — Resolvo ir pelo termo mais conhecido quando vejo a confusão na expressão de Taras. — Respiração boca a boca. Eu não sabia o que fazer, você... — Parei de falar quando o vi sorrir e sei que estou ficando vermelha porque meu rosto está super quente.
— Não era para você estar aqui. — Ele balançou a cabeça.
— Mas você estava... você se afogou!
— Obviamente. Eu não sei nadar. — Ele falou como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Então, por quê você... — Entendo tudo no meio da frase. As roupas pretas. O lápis no olho. Como aquele desenho parecia ser mórbido demais. O fato de ser o mais agressivo do time nos jogos de hóquei. Não consegui terminar a frase, nem dizer a coisa certa. Ele deve ter notado a realização no meu rosto porque esboçou um sorriso.
— Até que você é esperta, Syniy. — Não perguntei o que aquela palavra significava, nem tinha certeza se queria saber. Apenas observei enquanto Taras deixava o lugar. A porta se fechou atrás dele com um baque e eu me sentei no chão olhando para a piscina. Sabia que minha mãe me xingaria mais tarde por pegar um resfriado, mas não queria sair dali.
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She makes me trip
ActionÉ um spinoff da história runways, e vai contar a história de Skyler e Taras, sobre dois jovens cheios de sonhos e esperanças de um futuro brilhantes e o que a vida realmente guarda para eles.