She makes me trip

You're like a dream come true

Jimmy continua tentando dar em cima de mim enquanto estou tentando me concentrar em uma pintura em particular, para disfarçar a dor que estou sentindo no meu ombro. Preciso urgentemente trocar o adesivo. Se ao menos Keanu fizesse o papel de um namorado decente, eu não precisaria ter vindo à galeria com Alec—para ele conhecer pessoalmente a menina que vinha conversando há meses em um jogo online. Alec não estava em nenhum lugar que minha vista alcançava.

— Então, qual é a da câmera? — Pergunto a Jimmy mais para distrair do que por qualquer outra coisa.

— Ah, — ele pega a câmera pendurada no pescoço com a mão finalmente se lembrando que ela estava ali. — eu deveria documentar essa exposição. Faz parte da minha tese. — Estou realmente impressionada com tudo o que vi até agora. Nunca fui à Universidade, apesar de fazer alguns cursinhos ou algumas aulas aqui e ali. — E meu projeto como aluno de Artes Visuais é, você sabe...

— Documentar. — Ele assente com um sorriso. — Eu não estou na vida acadêmica, se é isso o que quer me perguntar desde que se aproximou. — Ele levanta as mãos para o alto e faz uma expressão irônica de surpresa, o que eu acho hilário.

— Nem passou pela minha cabeça. Mas... O que você faz então?

— Por favor, não me diga que você é uma daquelas pessoas que acham que é errado não fazer faculdade porque senão...

— Não, não... — Ele se apressa em me interromper. — Eu só estou curioso. Quero dizer, você é gostosa e diz o que pensa. Eu definitivamente quero te conhecer melhor. — Eu solto uma risada, gosto de como ele é direto.

— Tudo bem, eu sou uma ativista. — Jimmy ergueu as sobrancelhas obviamente interessado. — Já fui presa uma vez na Ásia por protestar contra a caça aos golfinhos e às baleias que é tipo bem absurda lá.

— Espera, o quê? Isso é sério? — Eu assinto seriamente com a cabeça para dar credibilidade.

— Foram os dois meses mais longos da minha vida! Juro que achei que ia morrer, mas aqui estou eu. — Sorrio tentando aliviar o clima, mas pela expressão no rosto de Jimmy ele parece impressionado.

— Uau! Então, você é basicamente a capitã Marvel das baleias. — Eu rio enquanto continuo andando para poder ver mais obras da exposição e para que Jimmy possa tirar mais fotos ao invés de ficarmos apenas papeando. Paro de rir quando vejo a pintura que está à minha frente.

— O que foi? Parece que viu um fantasma! — Não presto atenção no que Jimmy disse. Na verdade, até paro de escutar o burburinho das pessoas ao nosso redor, a maioria universitários como Jimmy. Não é exatamente uma pintura, mas uma colagem de várias pinturas de rosto, perfil, cabelo, corpo de uma menina de cabelo azul. O que me assusta não é a semelhança da obra comigo, mas sim o título. Siniy. — Você gostou dessa? — Jimmy perguntou depois de tirar uma foto da obra. Eu apenas assinto. — O artista dessa é meu colega de apartamento, — desvio o olhar da obra para encarar Jimmy prestando total atenção nele pela primeira vez desde que nos conhecemos. — T., ele é meio emocionado, mas um ótimo artista. — Molho o lábio inferior e depois os comprimo me impedindo de perguntar qualquer coisa naquele momento. — Eu só não entendo o que esse título quer dizer. Siniy.

— Azul. — Traduzo o que a palavra quer dizer em russo—aquele apelido carinhoso que Taras me chamou por três anos. Já faz oito anos que eu sequer ouço essa palavra—ao mesmo tempo que alguém também diz.

— Eu não sabia que você sabia russo. — Jimmy diz ao mesmo tempo em que me viro para ver alguém familiar e ao mesmo tempo um completo estranho. Alguém que não via há oito anos. Taras está usando uma touca preta, mas não consegui ver vestígios do seu cabelo encaracolado. Ele não é mais aquele garoto magricelo do Ensino Médio enquanto eu ainda pinto o cabelo da mesma cor todo mês. Desvio o olhar dele para Jimmy para finalmente responder a sua pergunta. Me culpo por me sentir tão envergonhada.